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Mauro Cid menciona diplomacia presidencial de Lula: tese de doutorado revela aspectos sobre missões no Oriente Médio

por Sociedade Militar Publicado em 24/02/2025
Mauro Cid menciona diplomacia presidencial de Lula: tese de doutorado revela aspectos sobre missões no Oriente Médio

O trabalho de conclusão de Mauro Cid como oficial do Exército em curso na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) lança luz sobre aspectos pouco debatidos das missões militares no Oriente Médio: o foco geopolítico, a necessidade de compensações financeiros para os militares, acesso a equipamentos e prestígio dentro da carreira militar. Segundo Cid, essas operações vão além da estabilização de regiões em crise ou do auxílio a populações necessitadas; elas representam também uma vantagem estratégica para o país e para os próprios militares envolvidos.

O oficial do Exército e o caminho para o generalato

O Curso de Comando e Estado-Maior é uma das principais etapas para oficiais do Exército Brasileiro que almejam o generalato. Apenas um seleto grupo de militares com alto status entre seus superiores e capacidade de alinhar seu discurso às expectativas do alto comando, consegue ingressar nesse processo, considerado extremamente parcimonioso.

O professor Everton Araújo dos Santos, da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), descreveu em sua tese publicada recentemente o perfil típico do egresso do curso:

“O oficial formado no Comando e Estado-Maior é sério, tem postura elegante e profissional, joga tênis, bebe moderadamente whisky 12 anos, viaja anualmente para a Europa ou Estados Unidos; sabe tanto estar numa situação real de combate quanto em uma recepção ao lado das mais altas autoridades da República…”

Mauro Cid concluiu seu trabalho na ECEME em 21 de novembro de 2018, um marco decisivo para sua ascensão na carreira militar. Pouco depois, em 13 de dezembro do mesmo ano, foi nomeado pelo então comandante do Exército, general Villas Bôas, para um dos cargos mais cobiçados nas Forças Armadas: o de ajudante de ordens do presidente da República. Esse posto é amplamente visto como um trampolim para promoções até o mais alto escalão da hierarquia militar.

Missões no exterior: entre vantagens estratégicas e financeiras para o oficial do Exército Brasileiro

No estudo apresentado à ECEME, Cid analisou a possibilidade de participação de militares brasileiros em missões no Oriente Médio e destacou os benefícios que elas poderiam trazer. O documento revelou que, para alguns generais, tais operações representam não apenas uma oportunidade de atuação internacional, mas também um meio de elevar os salários da tropa e facilitar a aquisição de equipamentos.

Além do prestígio e da experiência adquirida em operações no exterior, há um aspecto essencial e pouco mencionado que torna essas missões altamente desejadas e disputadas arduamente, quando se impõe antiguidade e apela-se para os “padrinhos”: a compensação financeira. A carreira militar, via de regra, não oferece grandes retornos financeiros.

A maior parte dos militares, principalmente os graduados, recebe salários abaixo de R$ 8 mil, o que não permite luxos nem a tão sonhada tranquilidade econômica. Os oficiais de média patente tem salários na faixa dos 14 mil reais e para muitos, a participação em missões internacionais é uma oportunidade única de construir uma poupança, quitar dívidas ou, até mesmo, viabilizar a compra da casa própria.

Cid enfatizou, ainda, o impacto simbólico e moral dessas missões para os militares e tenta deixar claro que são mais do que um upgrade salarial:

“A participação na manutenção da paz da ONU não representa apenas um aumento dos salários militares e uma chance de aquisição de equipamento de defesa suplementar, mas também um impulso moral para os militares, devido ao prestígio associado à sua participação em uma iniciativa internacional de alta visibilidade.”

O futuro das missões no Oriente Médio, Cid menciona Lula e sua forte “diplomacia presidencial”

O tenente-coronel menciona em sua tese a intenção já antiga do presidente Lula de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança nas Nações Unidas.

Lula buscaria a “autonomia pela diversificação”. As maiores alterações estavam na ênfase na cooperação Sul-Sul, na diversificação de parcerias e no maior protagonismo internacional do Brasil. Além disso, Lula defendeu a candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, deixando claro seu interesse pela política externa do Brasil. Lula entendia que o Brasil deveria buscar novas formas de inserção internacional, assim como o estabelecimento de novos padrões de comportamento e relacionamento entre os Estados, com uma forte diplomacia presidencial…“, escreveu.

O trabalho de Mauro Cid evidencia que para muitos militares, além das questões de segurança e diplomacia, são também uma oportunidade de crescimento profissional e vantagens financeiras — um fator fundamental para uma categoria que, apesar de sua importância estratégica, tem poucas oportunidades de ascensão econômica.

O estudo completo, que garantiu ao então major Mauro Cid o título de Doutor em Ciências Militares, pode ser consultado no repositório de documentos da ECEME e na lista de documentos da Revista Sociedade Militar.

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