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À frente dos Brics, Brasil exige retirada de Israel em Gaza e pressiona por nova ordem diplomática mundial

por Alisson Ficher 03/05/2025
À frente dos Brics, Brasil exige retirada de Israel em Gaza e pressiona por nova ordem diplomática mundial

Em meio a um cenário internacional marcado por tensões geopolíticas e desafios econômicos, o Brasil, na presidência rotativa dos Brics, tem se destacado por suas posições firmes em questões globais.

Recentemente, o país propôs a retirada total das forças israelenses de Gaza e reforçou a importância do multilateralismo para enfrentar crises como a da Ucrânia e os impactos da guerra comercial liderada pelos Estados Unidos.

Retirada das forças israelenses de Gaza

Segundo o portal ”Defesa Net”, durante a reunião dos ministros das Relações Exteriores do Brics, realizada no Rio de Janeiro, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, expressou preocupação com a situação em Gaza.

Ele classificou como “deplorável” o desrespeito ao cessar-fogo e enfatizou a necessidade de garantir a retirada total das forças israelenses do território palestino.

Além disso, destacou a importância da libertação de todos os reféns e detidos e da entrada de ajuda humanitária na região.

Críticas ao unilateralismo e à guerra comercial dos EUA

O Brasil também se posicionou contra o unilateralismo nas relações internacionais, especialmente em relação às políticas comerciais dos Estados Unidos.

Desde que Donald Trump assumiu a presidência em janeiro de 2025, os EUA impuseram tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria de seus parceiros comerciais, além de uma sobretaxa separada de 145% sobre produtos chineses.

Essa abordagem tem gerado preocupações sobre a fragmentação da economia global e a erosão do multilateralismo.

Apoio à Ucrânia e busca por solução diplomática

Embora o Brasil tenha sido mais reticente em relação à guerra na Ucrânia, limitando-se a pedir “uma solução diplomática que respeite os princípios e objetivos da Carta das Nações Unidas“, a reunião dos Brics foi marcada por um anúncio surpresa do presidente russo de uma trégua de três dias, de 8 a 10 de maio.

A resposta de Kiev foi um pedido para que Moscou concordasse “imediatamente” com um cessar-fogo “abrangente” por “pelo menos 30 dias”.

Fortalecimento do multilateralismo e desafios globais

O ministro Mauro Vieira destacou que o mundo enfrenta crises globais e regionais convergentes, como emergências humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e a erosão do multilateralismo.

Nesse contexto, ele ressaltou que o papel do grupo Brics é mais vital do que nunca.

Além disso, mencionou que a reunião também foi ofuscada pela guerra comercial lançada por Donald Trump, que tem afetado negativamente a confiança do consumidor e levado muitas empresas a revisar suas previsões econômicas.

Moedas locais e redução da dependência do dólar

Em relação às transações comerciais, o Brasil tem buscado alternativas para reduzir a dependência do dólar.

O uso de moedas locais entre os países do Brics tem sido uma das estratégias adotadas.

O ministro Mauro Vieira afirmou que o uso de moedas locais nas relações comerciais internacionais pode ajudar a agilizar o comércio e reduzir custos.

No entanto, ele ressaltou que isso dependerá da responsabilidade dos países com relação às suas contas nacionais e do volume de comércio.

Preparativos para a cúpula dos Brics em julho

A reunião dos ministros das Relações Exteriores do Brics teve como objetivo preparar a cúpula dos chefes de Estado marcada para os dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro.

Durante essa cúpula, espera-se que sejam discutidos temas como mudanças climáticas, com destaque para a COP30, marcada para novembro em Belém, na Amazônia brasileira.

O Brasil defende que os países ricos têm a “obrigação” de financiar a transição energética e espera que a reunião contribua para avançar nesse sentido.

Expansão do BRICS e fortalecimento do Sul Global

A recente expansão do BRICS de cinco para onze membros, decidida na cúpula de Joanesburgo em 2023, teve grande impacto na política internacional.

Além do Brasil, o grupo conta hoje com África do Sul, Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Indonésia, Irã e Rússia, como membros plenos.

Essa ampliação representa quase metade da população mundial, 39% do PIB global e metade da produção de energia no mundo, conferindo ao BRICS um papel fundamental na construção de uma ordem mundial mais justa, inclusiva e sustentável.