Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

Exército Brasileiro: descubra o que realmente acontece por trás dos muros da Caserna; uma análise do dia a dia dos militares

por Rafael Cavacchini Publicado em 07/01/2025 — Atualizado em 06/01/2025
Exército Brasileiro: descubra o que realmente acontece por trás dos muros da Caserna; uma análise do dia a dia dos militares

O que o Exército Brasileiro faz no dia a dia? Uma visão sem filtro

Se tem uma coisa que gera muita curiosidade – e até desconfiança – é o que diabos o Exército Brasileiro realmente faz no cotidiano. Todos já ouvimos piadas, estereótipos e até críticas pesadas. No entanto, a realidade é que o Exército Brasileiro é enorme, super hierarquizado e, como toda instituição desse porte, tem gente trabalhando, enrolando e até se esforçando para justificar sua existência. A Revista Sociedade Militar consultou especialistas e entusiastas sobre o assunto, elaborando um compêndio sobre o dia a dia do Exército Brasileiro.

1. O Alto Escalão: burocracia e articulações políticas

Comecemos pelo topo da cadeia: os generais e militares de alto escalão. O dia deles no Exército Brasileiro é, basicamente, um festival de papelada. Eles passam boa parte do tempo analisando propostas político-militares, cuidando da logística do Exército e administrando estratégias. Para quem está de fora, muitas vezes soam como um eterno “planejamento do planejamento”.

Genral Tomás, Comandante do Exército Brasileiro: como o Exército Brasileiro funciona no dia a dia?
Genral Tomás, Comandante do Exército Brasileiro: como o Exército Brasileiro funciona no dia a dia? Foto: Divulgação

Além disso, não podemos ignorar que o alto escalão também está sempre atento às articulações políticas. Afinal, o Exército tem um papel importante nos bastidores do poder no Brasil. Seja na política de Defesa, em negociações sobre orçamento, ou em momentos polêmicos, como as movimentações durante a crise política de 2018 e os desdobramentos em torno de janeiro de 2023 (os ataques em Brasília), os militares de alto escalão frequentemente caminham na linha tênue entre instituição e influência política.

2. Oficiais subalternos: generais em treinamento

Os oficiais subalternos, por sua vez, são aqueles que atuam como “chefes dos praças” no cotidiano. No dia a dia do Exército Brasileiro, esses oficiais estão na linha de frente da organização logística dos quartéis. Eles atuam em missões e cursos operacionais, além de delegarem as tarefas que, frequentemente, acabam sobrando para os soldados.

Estes oficiais também são responsáveis por “apagar incêndios internos”, resolver burocracias menores e manter o funcionamento das unidades. De acordo com especialistas ouvidos pela Revista Sociedade Militar, é comum que também ministrem treinamentos para manter o pessoal preparado para atividades operacionais. No entanto o grau de realismo dessas atividades depende muito da unidade onde estão servindo.

3. Praças e sargentos: a mão que realmente move o Exército

Aqui está o verdadeiro motor da instituição: os praças e sargentos. São eles que estão no dia a dia lidando com instruções, treinamento de soldados, funções administrativas e participação em missões operacionais do Exército Brasileiro. Essas missões incluem desde patrulhas na Amazônia até apoio em desastres naturais.

Apesar de serem a espinha dorsal da instituição, não raro enfrentam condições precárias, sobretudo em regiões mais afastadas. O transporte de suprimentos para quartéis na Amazônia, por exemplo, pode ser uma missão hercúlea, com caminhões atolados em estradas intransitáveis.

Muitos praças questionam o uso político do Exército em ações como a intervenção militar no Rio de Janeiro (2018). Na época, os militares foram enviados sem treinamento específico e com pouca autonomia para lidar com uma situação tão complexa quanto o combate ao tráfico de drogas.

4. Recrutas e soldados: sentinelas e “faz-tudo”

Para muitos jovens brasileiros, o serviço militar obrigatório é um “rito de passagem” que, dependendo da unidade, pode ser tanto uma experiência transformadora quanto um verdadeiro “passar raiva”.

Mito ou realidade? A fama de 'capinadores' no Exército Brasileiro.
Recrutas do Exército Brasileiro levam fama de ‘capinadores’. Foto: Reprodução / Internet

No dia a dia, os soldados do Exército Brasileiro exercem diversas funções práticas. São sentinelas, cuidam da segurança dos quartéis, limpam instalações e, ocasionalmente, participam de missões específicas. No entanto, de acordo com especialistas, o glamour prometido por propagandas de alistamento nem sempre reflete a realidade. A rotina para a maioria é basicamente de tarefas repetitivas, com raras oportunidades de treinamento avançado.

5. Quartéis especializados e atividades extras

O dia a dia do Exército Brasileiro, no entanto, não é só o “arroz com feijão”. Existem unidades especializadas, como as brigadas paraquedistas, onde o nível de treinamento e preparação realmente sobe de patamar. Estas unidades costumam atrair militares interessados em missões mais dinâmicas, sobretudo no prestígio que vem com elas.

Além disso, há atividades mais triviais, como torneios esportivos internos, que são comuns nos quartéis e ajudam a aliviar a monotonia. Mas até isso vira motivo de crítica para quem está de fora. Diversas páginas e redes sociais fazem questionamentos do tipo “É isso que nossos impostos financiam?”, principalmente em tempos de crise econômica.

E a política no meio disso tudo?

Não dá para falar do Exército Brasileiro sem mencionar o envolvimento político. De períodos mais marcantes, como a ditadura militar, até episódios recentes, como a atuação em crises políticas e as discussões sobre o papel das Forças Armadas na democracia, o Exército constantemente se vê no olho do furacão.

Por exemplo, durante o governo Bolsonaro, o número de militares ocupando cargos civis disparou. Isso gerou um desconforto generalizado, tanto entre civis quanto entre os próprios militares. Já no governo Lula, a desconfiança mútua permanece, especialmente após os ataques de 8 de janeiro de 2023, que envolveram investigações sobre o papel de alguns militares.

O Exército é muito mais que a caserna

O Exército Brasileiro em seu dia a dia é, em parte, uma mistura de burocracia, treinamento e missões operacionais. Mas não dá para ignorar os desafios e as polêmicas, desde a gestão de recursos até o envolvimento político.

Seja você admirador ou crítico, uma coisa é certa: o Exército é uma peça-chave da sociedade brasileira, mas a distância entre a realidade e o que muitos imaginam – para o bem ou para o mal – ainda é grande.


Revista Sociedade Militar

Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.