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Por que somos chamados de brasileiros? De “Pindorama” a “Brasil”, a fascinante evolução da identidade nacional

por Rafael Cavacchini Publicado em 14/11/2024 — Atualizado em 13/11/2024
Por que somos chamados de brasileiros? De “Pindorama” a “Brasil”, a fascinante evolução da identidade nacional

A origem do nome “Brasil” é tema de debates e possui múltiplas teorias sobre suas raízes etimológicas. Uma das principais interpretações sugere que o nome advém da exploração de uma madeira corante valiosa, o pau-brasil, cujo nome em português vem da palavra “brasa”.

Por sua vez, a palavra “brasa” seria uma referência ao pigmento vermelho extraído da árvore, muito valorizado na indústria têxtil europeia.

Além disso, alguns estudiosos defendem que o nome possa estar ligado a lendas e à cartografia medieval europeia. Mapas antigos mencionavam uma ilha mítica chamada Hy-Brasil ou “Ilha dos Abençoados”. Esta ilha, supostamente, ficava no Oceano Atlântico. O termo “Brasil“, portanto, teria suas origens nas línguas celtas, onde “bress” ou “bresail” significa “abençoado”, ou “sortudo“. De acordo com essa teoria, o nome “Brasil” já fazia parte do imaginário europeu antes mesmo da chegada dos portugueses à América.

Alegoria do Brasil Império, 1822, por Jean-Baptiste Debret.

O Brasil antes de ser “Brasil”

Há outras interpretações. Por exemplo, fontes históricas como documentos medievais em latim referiam-se ao “brasile” ou “braxilis” como designações de corantes vermelhos. Há registros do uso do termo “brasil” para madeira com fins de tinturaria nos séculos XII e XIII, o que reforça a teoria de que o termo possa ter vindo da indústria de corantes.

Curiosamente, antes da colonização, os indígenas chamavam a terra de “Pindorama”. Em tupi, Pindorama significa “Terra das Palmeiras”. Contudo, após a chegada dos europeus e o início da exploração do pau-brasil, o nome “Brasil” tornou-se a designação oficial. Posteriormente, passou a ser “Império do Brasil” e mais adiante, “República Federativa do Brasil”.

Por que somos chamados de brasileiros?

O termo “brasileiro” tem uma trajetória de transformação que reflete a história social e cultural do país. No período colonial, “brasileiro” era um adjetivo que designava a profissão dos tiradores de pau-brasil. Tratava-se de uma atividade de exploração que muitas vezes envolvia contrabando e outras práticas ilegais. Esses homens, banidos de Portugal e forçados a viver na colônia, eram considerados criminosos. Assim, o termo “brasileiro” carregava uma conotação pejorativa.

Família Brasileira no Rio de Janeiro, 1839, por Jean-Baptiste Debret.

Foi o franciscano Frei Vicente do Salvador quem ousou dar ao termo um novo sentido. Em sua obra “História da Custódia Franciscana do Brasil”, ele empregou “brasileiro” não no antigo sentido ligado ao comércio de pau-brasil, mas para designar aqueles nascidos na terra que hoje é o Brasil. Esse novo uso do termo ajudou a suavizar o estigma e gradualmente elevou o adjetivo ao status de um gentílico, associado ao orgulho nacional.

O processo de mudança semântica se completou com o declínio do comércio do pau-brasil, quando a conotação original do termo começou a desaparecer. Ao longo dos anos, “brasileiro” deixou de significar “explorador de pau-brasil” e passou a ser uma referência aos nascidos no Brasil. Assim, o termo “brasileiro” finalmente ganhou um sentido patriótico, um dos símbolos do orgulho nacional.


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.