Forças Armadas Brasileiras simulam guerra real no coração da Amazônia com supertucanos, mísseis, snipers camuflados e granadas em exercícios militares de sobrevivência na selva

O coração da floresta amazônica se transformou em palco de uma operação militar de grande escala que simulou uma invasão ao território brasileiro. A ação envolveu as três Forças Armadas — Exército, Marinha e Aeronáutica — e teve como objetivo testar os limites da estratégia e do preparo das tropas nacionais. Os exercícios aconteceram em uma região estratégica localizada na Serra do Cachimbo, no estado do Pará, área que abriga uma das maiores bases militares do país.
A missão começou com a simulação de uma força estrangeira invadindo parte do território nacional. Diante da ameaça, tropas brasileiras foram mobilizadas com rapidez, dando início a uma série de ações coordenadas que incluíram voos rasantes, lançamentos de mísseis antiaéreos, desembarque de soldados em áreas de selva e ataque aéreo a alvos inimigos. A simulação exigiu precisão e agilidade, utilizando o que há de mais moderno em tecnologia e equipamento das Forças Armadas.
Entre os destaques da operação esteve o uso do maior e mais moderno avião já construído no Brasil, o cargueiro KC-390 Millennium, da Força Aérea Brasileira. A aeronave foi responsável pelo transporte de tropas e equipamentos, e também demonstrou sua capacidade de abastecimento aéreo — permitindo que helicópteros e outros aviões mantivessem suas missões sem necessidade de pouso. O KC-390 ainda pode ser transformado em uma unidade de terapia intensiva aérea, reforçando sua importância logística em situações de emergência.
O controle do espaço aéreo foi um dos pontos-chave da simulação. De acordo com os militares envolvidos, se o inimigo conseguisse tomar e instalar radares no território invadido, a retomada da área pelas tropas terrestres se tornaria muito mais difícil. Isso porque o domínio aéreo permitiria bombardeios constantes contra as forças brasileiras. Por esse motivo, caças A-29 Super Tucano foram acionados para identificar e destruir os equipamentos inimigos antes da chegada das tropas por terra.
Exército, marinha e aeronáutica atuam juntos em terreno hostil da floresta amazônica
No interior da selva, os militares brasileiros enfrentaram condições extremas de umidade, calor e vegetação densa. As tropas especiais da Aeronáutica e da Marinha estavam equipadas com armamento pesado e usaram técnicas de camuflagem para se esconder na mata. Atiradores de elite se posicionaram em pontos estratégicos, monitorando qualquer movimentação. O confronto simulado exigiu precisão e resistência física dos soldados.
Além do combate direto, unidades antiaéreas também foram acionadas para proteger o espaço aéreo. Os militares instalaram radares e sistemas de defesa em áreas específicas da floresta, com o objetivo de detectar e abater qualquer aeronave inimiga que se aproximasse. O avanço terrestre começou com a utilização de granadas, abrindo caminho para que os soldados pudessem progredir na direção dos supostos invasores.
A operação fez parte do treinamento chamado Operação Meridiano, organizado pelo Ministério da Defesa. Durante os exercícios, todo o armamento utilizado era real, o que aumentou o grau de dificuldade e o realismo da simulação. Participaram das ações militares integrantes de forças especiais que já atuaram em operações no Rio de Janeiro, no combate ao garimpo ilegal e também em missões humanitárias no exterior, como no Haiti.
O campo de provas onde ocorreram os treinamentos leva o nome de Brigadeiro Veloso e está localizado no sopé da Serra do Cachimbo. Criado na década de 1950, o local foi inicialmente um aeroporto estratégico que fazia a ligação entre Brasília e Manaus. Com o tempo, passou a ser utilizado exclusivamente pelas Forças Armadas para treinamentos e testes militares, servindo como ponto essencial na logística do país.
Treinamento militar inclui sobrevivência na selva, navegação em rios e resistência física intensa
A diversidade do ambiente natural onde ocorre a operação torna os treinamentos ainda mais exigentes. A vegetação densa da Amazônia dificulta a movimentação das tropas e a visibilidade. Em algumas áreas, é possível observar a transição entre o cerrado e a floresta tropical, onde a mata se torna mais fechada e úmida. Essa variação exige que os militares estejam preparados para enfrentar diferentes tipos de terreno durante uma mesma missão.
Durante os exercícios, os soldados também passaram por treinamentos de sobrevivência na selva, incluindo navegação em rios e identificação de fontes naturais de água. Um dos locais utilizados foi o rio Braço Norte, que corta a região. A água do rio apresenta uma coloração escura durante o período de chuvas devido à decomposição das folhas, o que altera suas características químicas — fenômeno comum na floresta amazônica.
Além dos exercícios em solo, a operação incluiu o monitoramento e enfrentamento de animais da fauna local. Em registros feitos durante os treinamentos, foi possível observar uma sucuri de grande porte rastejando pela vegetação, além de onças-pintadas e onças-pardas passando por áreas próximas às atividades militares. Em uma das situações, uma cascavel foi encontrada dentro do posto médico da base, evidenciando os riscos enfrentados mesmo fora do combate.
A base militar da Serra do Cachimbo é auto-sustentável em energia, graças à primeira central hidrelétrica construída na Amazônia. Essa estrutura garante a operação contínua da base mesmo em áreas remotas. A cidade mais próxima é Guarantã do Norte, no Mato Grosso, que fica a cerca de 80 km do campo de provas e tem sua economia baseada na pecuária, na plantação de arroz e na mineração.
Ação mostra capacidade de resposta do Brasil a ameaças estrangeiras em área estratégica da Amazônia
A simulação de guerra realizada pelas Forças Armadas evidencia a importância de manter a soberania sobre a Amazônia, região que representa quase metade do território brasileiro. Além de abrigar a maior biodiversidade do planeta, a floresta tem alto valor estratégico, econômico e geopolítico. O domínio do espaço aéreo, do terreno e da logística são fatores fundamentais para a proteção da região contra ameaças externas.
Com a operação, os militares testaram não apenas o armamento e os equipamentos, mas também a capacidade de resposta em situações reais de conflito. A presença das Forças Armadas na região também contribui para o combate a crimes ambientais, como o desmatamento e o garimpo ilegal, além de oferecer apoio a comunidades isoladas por meio de ações humanitárias.
A operação Meridiano foi uma oportunidade para reforçar a integração entre as Forças e avaliar a eficiência de protocolos de ação conjunta. O cenário escolhido, com floresta fechada, rios e áreas de difícil acesso, é semelhante aos desafios que as tropas enfrentariam em uma situação real. Dessa forma, o treinamento serve como um alerta e preparação diante de possíveis ameaças à integridade do território nacional.
A informação foi divulgada por Domingo Espetacular, programa da Record TV que acompanhou de perto toda a movimentação, registrando imagens exclusivas da operação. A reportagem foi conduzida pelo jornalista André Azeredo, que esteve a bordo do KC-390 e percorreu parte da floresta ao lado das tropas militares, mostrando os bastidores da missão.
A ação reafirma o compromisso das Forças Armadas brasileiras com a defesa do país e demonstra a importância da Amazônia não apenas como patrimônio natural, mas também como território estratégico. O treinamento rigoroso em um ambiente hostil evidencia que, mesmo diante de adversidades, o Brasil está preparado para proteger sua soberania.