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O super Submarino inglês Dreadnought versus submarino brasileiro Riachuelo: estratégias opostas, status geopolítico diferente

por Sociedade Militar 02/05/2025
O super Submarino inglês Dreadnought versus submarino brasileiro Riachuelo: estratégias opostas, status geopolítico diferente

A corrida armamentista global nunca foi tão estratégica e tecnológica. Enquanto os militares do Reino Unido avançam com a sofisticada classe Dreadnought, projetada para sustentar sua dissuasão nuclear silenciosa por mais três décadas, o Brasil, lutando contra cortes orçamentários e baixa de status das Forças Armadas diante da sociedade e classe política, concentra esforços na manutenção de sua soberania marítima na América Latina, com a classe Riachuelo e, ao longo, no horizonte, seu primeiro submarino nuclear de ataque, que será o SN-BR Álvaro Alberto.

Dreadnought: potência nuclear e furtividade extrema, meses submerso

Com quatro unidades previstas, cm previsão de inicio de operação em 2030, a classe Dreadnought substituirá os submarinos Vanguard como pilar principal da política de Dissuasão Contínua do Reino Unido. Alimentado pelo reator nuclear Rolls-Royce PWR3 — que substitui o antigo PWR2 — o Dreadnought foi concebido para operar por mais de 35 anos sem necessidade de reabastecimento, o que lhe permite realizar patrulhas de meses sem emergir. Obviamente, os tripulantes do submarino necessitam de gêneros frescos e é essa a principal limitação no tempo submerso.

Batimento de quilha em 20/03/2025 – https:www.baesystems.comenarticlekeel-laid-on-uk-s-new-dreadnought-submarine-

A inovação vai além do reator. O Dreadnought utiliza um design furtivo inédito, com lemes em formato X e o propulsor Pumpjet mais silencioso da Royal Navy até hoje. O casco duplo com revestimento angular bioinspirado facilita o desvio de ondas de sonar e a instalação de placas anecoicas, reduzindo drasticamente sua assinatura acústica. Uma espécie de “caça invisível dos mares”.

O submarino britânico tem cerca de 153 metros de comprimento e cerca de 12 metros de diâmetro, conta ainda com um sistema de lançamento de mísseis Trident II D5 — com capacidade de até várias ogivas nucleares por unidade — um poder de fogo capaz de destruir grandes cidades em questão de minutos. Há 4 tubos lançadores de toredos e além disso tudo sua infraestrutura interna impressiona muito: alojamentos para mulheres, salas de estudo e academia.

Segundo a Bae Systens, o Dreadnought é o primeiro submarino da Marinha Real a ter tripulações mistas, por isso foi projetado com alojamentos separados para homens e mulheres. Também foi projetado com iluminação diurna e noturna, para que o organismo identifique quando é dia ou noite, para estimular o o ciclo circadiano e uma série de outras inovações tecnológicas, várias mantidas em sigilo.

Classe Riachuelo: dissuasão convencional e autonomia regional

Submarino Riachuelo atracado na base de Itaguaí
Submarino Riachuelo atracado na base de Itaguaí em 2024 Robson Augusto / Revista Sociedade Militar

No lado sul do Atlântico, o Brasil comemora a entrada em operação de três submarinos da classe Riachuelo — Riachuelo (S-40), Humaitá (S-41) e Tolero (S-42) — todos derivados do projeto francês Scorpène, mas com adaptações brasileiras. A quarta unidade, Angostura (S-43), está prevista para ser lançada ainda em 2025.

Com 72 metros de comprimento, 6 de diâmetro  e deslocamento de 1.740 toneladas, os submarinos Riachuelo são completamente diferentes dos Dreadnought , pois são movidos por motores diesel-elétricos, exigindo emergir periodicamente para recarga. Embora essa necessidade reduza a furtividade em comparação aos submarinos nucleares, a autonomia operacional de até 70 dias e 300 metros de profundidade ainda os torna altamente eficazes no patrulhamento da “Amazônia Azul” — nome dado à imensa zona econômica exclusiva brasileira.

A tripulação dos Riachuelo é bastante reduzida, com cerca de 35 militares, e o armamento concentra-se em 6 tubos lançadores de torpedos pesados e mísseis antinavio, voltados à proteção costeira e de rotas comerciais estratégicas. Não há armamento nuclear nem capacidade de lançar mísseis balísticos.

Álvaro Alberto: o salto brasileiro rumo ao clube nuclear

O divisor de águas no programa brasileiro de submarinos será o SN-BR Álvaro Alberto, previsto para entrar em operação por volta de 2035 — caso os repasses orçamentários se mantenham. O projeto, 100% nacional no que tange ao reator nuclear, marca a entrada do Brasil em um seleto grupo de apenas seis países com capacidade de construir submarinos nucleares.

Diferentemente dos Dreadnoughts britânicos, o SN-BR será um submarino de ataque (e não de Mísseis Balísticos e dissuasão estratégica), com foco em operações convencionais de longa duração, superior autonomia e capacidade de permanência submersa meses. Ainda assim, não haverá armamento nuclear a bordo, respeitando tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, como o Tratado de Tlatelolco.

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