Exército Brasileiro: campeão de engajamento nas redes com mais de 18 milhões de interações; como o Exército se tornou um fenômeno digital

O Exército Brasileiro acaba de liderar, pelo segundo ano consecutivo, o ranking de engajamento nas redes sociais entre as instituições públicas do Governo Federal. De acordo com o Social Media Gov, uma plataforma que monitora a comunicação de órgãos públicos, a instituição acumulou 18 milhões de interações espontâneas em 2024.
Isso significa que o Exército tem uma presença digital mais forte do que ministérios inteiros, autarquias e outros órgãos governamentais. Mas aí vem a pergunta inevitável: o que exatamente essa comunicação toda está promovendo?
Entre likes e a realidade do quartel
De acordo com o discurso oficial, esse alto nível de engajamento é um reflexo do esforço da instituição para manter uma comunicação aberta e transparente com a sociedade. O Centro de Comunicação Social do Exército gerencia páginas ativas no Facebook, Instagram, LinkedIn, X (antigo Twitter), YouTube e Telegram, onde divulga ações da corporação, campanhas institucionais e até conteúdos históricos.
Entretanto, a popularidade do Exército nas redes sociais não se explica apenas por uma comunicação eficiente. Boa parte desse engajamento vem do clima de polarização política que tomou conta do Brasil nos últimos anos. Desde 2018, as Forças Armadas se lançaram ao centro do debate público. Assim, o Exército acabou se tornando um símbolo – seja de ordem e patriotismo para alguns, seja de oportunismo e politização para outros.
O crescimento do Exército nas redes sociais também reflete a presença de um público fiel e engajado, que vê a instituição como um bastião contra as mudanças políticas e sociais que consideram indesejadas. Basta olhar os comentários das postagens: elogios à disciplina e à hierarquia militar se misturam com ataques a políticos, imprensa e até mesmo a outros setores do próprio governo.
Marketing militar ou construção de poder?
Esse fenômeno levanta uma questão incômoda: o Exército está apenas cumprindo sua função de se comunicar com a sociedade em suas redes sociais, ou está ativamente cultivando influência política?
Nos últimos anos, ficou evidente que o Brasil ainda não resolveu sua relação com os militares na política. De 2018 a 2022, generais ocuparam cargos estratégicos no governo. Além disso, ministros da Defesa foram escolhidos dentro das fileiras da ativa e a comunicação militar ganhou um tom cada vez mais ideológico. Mesmo após a saída de militares do centro do poder, a máquina de comunicação continuou girando, consolidando uma imagem forte e popular.
A militarização da comunicação pública não é novidade. Países como Turquia, Rússia e Egito usam estratégias semelhantes para garantir apoio popular às Forças Armadas. Além disso, em alguns casos, as redes sociais também foram instrumentos para sustentar regimes autoritários. O Brasil ainda está longe desse cenário. No entanto, a ascensão digital do Exército mostra como as instituições militares podem moldar narrativas e influenciar o debate público. Tudo isso sobretudo sem precisar dar um único tiro.
A influência do Exército
Enquanto ministérios enfrentam cortes de orçamento e a comunicação pública luta para atingir audiências cada vez mais fragmentadas, o Exército se fortalece como a instituição pública mais influente nas redes redes sociais. O que isso significa para o futuro da democracia brasileira? Ainda não sabemos.
O que sabemos é que, goste-se ou não, os militares continuam ocupando um espaço central na política e na sociedade. E, se depender das redes sociais, esse protagonismo não vai diminuir tão cedo.