Novo destacamento militar na fronteira da Amazônia; Exército cria base em Waikás

Exército Brasileiro cria destacamento na Amazõnia – mas a situação em Waikás vai mudar?
Mais uma base, mais um discurso, mais uma tentativa de mostrar que o Exército está, de fato, presente na Amazônia. No último mês, o Exército Brasileiro ativou o Destacamento Especial de Fronteira (DEF) de Waikás, em Roraima, às margens do rio Uraricoera. O local não foi escolhido por acaso: está no coração de uma região marcada pela invasão de garimpeiros ilegais e pelo colapso da proteção aos indígenas Yanomami.
O General de Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, comandante da Força, acompanhou a ativação e sobrevoou outras bases na região. Por lá, há o 4° Pelotão Especial de Fronteira Surucucu, onde novas casas de apoio estão sendo construídas. De acordo com o general, “demos um passo importante para ampliar nossa presença, colaborando para a preservação do meio ambiente e a proteção da Terra Indígena Yanomami”.
Mas será que isso realmente significa alguma mudança?
Garimpo ilegal: o problema continua
A situação na Terra Indígena Yanomami é um daqueles casos que o Brasil empurra com a barriga há anos. O garimpo ilegal não é novidade – já existe há décadas. No entanto, nos últimos anos explodiu, com relatos de fome, doenças e violência contra indígenas. A promessa sempre foi sobretudo reforçar a presença do Estado. A pergunta que fica é se esse destacamento será o suficiente para barrar a crise.
De acordo com o Exército, o novo DEF em Waikás fortalece principalmente a segurança na fronteira e combate o crime organizado. Mas, na prática, a estrutura militar por si só não resolve o problema. As rotas do garimpo são vastas, os interesses são poderosos, e a corrupção muitas vezes mina qualquer tentativa de repressão.
Outro ponto crítico: as operações militares na região são pontuais. Basta lembrar que, mesmo após a retirada de milhares de garimpeiros em 2023, muitos acabaram voltando. E o Estado nunca garantiu uma presença consistente para impedir o retorno dessas atividades ilegais.
Exército na Amazônia: proteção ou apenas presença?
A história recente da atuação militar na Amazônia traz uma questão inevitável. O Exército tem mesmo condições de cumprir esse papel? Por um lado, há a expertise em operação na selva e o conhecimento tático. Por outro, os militares não têm poder de polícia para prender criminosos, o que limita sua ação contra garimpeiros e traficantes.
A Polícia Federal e o Ibama, que têm essa atribuição, operam com recursos insuficientes e sofrem constantes pressões políticas. A instalação do Destacamento em Waikás é um avanço, sim. Mas, sem um esforço conjunto e contínuo, o Exército pode acabar sendo apenas mais um espectador da crise, em vez de um agente real de transformação.
A ativação do DEF em Waikás é, no mínimo, um recado de que a Força não pretende sair da Amazônia tão cedo. Mas se isso vai resolver o problema ou apenas reforçar a presença simbólica do Estado, o tempo – e os garimpeiros – dirão.