A demanda por mais tropas representa um desafio adicional para o governo alemão, que já luta para financiar um aumento significativo nos gastos com defesa após a invasão russa da Ucrânia em 2022. O debate sobre a reintrodução de algum tipo de serviço militar obrigatório também está em pauta.

No ano passado, líderes da OTAN aprovaram os primeiros grandes planos de defesa desde o fim da Guerra Fria, detalhando como a aliança responderia a um ataque russo. Esse movimento marcou uma mudança fundamental, pois a OTAN, durante décadas, focou em conflitos menores no Afeganistão e no Iraque, sem considerar a Rússia pós-soviética como uma ameaça existencial.

Necessidades Militares e Capacidades

Os planejadores militares da OTAN e dos países membros estão agora traduzindo esses planos em requisitos concretos, identificando carências de tropas, armas e outros equipamentos necessários para defender contra um ataque russo que, segundo a alta cúpula militar alemã, poderia ocorrer já em 2029.

Conforme os requisitos são definidos, os aliados terão que negociar quais países preencherão quais lacunas de capacidade. Esses requisitos incluem alvos mais rigorosos para reforçar as defesas aéreas, estoques de mísseis de longo alcance e capacidades logísticas, conforme informado por um diplomata europeu à Reuters.

Após a Guerra Fria, muitos aliados da OTAN reduziram o número de unidades de defesa aérea, refletindo a avaliação de que teriam que lidar apenas com uma ameaça limitada de mísseis vindos de países como o Irã. A Alemanha, que tinha 36 unidades Patriot durante a Guerra Fria, agora possui apenas nove.

Planos Custosos

As novas exigências da OTAN significam que as forças armadas da Alemanha, a Bundeswehr, precisarão de mais 75.000 soldados para preencher corpos, divisões e brigadas adicionais necessários para implementar os planos de defesa, de acordo com documentos confidenciais do Ministério da Defesa citados pela Spiegel.

Uma fonte militar sênior disse à Reuters que o número pode precisar ser ainda maior, considerando que a Alemanha seria uma área de estágio e um centro logístico principal em um conflito, sugerindo uma “figura de cinco dígitos” além dos 75.000 mencionados.

Atualmente, a Bundeswehr conta com cerca de 180.000 soldados e 80.000 funcionários civis.

O financiamento da defesa tornou-se um ponto crítico para a coalizão de três vias do Chanceler Olaf Scholz nas discussões sobre o orçamento do próximo ano. Scholz revelou um fundo de 100 bilhões de euros em 2022 para reformar o exército. A Alemanha está prestes a cumprir pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria o compromisso da OTAN de gastar pelo menos 2% do produto interno bruto em defesa.

No entanto, após superar um impasse orçamentário no início deste ano, o governo está novamente debatendo como continuar financiando as forças armadas uma vez que o fundo de 100 bilhões de euros expire. Scholz apoiou seu ministro das finanças, que rejeitou as demandas do Ministro da Defesa, Boris Pistorius, de aumentar o orçamento de defesa, atualmente previsto em cerca de 52 bilhões de euros, em mais 6,7 bilhões de euros em 2025.

Pistorius também encarregou seu ministério de explorar modelos potenciais para reintroduzir uma forma de serviço militar. A Spiegel relatou que ele apresentaria planos para recrutar 10.000 pessoas por ano, pedindo que voluntários preencham um questionário em uma campanha com o slogan “Melhor ano da minha vida”.