Por que o Comandante do Exército Brasileiro vai a China? Professor do IBMR analisa “timming” da viagem do General Tomás

Artigo escrito por Felipe Gil, professor do departamento de Gestão e Negócios do IBMR e servidor público.
O Ministro de Estado da Defesa, José Mucio Monteiro Filho, por meio de portaria publicada no diário oficial da união no dia 29 de abril, autorizou o afastamento do Comandante do Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro de Paiva para uma visita à Pequim na China, por 10 dias.
De acordo com publicação feita na Revista Sociedade Militar, a missão é considerada eventual, de natureza militar, sem mudança de sede e sem dependentes. Mas a pergunta é: por que o Comandante do Exército brasileiro vai em missão à China?
Sabemos que Brasil e China mantém boas relações diplomáticas. Além disso, boa parte da economia brasileira possui alto grau de relação com os chineses. Quanto à exportação, a China é o principal destino das exportações brasileiras de commodities agrícolas, como soja, milho, algodão, café e carne bovina.
Além disso, o Brasil exporta em altos níveis minérios de ferro, cobre, níquel e manganês, essenciais para a indústria chinesa, além da exportação de madeira, celulose e outros produtos florestais, que são utilizados em diversos setores da economia chinesa, como por exemplo a construção civil, setor chinês que há 20 anos não para de crescer.
Além disso, o Brasil importa muitos produtos chineses, tais como produtos manufaturados eletrônicos como máquinas, veículos e brinquedos; além de componentes eletrônicos e produtos químicos como fertilizantes, pesticidas e plásticos.
Por mais que Brasil e China se entendam e tenham boas relações econômicas e diplomáticas, os países possuem divergências em suas formas de governo e estado. Além disso, é senso comum que o militarismo brasileiro e os ideais comunistas são antagônicos ao longo da história. Ademais, a China tem uma posição clara quanto à ameaça e invasão russa e ao conflito de Israel e Palestina: não compactua com as aspirações do mundo ocidental. Sabemos que até o momento, pelo menos publicamente, a China se mantém neutra nos dois conflitos, mas a pergunta que todos se fazem é: até quando?
A estranheza da visita do Comandante das Forças Armadas se dá justamente pelo “timming” da viagem. Há poucos meses, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou suas críticas a Israel no combate ao grupo terrorista Hamas e sabemos do posicionamento chinês dentro dos conflitos, além de questões internas como o não reconhecimento de Hong Kong ou de Taiwan como nações independentes.
Em abril de 2021, ainda longe dos acontecimentos recentes citados, a dissertação de Mestrado em estudos militares de Alexandro de Araújo Baptista “The influence of China in Brazil: how it can change military cooperation between Brazil and the United States” aponta que em um cenário em que Grandes Potências exijam que o Brasil escolha um lado do conflito, as relações internacionais do país seriam altamente influenciadas de acordo com a decisão brasileira de qual lado apoiaria. Por isso, com a escalada das tensões e ações, o Brasil acabaria tendo que escolher o lado ocidental ou oriental do conflito e a visita do Comandante pode ser um indicativo de qual lado o Brasil apoiará no curto prazo.
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