Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

A Rússia implanta o letal sistema S-500 para proteger o vital e estratégico Ponte da Crimeia, garantindo o controle militar sobre o Mar Negro contra ataques devastadores

por Noel Budeguer 07/01/2025
A Rússia implanta o letal sistema S-500 para proteger o vital e estratégico Ponte da Crimeia, garantindo o controle militar sobre o Mar Negro contra ataques devastadores

O primeiro regimento de sistemas de mísseis de defesa aérea S-500 Prometheus da Rússia terá a tarefa de defender a Ponte da Crimeia. Este desenvolvimento segue relatos anteriores da inteligência ucraniana, em meados de 2024, que sugeriam que elementos do S-500 já haviam sido implantados na Crimeia com caráter experimental.

Rússia fortalece suas defesas na Crimeia com o avançado sistema S-500 Prometheus

O general Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Rússia, anunciou em 28 de dezembro de 2024 a criação do primeiro regimento S-500, marcando a integração formal deste avançado sistema no serviço operacional.

O sistema de mísseis de defesa aérea S-500 Prometheus, desenvolvido pela Almaz-Antey, foi projetado para enfrentar uma ampla gama de ameaças aéreas, incluindo aviões furtivos, como o F-35, mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), mísseis hipersônicos e satélites de órbita baixa.

sistema de mísseis de defesa aérea S-500 Prometheus

Ele é entregue em duas configurações: uma para defesa aérea de longo alcance e outra para defesa antimísseis. O sistema possui um alcance operacional máximo de 600 quilômetros e uma capacidade de altitude de 200 quilômetros, superando seus predecessores, o S-300 e o S-400, que estão limitados a 400 quilômetros e altitudes inferiores.

Durante os testes em 2019, o S-500 demonstrou um alcance de 481,2 quilômetros, segundo a inteligência espacial dos EUA. Isso supera as capacidades de sistemas americanos como o Patriot e o THAAD, que estão limitados a um alcance de aproximadamente 200 quilômetros.

Cada regimento do S-500 é composto por 12 lançadores, capazes de detectar e atacar até dez ogivas de mísseis balísticos que viajam a velocidades de até sete quilômetros por segundo. O sistema tem um tempo de resposta de três a quatro segundos, uma melhoria em relação aos nove a dez segundos exigidos pelo S-400.

O S-500 utiliza os mísseis 77N6-N e 77N6-N1, projetados especificamente para interceptação cinética em alta velocidade. Os testes realizados em fevereiro de 2024 confirmaram a capacidade do sistema de interceptar um míssil Sineva R-29RMU2, demonstrando sua habilidade para atingir alvos hipersônicos.

A implantação do S-500 para defender a Ponte da Crimeia aborda vulnerabilidades nas defesas aéreas russas na região. Os contínuos ataques ucranianos com mísseis avançados fornecidos pelo Ocidente, como ATACMS e Storm Shadow, têm como alvo principal os sistemas de defesa aérea e centros de comando na Crimeia. Esses ataques já causaram danos a instalações como o aeródromo de Saki e a infraestrutura de defesa aérea em Dzhankoi.

A Ponte da Crimeia, um elo crítico para o transporte de suprimentos militares entre a Rússia continental e a Crimeia, também foi alvo de ataques anteriores, o que motivou o aumento dos esforços para melhorar sua proteção.

A Crimeia possui importância estratégica para a Rússia devido à sua localização no Mar Negro, onde está situado o porto de águas profundas de Sebastopol. Esse porto apoia as operações navais russas e proporciona acesso ao Mediterrâneo. Após sua anexação em 2014, a Crimeia também se tornou um componente-chave nos esforços da Rússia para manter sua influência sobre a Ucrânia.

A Ponte da Crimeia serve como uma rota logística crucial, permitindo o transporte de suprimentos militares e bens civis entre a Rússia e a Crimeia. A Ucrânia busca destruir a ponte para interromper essas linhas de suprimento, dificultar as operações militares russas e desafiar a capacidade da Rússia de manter o controle sobre a região.

Desde o início da invasão russa em 2022, a Ucrânia atacou repetidamente a Ponte da Crimeia utilizando diversos métodos, incluindo embarcações de superfície não tripuladas, mísseis e explosivos, com o objetivo de interromper as linhas de suprimento russas e as operações militares na Crimeia

Capacidades avançadas do S-500 e desafios operacionais em meio ao conflito

O S-500 também está equipado para neutralizar satélites de órbita baixa terrestre (LEO), fundamentais para comunicações, navegação e operações de reconhecimento dos adversários.

Essa capacidade, combinada com seu longo alcance, permite que o sistema ataque ameaças além do espaço aéreo tradicional. Analistas sugerem que a implantação do S-500 na Crimeia pode desafiar a capacidade da OTAN de operar perto da região, especialmente devido à habilidade do sistema de interceptar ameaças aéreas e de mísseis avançados.

No cenário internacional, a Rússia ofereceu à Índia a produção conjunta do S-500. Durante a visita do primeiro-ministro Narendra Modi a Moscou, em 2024, a Rússia renovou essa proposta como parte de esforços mais amplos de colaboração em defesa. A Índia ainda não tomou uma decisão, provavelmente avaliando as possíveis sanções e implicações geopolíticas em comparação com as capacidades do sistema.

A importância potencial do S-500 na competição em defesa antimísseis é destacada pelas comparações com o programa de mísseis BrahMos, uma colaboração anterior entre Rússia e Índia.

Apesar de suas características avançadas, o S-500 enfrenta desafios operacionais. As forças ucranianas delinearam estratégias para neutralizá-lo, incluindo o uso de ataques coordenados com mísseis, guerra eletrônica e sistemas aéreos não tripulados.

O míssil de cruzeiro Trembita, projetado pela Ucrânia, poderia ser usado em ataques de saturação para sobrecarregar os interceptores do S-500. A combinação desses ataques com interferências eletrônicas e operações com drones pode reduzir a eficácia do sistema.

O S-500 Prometheus foi desenvolvido inicialmente no final dos anos 2000, e seu primeiro protótipo foi concluído em 2012. As fases de teste continuaram ao longo da década de 2020, e os primeiros modelos de pré-produção foram entregues em 2016.

O sistema inclui componentes avançados de radar, como o radar de gerenciamento de batalha 91N6A(M) e o radar de ataque ABM 77T6, que permitem a detecção e o ataque simultâneo de múltiplos alvos. Montado na família de veículos BAZ-6909, o S-500 foi projetado para mobilidade e implantação em terrenos variados.

Relatórios indicam que essa implantação marca o início da integração do S-500 na estratégia militar mais ampla da Rússia. A capacidade do sistema de enfrentar ameaças avançadas, incluindo armas hipersônicas e aviões furtivos, adiciona uma nova camada às capacidades de defesa aérea e antimísseis da Rússia.

Embora seu foco inicial esteja na proteção de infraestruturas-chave, como a Ponte da Crimeia, seu desdobramento mais amplo pode influenciar a dinâmica militar regional e global. Espera-se que o sistema sirva como um componente central da rede de defesa da Rússia, complementando os sistemas S-400 e S-300 existentes, ao mesmo tempo em que amplia as capacidades operacionais para enfrentar futuras ameaças.