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Impactos da crise climática nas operações militares globais — Relatório da OTAN revela que mudanças no clima levaram a 29 mobilizações militares internacionais em 2023

por JB Reis Publicado em 24/09/2024
Impactos da crise climática nas operações militares globais — Relatório da OTAN revela que mudanças no clima levaram a 29 mobilizações militares internacionais em 2023

No último discurso na Organização das Nações Unidas, que pode ser visto em matéria publicada pela Revista Sociedade Militar, o presidente Lula mencionou (como a maioria dos chefes de Estados) a questão climática, e também citou os gastos crescentes com a indústria de armamentos e, ato contínuo, criticou a proliferação dos conflitos mundiais.

A ONU não conta com uma estrutura militarizada, não tem uma Força Armada. Já a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), é a maior instituição político-militar do mundo. 

A OTAN empenha-se na resolução pacífica de litígios. Caso os esforços diplomáticos falhem, a Organização conta com poder militar para realizar operações de gestão de crises.

Com essa expertise muito particular, a OTAN gerou um relatório detalhado sobre as mudanças climáticas e suas correlações com operações militares.

Mostramos neste artigo estudos de órgãos internacionais – além da OTAN, a Cruz Vermelha também está focada nesses mesmos assuntos – que abordam os dois temas, a relação entre eles e sua convergência. 


MUDANÇAS CLIMÁTICAS E NÍVEIS DE CONFLITO

Em julho deste ano, a OTAN analisou pela primeira vez as mudanças climáticas sob a perspectiva da segurança de seus aliados.

Conforme o estudo “Mudanças Climáticas e Segurança”, as alterações climáticas resultaram em 29 mobilizações militares internacionais em 2023 para responder a emergências em 14 países. 

O relatório destaca, por exemplo:

  • ações como o combate a incêndios florestais no Canadá, que envolveu milhares de militares durante mais de 4 meses em 2023.
  • apoio oferecido pelos aliados para controlar incêndios florestais na Grécia, o que causou a maior evacuação da história do país.
  • utilização de helicópteros e pontes flutuantes militares para gerenciar as consequências de uma grande inundação na Eslovênia.

Segundo o documento, as mudanças climáticas podem aumentar os níveis de conflitos, instabilidade e violência devido a grandes migrações populacionais e ao colapso da produtividade agrícola em algumas regiões.

A avaliação sugere que isso pode “alimentar uma rápida escalada de instabilidade e deslocamento em áreas já sob estresse climático.”


RANKING DA RESILIÊNCIA CLIMA/CONFLITO

Publicação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) informou que dos 20 países mais vulneráveis à mudança climática, a maioria está em guerra.

Esses dados vieram do ND-Gain Index (Índice de Adaptação Global da Universidade de Notre Dame), que analisa a vulnerabilidade de um país à mudança climática e a outros desafios globais, contrastando-a com sua capacidade de melhorar a resiliência.

O Índice ND-Gain visa ajudar governos, empresas e comunidades a priorizar melhor os investimentos para uma resposta mais eficiente aos desafios globais imediatos que estão por vir.

Países com maiores capacidades de fazer frente às mudanças climáticas.

Iêmen, Mali, Afeganistão, República Democrática do Congo e Somália, todos eles lugares de conflitos, figuram entre os últimos do ranking. O Brasil está no praticamente no ponto médio da classificação.

Países com capacidades medianas de fazer frente às mudanças climáticas.

Isto não quer dizer que haja uma correlação direta entre mudança climática e conflito armado.

O índice sugere que países que enfrentam conflitos são menos capazes de lidar com a mudança climática, justamente porque sua capacidade de adaptação é enfraquecida pelas hostilidades.

As pessoas que vivem em zonas de conflito, portanto, estão entre as mais vulneráveis à crise climática e as mais negligenciadas pelos efeitos da ação climática.

 

JB Reis

JB Reis

Militar da reserva, articulista da Revista Sociedade Militar. https://linktr.ee/veteranistao