Pequenos, furtivos e ágeis, os submarinos mini podem infiltrar forças especiais e detectar minas. Mas sua limitação de tripulação, autonomia reduzida e sensores menos potentes os tornam incapazes de substituir modelos convencionais

A Polônia se encontra em um momento crucial em sua estratégia de defesa naval, à medida que as discussões sobre a aquisição de novos submarinos se tornam cada vez mais urgentes. O programa Orka, que tem como objetivo adquirir três ou quatro submarinos convencionais modernos equipados com sistemas de propulsão independente do ar (AIP), ganhou uma urgência renovada após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
No entanto, relatos recentes sugerem que a Polônia também está explorando a possibilidade de adquirir submarinos da classe mini da Itália. Caso essa decisão provoque atrasos ou até mesmo o cancelamento total do programa Orka, isso representaria um erro estratégico significativo.
A necessidade de submarinos convencionais no Mar Báltico
Há anos, a Polônia reconhece a necessidade de modernizar sua frota submarina, e o programa Orka tem sido a peça central desses esforços. O plano para adquirir três submarinos convencionais de grande porte com tecnologia AIP foi acelerado após a escalada das hostilidades na Ucrânia, refletindo as crescentes preocupações da Polônia com a segurança na região do Mar Báltico.
Diversas empresas internacionais de construção naval, incluindo Fincantieri, Navantia, Saab, Naval Group e Thyssenkrupp Marine Systems, demonstraram interesse em fornecer submarinos de última geração à Polônia. Mais recentemente, empresas sul-coreanas como Hanwha Ocean e Hyundai Heavy Industries também apresentaram propostas de projetos.
De acordo com os últimos relatórios da imprensa polonesa, a concorrência foi reduzida agora a três finalistas: a alemã Thyssenkrupp Marine Systems, a sueca Saab e a italiana Fincantieri. O Ministério da Defesa Nacional da Polônia enfatizou repetidamente que a aquisição desses submarinos continua sendo uma prioridade máxima. No entanto, um cronograma oficial e a data de assinatura do contrato ainda não foram divulgados publicamente, adicionando incerteza ao futuro do programa.
O crescente interesse pelos submarinos da classe mini
Apesar da importância estratégica dos submarinos de grande porte, o recente interesse da Polônia na aquisição de submarinos da classe mini tem gerado preocupações. Em fevereiro, uma delegação polonesa de alto escalão, que incluía o vice-ministro da Defesa Nacional e o chefe da Agência de Armamento, visitou o estaleiro italiano M23 SRL em Bérgamo. A empresa, em parceria com a GSE Trieste, fabrica a série C de submarinos mini, que aparentemente foi considerada para aquisição pela Polônia.
A visita gerou especulações sobre a possibilidade de a Polônia priorizar a compra de submarinos anões como uma solução provisória ou até mesmo como substitutos dos submarinos convencionais. Essa possibilidade alarmou especialistas navais, uma vez que os submarinos anões não oferecem todas as capacidades operacionais necessárias para proteger os interesses marítimos da Polônia no Mar Báltico.
Capacidades e limitações dos submarinos anões
Os submarinos anões apresentam algumas vantagens em cenários específicos. Seu tamanho reduzido e baixa assinatura acústica os tornam difíceis de detectar, e sua alta manobrabilidade lhes permite operar em águas rasas e espaços confinados.
Essas características os tornam úteis para missões de reconhecimento, coleta de inteligência e operações especiais, particularmente para inserção e extração de forças especiais em missões secretas.
Por exemplo, a série C M23 foi projetada com algumas capacidades ofensivas, incluindo o lançamento de torpedos pesados de 533 mm. Também possui capacidades limitadas de reconhecimento do fundo do mar, permitindo operações de detecção e remoção de minas. Além disso, o custo de aquisição e manutenção dos submarinos anões é consideravelmente menor do que o dos submarinos convencionais, tornando-os uma opção econômica para países que desejam expandir suas forças submarinas.
No entanto, essas vantagens vêm acompanhadas de desvantagens significativas. Os submarinos anões têm limitações importantes em termos de autonomia, alcance e resistência operacional. Diferentemente dos submarinos convencionais, que podem permanecer submersos por longos períodos graças à tecnologia AIP, os submarinos anões precisam emergir frequentemente para reabastecer combustível e recarregar baterias, limitando sua capacidade de realizar operações prolongadas.
