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O fim da era OTAN? Como divisões internas e ameaças externas enfraquecem a aliança

por Rafael Cavacchini Publicado em 15/12/2024 — Atualizado em 14/12/2024
O fim da era OTAN? Como divisões internas e ameaças externas enfraquecem a aliança

O colapso da OTAN: os fatores que ameaçam levar ao fim a aliança militar mais poderosa do mundo

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), fundada em 1949, tem sido sobretudo um pilar de estabilidade e segurança para o Ocidente durante décadas. No entanto, desafios internos e externos têm levantado dúvidas sobre sua longevidade. Entre tensões políticas, divisões internas e influências externas, especialistas sugerem que a aliança pode estar caminhando para um futuro incerto, o que poderia levar ao fim da OTAN.

A influência russa e a estratégia de subversão interna

Um dos maiores fatores apontados para a fragilidade da OTAN é o papel da Rússia em desestabilizar a aliança. Relatórios indicam que mais de US$ 1 bilhão foi investido pelo Kremlin em “iniciativas eleitorais” em países europeus com o objetivo de enfraquecer a coesão da organização. Para Putin, fazer com que a OTAN caminhe para um fim, ou pareça caminhar para um, traria inúmeros benefícios políticos e econômicos

O esforço do Kremlin para desestabilizar a organização se traduz em ações como:

  1. Subversão de membros-chave: Países como Hungria, Eslováquia e Turquia vem sendo alvo de influências russas, passando a atuar hoje como aliados ambivalentes dentro da OTAN.
  2. Bloqueio de novas adesões: A pressão russa tem sido eficaz em impedir que nações como Moldávia e Geórgia ingressem na aliança, o que manteria a OTAN afastada de suas fronteiras estratégicas.
  3. Apoio à extrema direita: Nações como EUA, França, Alemanha e Espanha têm visto o crescimento de partidos políticos alinhados aos interesses de Moscou, o que enfraquece as bases democráticas e estratégicas da organização.

Paradoxalmente, a agressividade russa também forçou a adesão de países historicamente neutros, como Suécia e Finlândia. Ambos abandonaram sua neutralidade em busca da segurança proporcionada pela OTAN.

Divisões internas

Enquanto a Rússia tenta destruir a OTAN por fora, divisões internas ameaçam desestabilizá-la por dentro. A Turquia, por exemplo, tem agido de maneira contrária aos interesses coletivos, bloqueando decisões importantes e estreitando laços com Moscou. Além disso, a Hungria, sob o governo de Viktor Orbán, vem adotando posturas que desafiam diretamente os princípios da aliança.

Essas tensões internas levantam questões sobre a capacidade da OTAN de manter um consenso absoluto em tempos de crise. Esse é um problema grave principalmente quando membros agem como “aliados problemáticos”.

O impacto do isolamento americano

Os Estados Unidos sempre foram o principal fiador da OTAN. No entanto, a era Trump abalou profundamente essa posição. Entre 2015 e 2016, o então presidente ameaçou retirar o país da aliança, insistindo que outros membros deveriam aumentar seus gastos com defesa. Essas declarações minaram a confiança dos aliados europeus na estabilidade americana, incentivando discussões sobre a criação de um Exército Europeu Permanente.

Esse exército, liderado pela União Europeia, funcionaria de forma paralela à OTAN, mas sem a participação de países como EUA, Canadá e Turquia. Embora essa ideia ainda esteja em desenvolvimento, sua concretização poderia redefinir a segurança europeia e enfraquecer significativamente a presença americana no continente.

O custo de uma Europa após o fim da OTAN

Caso a OTAN venha a se fragmentar, os EUA enfrentariam um aumento significativo nos gastos com defesa. Esse aumento poderia chegar a 20% do atual orçamento. Isso serviria para compensar a perda de bases e outros ativos militares na Europa. Além disso, a ausência da OTAN criaria um vácuo de poder que poderia ser explorado pela Rússia e pela China, desestabilizando ainda mais a segurança global.

Assim, embora a OTAN continue a ser uma das alianças militares mais poderosas do mundo, sua sobrevivência dependerá de sua capacidade de se adaptar aos desafios do século XXI. A necessidade de abordar as divisões internas, lidar com a influência russa e fortalecer a confiança entre seus membros será sobretudo crucial para garantir que a organização não se torne apenas uma sombra do que já foi.


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.