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Serviço secreto da Ucrânia mata general russo em plena Moscou: Kirilov, Multipolaridade cambaleante e o Acordão na Síria

por Sérvulo Pimentel Publicado em 18/12/2024
Serviço secreto da Ucrânia mata general russo em plena Moscou: Kirilov, Multipolaridade cambaleante e o Acordão na Síria

Em plena Moscou, uma das cidades mais vigiadas do mundo, um ataque coordenado eliminou o tenente-general Igor Kirilov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC) da Rússia. O atentado, realizado com um explosivo escondido em uma scooter, foi executado por volta das 6:12 da manhã do dia 17 de dezembro. Kirilov, uma figura estratégica na estrutura militar russa, foi morto em frente a um complexo residencial, a apenas 7 km do Kremlin. O incidente não só demonstrou a sofisticação das operações ucranianas, como também expôs a vulnerabilidade do poder russo em seu próprio território.

Quem era Igor Kirilov e por quê ele foi alvo?

Kirillov desempenhava um papel crucial como comandante das forças NBC, responsáveis por operações de defesa e ataque envolvendo armas químicas, biológicas e nucleares. Sob seu comando, as tropas russas conduziram ataques polêmicos, incluindo o uso de cloropicrina, um agente químico banido por convenções internacionais. Ele também esteve por trás do desenvolvimento de sistemas como os lança-chamas TOS-1 e TOS-2, utilizados em ataques devastadores contra fortificações e alvos urbanos. Por essas razões, sua eliminação foi considerada uma prioridade pelo SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia).

Multipolaridade: O contexto da fragilidade russa

A Rússia, sob a liderança de Vladimir Putin, tem se posicionado como um dos principais atores em uma ordem mundial multipolar, conceito que defende a distribuição do poder global entre várias nações, em oposição à hegemonia unipolar liderada pelos Estados Unidos. Em outras palavras, a multipolaridade pressupõe um mundo com diversos centros de poder, onde nenhuma nação domina sozinha a cena global.

A eliminação de Igor Kirilov revela falhas no poder interno russo e lança novas luzes sobre o cenário geopolítico global. (Imagem: Youtube/Reprodução)

No entanto, eventos como o assassinato de Kirilov em seu próprio território mostram que essa multipolaridade é acompanhada de uma crescente vulnerabilidade. Apesar de alegar liderança e influência global, o regime de Vladimir Putin parece estar cada vez mais acuado, tanto internamente quanto no cenário internacional.

A teoria do acordão: Putin e a entrega da Síria

Diante do enfraquecimento interno e das dificuldades na guerra na Ucrânia, surge a teoria de que Putin teria feito um acordo para entregar a Síria a outros atores regionais, como a Turquia ou Israel, ambos sob a tutela dos EUA. Essa hipótese, embora não explicitada, pode ajudar a explicar a aparente passividade russa diante dos avanços turcos na região e a intensificação da influência iraniana no país árabe.

Não custa lembrar que as bases militares russas foram preservadas dos ataques e seguem intocadas até o presente momento. A possibilidade de Putin recuar em sua influência no Oriente Médio seria uma forma de redistribuir recursos e tentar reforçar sua posição interna e no conflito ucraniano. Essa hipótese surge em meio à crescente pressão econômica e militar, que obriga o Kremlin a repensar sua estratégia global.

A retaliação russa: cenários possíveis

A eliminação de um alto oficial militar é vista como uma afronta direta ao poder russo, e uma retaliação é considerada inevitável. Entre as respostas mais prováveis estão:

  • Ataques Intensificados na Ucrânia: Incluindo infraestrutura crítica, como redes elétricas e estações de abastecimento.
  • Assassinatos Seletivos: Alvos podem incluir líderes militares e políticos ucranianos.
  • Propaganda Agressiva: Uma campanha para justificar e galvanizar apoio à escalada do conflito.

O impacto na guerra assimétrica

A operação que eliminou Igor Kirilov é mais do que um simples ataque: é um marco na guerra assimétrica moderna. O SBU, com apoio de agências ocidentais, demonstrou uma capacidade de inteligência e execução que transcende as linhas de frente. O ataque não só desestabiliza a liderança russa e a tão propagada multipolaridade, mas também redefine os parâmetros do conflito, deixando claro que o poder de Moscou está longe de ser absoluto.

Um conflito em evolução

A morte de Igor Kirilov é um símbolo da fragilidade do poder russo em um momento de crise. A multipolaridade, que deveria representar uma nova ordem global, parece fragilizada frente à crescente pressão sobre o Kremlin. Enquanto a resposta russa é aguardada com tensão, o ataque reafirma que a guerra entre Rússia e Ucrânia está longe de ser limitada aos campos de batalha. A sombra de um possível acordão envolvendo a Síria adiciona mais uma camada de complexidade à situação, sugerindo que estamos apenas no início de um conflito ainda mais amplo e imprevisível.

Sérvulo Pimentel

Sérvulo Pimentel