O tamanho reduzido da tripulação (normalmente entre 10 e 15 pessoas) restringe a sustentabilidade da missão, pois todos os tripulantes precisam estar constantemente envolvidos nas operações, deixando pouco espaço para turnos prolongados e manutenção a bordo.
Além disso, os submarinos anões não possuem sistemas avançados de sonar e gerenciamento de combate comparáveis aos submarinos de grande porte. Suas capacidades limitadas de detecção afetam significativamente sua habilidade de localizar submarinos inimigos ou navios de superfície a grandes distâncias. Embora possam carregar torpedos, sua potência de fogo reduzida e menor capacidade de carga útil os tornam ineficazes em combates navais de grande escala. Em um confronto direto, um submarino anão estaria em grande desvantagem contra submarinos convencionais inimigos ou plataformas avançadas de guerra antissubmarino (ASW).
Por que os submarinos anões não podem substituir os submarinos convencionais
Embora os submarinos anões possam desempenhar funções táticas valiosas, eles não podem substituir os submarinos convencionais por várias razões essenciais. O Mar Báltico apresenta um ambiente operacional complexo que exige submarinos com grande autonomia, capacidades avançadas de sonar e armamentos diversificados. A capacidade de conduzir operações sigilosas em águas disputadas, lançar ataques estratégicos e enfrentar forças navais inimigas a longa distância é fundamental.
Os submarinos convencionais são projetados para missões multifuncionais, como guerra antissubmarino, guerra antissuperfície, guerra eletrônica, operações de inteligência e desdobramento de forças especiais. Eles oferecem a resistência e o poder de fogo necessários para manter a dissuasão e proteger os interesses nacionais. A participação da Marinha Polonesa nas operações da OTAN também exige interoperabilidade com as forças aliadas, algo para o qual os submarinos convencionais são projetados. Os submarinos anões, por outro lado, carecem da resistência, da capacidade ofensiva e da flexibilidade estratégica necessárias para essas funções.
Além disso, substituir submarinos convencionais por alternativas da classe mini comprometeria a capacidade da Polônia de conduzir operações submarinas independentes. Embora os submarinos anões possam complementar uma frota ao cumprir funções táticas específicas, eles não são adequados para patrulhas de longo alcance, missões de inteligência contínuas ou participação em conflitos navais de grande escala. Diante da crescente ameaça representada pela frota submarina russa, a Polônia precisa de uma força submarina robusta que possa fornecer uma dissuasão crível.
O fator de treinamento e preparo operacional
Outro aspecto crítico é o treinamento das tripulações submarinas. As operações convencionais com submarinos exigem anos de treinamento rigoroso e experiência em águas profundas e ambientes de combate. A Marinha Polonesa precisa garantir que seu pessoal esteja totalmente preparado para operar plataformas submarinas complexas. O treinamento em submarinos anões não proporcionaria a experiência necessária para operar submarinos de grande porte, pois os ambientes operacionais e os requisitos táticos são significativamente diferentes.
A futura estratégia naval da Polônia
A Polônia deve continuar comprometida com a aquisição de submarinos convencionais no âmbito do programa Orka para garantir sua segurança marítima a longo prazo. Embora os submarinos anões possam servir como ativos auxiliares para operações especiais e coleta de informações, eles não devem ser considerados substitutos para submarinos de combate de grande porte. O governo polonês deve priorizar a eficácia operacional em detrimento da economia de custos de curto prazo e garantir que qualquer investimento em submarinos anões não seja feito às custas do programa Orka.
Em uma região onde o poder naval está se tornando cada vez mais crucial, a Polônia precisa de submarinos capazes de projetar força, manter a dissuasão e proteger os interesses nacionais diante de ameaças em constante evolução. Os submarinos convencionais continuam sendo indispensáveis para defender o domínio marítimo da Polônia, contribuir para a postura de defesa estratégica da OTAN e garantir a estabilidade no Mar Báltico e além.
A Marinha Polonesa deve se concentrar na obtenção de submarinos avançados e totalmente capazes de atender às demandas operacionais da guerra naval moderna, assegurando assim que a Polônia continue sendo uma potência marítima formidável nos próximos anos.