Em 1º comunicado, ex-presidente da Síria detalha últimos momentos no poder, desafia opositores e culpa colapso militar por sua evacuação para a Rússia

Em sua primeira declaração pública desde que fugiu da Síria após a queda de Damasco para forças rebeldes, o ex-presidente Bashar al-Assad divulgou um comunicado nesta segunda-feira (16), publicado no canal do Telegram que seria controlado pela presidência síria.
Assad negou que sua saída tenha sido planejada e afirmou que permaneceu na capital até o último momento, antes de se dirigir à base militar russa de Khmeimim, na província de Latakia, para “supervisionar as operações de combate”.
A declaração traz detalhes sobre os dias finais de seu governo, após a capital, Damasco, cair nas mãos de forças rebeldes lideradas pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), marcando o fim de mais de 50 anos de domínio da família al-Assad.
“Não fuji, fiquei em Damasco”
Assad começou negando que sua saída tenha sido planejada ou que tenha ocorrido antes do colapso total do governo. “Minha partida da Síria não foi planejada nem ocorreu durante as horas finais das batalhas, como alguns alegaram. Pelo contrário, permaneci em Damasco, desempenhando minhas funções até as primeiras horas de domingo, 8 de dezembro.”

Segundo o comunicado, Assad deixou a capital após a entrada de combatentes opositores, que ele descreveu como “forças terroristas”, e seguiu para a base militar russa de Khmeimim, na província de Latakia, para “supervisionar as operações de combate”. No entanto, a base tornou-se alvo de ataques intensos de drones por parte da oposição, forçando os militares russos a evacuar Assad e sua família para Moscou.
“Sem meios viáveis de deixar a base, Moscou solicitou que o comando organizasse uma evacuação imediata para a Rússia na noite de domingo, 8 de dezembro. Isso ocorreu um dia após a queda de Damasco, após o colapso das posições militares finais e a consequente paralisia de todas as instituições estatais restantes.”
Tom defensivo do comunicado
Assad insistiu que não abandonou voluntariamente o país e que nunca considerou renunciar. “Em nenhum momento durante esses eventos pensei em renunciar ou buscar refúgio, nem tal proposta foi feita por qualquer indivíduo ou partido”, afirmou, acrescentando que sua evacuação foi uma medida de última instância diante da completa desintegração das forças governamentais.
O comunicado, escrito em tom defensivo, justificou sua saída como inevitável diante do avanço das forças rebeldes e do colapso das instituições sírias. “Quando o estado cai nas mãos do terrorismo e a capacidade de fazer uma contribuição significativa é perdida, qualquer posição perde o propósito, tornando sua ocupação sem sentido”, declarou.
Avanço rebelde e cenário pós-Assad
A queda de Damasco em 8 de dezembro foi o capítulo final de uma ofensiva relâmpago iniciada pelo HTS, que tomou diversas cidades em menos de duas semanas. O grupo, originalmente vinculado à Al-Qaeda, assumiu o controle da capital e anunciou a formação de um governo de transição, marcando o fim da guerra civil que devastou a Síria por 13 anos.
O conflito, iniciado em 2011 como parte das revoltas da Primavera Árabe, deixou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados, transformando o país em um campo de batalha fragmentado.
Nos últimos dias, grupos de direitos humanos relataram novas descobertas chocantes em prisões sírias libertadas pelos rebeldes, com indícios de tortura e execuções em massa. O destino de dezenas de milhares de desaparecidos durante o governo de Assad ainda é desconhecido.
O futuro incerto da Síria
Apesar de sua promessa de tolerância e inclusão, o Hayat Tahrir al-Sham enfrenta desconfiança internacional devido ao seu histórico jihadista. O líder do grupo, Ahmed al-Sharaa, conhecido como Abu Mohammed al-Jolani, afirmou estar comprometido em formar um governo que respeite a diversidade religiosa e étnica da Síria. No entanto, muitos observadores questionam se essas promessas serão cumpridas.
Enquanto isso, Bashar al-Assad e sua família permanecem na Rússia, onde receberam asilo. Embora ele tenha se descrito como o “guardião” de um projeto nacional, o líder deposto encerra um capítulo controverso de sua história, marcado por acusações de crimes contra a humanidade e um legado de destruição.
O futuro político da Síria, agora sob domínio rebelde, permanece incerto, mas um novo capítulo começa em meio aos escombros de uma das guerras mais devastadoras do século XXI.
Leia o comunicado na íntegra clicando aqui.