Uso de VPNs na China quase dobra em um ano em meio ao aumento da censura digital e restrições severas a jovens jogadores

No ano passado, o uso de VPNs na China quase dobrou, de acordo com dados do site de notícias Techopedia, mesmo com o rigoroso controle do país sobre a internet, que impede o acesso a uma vasta gama de sites estrangeiros e até mesmo a jogos online.
O “Grande Firewall” da China é um dos regimes de censura digital mais abrangentes do mundo, bloqueando o acesso a plataformas como Instagram, Wikipedia, YouTube e à maioria dos principais veículos de imprensa internacionais, incluindo a VOA.
Os VPNs são proibidos na China porque permitem que os usuários contornem o “Grande Firewall” e se conectem de forma segura à internet fora do país, ocultando seus endereços IP. Rob Binns, jornalista da Techopedia, sugere que o aumento nas políticas de censura pode explicar o crescimento do uso de VPNs na China.
“Olhando para o uso de VPNs em relação ao que ele combate, que é a censura online, estamos vendo a censura na internet em vários países, especialmente na China, se tornando mais estratégica e cirúrgica”, afirmou Binns em entrevista à VOA.
Em 2021, os reguladores chineses limitaram o acesso de adolescentes a jogos online a três horas por semana, com horários restritos entre 20h e 21h às sextas, sábados e domingos.
Em dezembro do mesmo ano, novas restrições ainda mais severas foram implementadas, impondo limites de gastos em plataformas de jogos e proibindo incentivos para logins diários. Binns acredita que essas regulamentações têm incentivado particularmente o aumento do uso de VPNs por parte de jovens na China.
“Com esse público mais jovem, que tradicionalmente é altamente tecnoliterado, eles sempre vão procurar maneiras de contornar essa pressão governamental e encontrar formas de burlar isso”, disse Binns.
Analistas apontam que os VPNs permitem que os usuários chineses discutam questões políticas importantes na internet sem enfrentar represálias governamentais.
“Ferramentas de circunvenção como os VPNs podem capacitar as pessoas na China a acessar a internet global, incluindo espaços onde podem se expressar livremente sem medo de censura”, disse Kian Vesteinsson, analista sênior de tecnologia e democracia na Freedom House, em resposta por e-mail à VOA.
Ele destacou que, durante os protestos nacionais sem precedentes no final de 2022, muitos chineses usaram VPNs para contornar o Grande Firewall e compartilhar suas opiniões em plataformas de mídia social inacessíveis.
O uso de VPNs, como o Surfshark, tem sido uma das opções escolhidas pelos chineses para garantir sua privacidade online e driblar as severas restrições impostas pelo governo.
Vale ressaltar que há opções de vpn brasileira que também oferecem recursos robustos de proteção e privacidade para usuários ao redor do mundo.
Acesso à internet livre e aberta pode representar uma ameaça ao Partido Comunista Chinês (PCC), o que justifica a repressão do governo ao uso da internet. “A tecnologia de circunvenção ajudou a produzir um dos maiores desafios ao governo do PCC em décadas”, disse Vesteinsson.
As autoridades do PCC responderam aos protestos de 2022, em parte, apagando referências a VPNs da internet chinesa. “As pessoas enfrentam consequências severas por usar VPNs proibidos, especialmente se pertencem a uma minoria étnica ou religiosa marginalizada ou tentam acessar conteúdo censurado pelas autoridades”, acrescentou Vesteinsson.
Os analistas preveem que novas repressões podem levar tanto a um aumento adicional no uso de VPNs quanto a uma relutância em usá-los, dependendo de como a China decide fortalecer ainda mais seu regime de censura. Antonia Hmaidi, analista sênior do Mercator Institute for China Studies, em Berlim, sugere que, em vez de reprimir diretamente, a China poderia optar por desacelerar a velocidade das conexões fora do país, tornando o uso de VPNs mais inconveniente e mantendo uma lista aprovada de conexões rápidas para empresas.