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Na estreia da ministra Elizabeth Rocha, STM condena militares por estelionato, peculato, corrupção e desobediência; casos incluem esquema de R$ 1,51 milhão em hospital e posts políticos nas redes sociais

por Sérvulo Pimentel 28/03/2025
Na estreia da ministra Elizabeth Rocha, STM condena militares por estelionato, peculato, corrupção e desobediência; casos incluem esquema de R$ 1,51 milhão em hospital e posts políticos nas redes sociais

Em sua primeira sessão como presidente do STM, a ministra Maria Elizabeth Rocha enfrentou casos polêmicos, incluindo superfaturamento em hospitais militares e oficiais que burlaram leis eleitorais. Um dos réus, um capitão do Exército, integrava um esquema criminoso que já rendeu condenações anteriores no tribunal.

Na terça-feira (25/03), o Superior Tribunal Militar (STM) julgou quatro processos emblemáticos envolvendo crimes como estelionato, peculato, corrupção ativa e desobediência hierárquica. A sessão marcou a estreia da ministra Maria Elizabeth Rocha na presidência da Corte, cargo que ocupará até 2027.

Apenas um caso foi adiado: a Revisão Criminal 24763/2023, que aguardará o retorno do relator, ministro Lúcio Barros, e do revisor, ministro José Barroso Filho.

Tribunal julga estelionato, peculato e corrupção, reafirmando tolerância zero a crimes militares

Capitão do Exército condenado por corrupção em esquema repetitivo

O STM manteve a condenação do Capitão Jean Patrick de Aquino Silveira, do Exército, acusado de receber vantagens indevidas do Grupo Moresco em troca de favorecimento em contratos. O caso já havia sido analisado virtualmente, mas o ministro Artur Vidigal pediu vista para investigar possíveis conexões com outros processos.

A defesa alegou que o militar agiu dentro da administração, mas o tribunal rejeitou o argumento. “São inúmeros processos envolvendo a mesma empresa e os mesmos civis, Meireles Alves Moresco Filho e Joice Daiane dos Santos, em conluio com militares”, destacou Vidigal.

O STM aumentou a pena do capitão para 4 anos de reclusão, sob o artigo 308 do Código Penal Militar (CPM), que trata de corrupção ativa.

Major do Exército condenado por desobediência após posts políticos

Major João Paulo da Costa Araújo Alves foi condenado por publicar 47 posts em redes sociais com conteúdo político-partidário, mesmo após ser advertido por seu comandante. O caso ocorreu durante as eleições de 2022, quando o Ministério Público Militar emitiu a Recomendação 2/2022, proibindo manifestações políticas por militares da ativa.

O conselho de justiça considerou que o major agiu com dolo, já que continuou as publicações mesmo após a ordem expressa. O ministro José Coelho Ferreira questionou o enquadramento no artigo 163 do CPM (recusa de obediência), sugerindo que o crime deveria ser o 301 (desobediência simples).

No entanto, a maioria do tribunal manteve a condenação. “Não se trata de uma mera recomendação, mas de uma ordem clara, lida em formatura e publicada em boletim interno”, afirmou o ministro Leonardo Puntel.

Ex-coronel, ex-tenente e ex-sargento do Exército condenados por superfaturamento em hospital militar

O caso mais polêmico envolveu o ex-coronel Francisco José Madeiro Monteiro, a ex-tenente Isabela Xavier Falcão e o ex-sargento Lucas do Espírito Santo, acusados de estelionato e superfaturamento em obras no Hospital Militar de Área do Recife (HAMAR).

O esquema desviou R$ 1,51 milhão entre 2009 e 2010, com notas fiscais falsas e contratações diretas sem licitação. O ministro Péricles Aurélio de Lima foi incisivo: “Emitiram empenhos fictícios, atestaram recebimentos que não ocorreram e movimentaram valores incompatíveis com seus rendimentos”.

O ex-coronel foi condenado a 6 anos e 4 meses de prisão, enquanto a ex-tenente e o ex-sargento tiveram penas reduzidas para 3 anos e 10 meses após um pedido do ministro Carlos Augusto Amaral.

O coronel Rui Santiago foi absolvido por insuficiência de provas.

Rigor do STM contra corrupção militar

Os julgamentos reforçam o endurecimento do STM contra crimes financeiros nas Forças Armadas. O ministro Flávio Farias destacou: “Esses casos justificam a existência da Justiça Militar. Não podemos permitir que condutas assim se repitam nos quartéis”.

O advogado Paulo Rubens Medeiros, que defendeu os réus no caso do HAMAR, contestou os valores: “As empresas do Sr. Osvaldo receberam R$ 824 mil, não  1,51 milhão. Como explicar o ‘desvio’?”

A sessão terminou com um adiamento, mas deixou claro: o STM não tolerará corrupção, desobediência ou quebra da hierarquia militar.

Assista aos julgamentos no vídeo abaixo.