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Revolução ou golpe? General se nega a apoiar ação militar de 1964: bate boca na câmara

por Sociedade Militar Publicado em 08/08/2023
Revolução ou golpe? General se nega a apoiar ação militar de 1964: bate boca na câmara

O Deputado Federal Ricardo Salles (PL – SP) questionou o general Gonçalves Dias, militar reformado do Exército Brasileiro, que foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional no Início do governo Lula, sobre a sua visão a respeito da ação das Forças Armadas em 1964. O parlamentar foi bastante criticado pelos seus pares na CPI após o questionamento, mas insistiu e justificou a sua pergunta alegando que Modus Operandi do MST é semelhante ao que os militares tentavam combater a partir de 1964.

Essas ações que nós estamos vendo hoje do MST se aliam muito, muito, ao que se quis combater em 64… É a primeira vez que um militar, sobretudo um oficial general de três estrelas, não defende a importante ação de 1964” Ricardo Salles

O general respondeu que foi impulsionado para a carreira militar pela necessidade financeira da sua família e a vocação militar que possuía, disse ainda que não entraria em detalhes sobre sua visão acerca do “episódio de 64”.

Indignado e insatisfeito com a resposta recebida, o deputado Ricardo Salles fez uma menção, muito criticada por outros parlamentares, a episódio ocorrido na academia militar das Agulhas Negras em 1975, quando cerca de uma dezena de cadetes foram indiciados como consequência de uma denúncia de que colaram em atividade escolar. Dos indiciados, 3 foram expulsos por serem considerados indignos para o oficialato e o outros foram punidos com prisão. O então cadete Marco Edson Gonçalves Dias está entre os que foram punidos com prisão disciplinar. O general se negou a responder sobre a questão ocorrida na AMAN.

CPI MST – 1 de agosto de 2023

Veja a transcrição do interrogatório na CPI do MST

O SR. RICARDO SALLES (PL – SP) – Muito bem. General, o senhor destacou aqui, dentre outros aspectos, o fato de o senhor ter ingressado na academia em 1969 para iniciar a sua carreira. Apenas 5 anos depois do advento de 31 de março de 64 — obviamente, o senhor, ainda estudante, um cadete lá da Academia Militar. Sabemos todos, alguns com uma opinião, outros com outra, mas sabemos todos o que se passou naquela altura. Eu queria a sua opinião: o senhor entende que o episódio de 64, que certamente impulsionou a sua decisão, foi algo positivo ou negativo para a história do Brasil?

O SR. MARCO EDSON GONÇALVES DIAS – Deputado Ricardo Salles, eu não parei para raciocinar em cima disso. O que me impulsionou na minha carreira, logicamente, foi a minha vocação de querer ser soldado e foi uma necessidade da minha família. Entrar nessa situação — se foi bom ou se foi ruim o movimento de 64 — é polêmico, é polêmico. E, Deputado, se o senhor me respeitar pela minha história, eu não gostaria de entrar nessa seara. Obrigado, Deputado.

O SR. RICARDO SALLES (PL – SP) – General, eu vou repetir a pergunta, simplificar a pergunta. O senhor entende que 64 foi algo positivo ou negativo para o Brasil dali por diante? A pergunta é simples.

O SR. MARCO EDSON GONÇALVES DIAS – Deputado, obrigado pela pergunta, mas eu gostaria de me ater ao requerimento, à minha convocação. Obrigado, Deputado. (Palmas.)

O SR. RICARDO SALLES (PL – SP) – Vou retomar. General, repito: a Força, o Exército Brasileiro, que o senhor referiu que serviu por 44 anos, sempre, sempre se orgulhou da importante medida de 31 de março de 64, porque, se não fosse o 31 de março de 64, nós chegaríamos mais rapidamente aonde alguns aqui querem chegar neste momento. Portanto, para mim, soa muito estranho — para não dizer uma certa traição aos seus colegas de caserna — o senhor não dizer que 64 foi uma boa medida. Agora, talvez, talvez essa sua posição explique… Deputada… O senhor aguarde…

O SR. RICARDO SALLES (PL – SP) – Vamos voltar aqui aos trabalhos. General, vou repetir. A pergunta se justifica para que nós saibamos se, neste horizonte de tempo, de 31 de 64 até hoje, o senhor se situa ao lado daqueles que fizeram a Revolução de 64 ou contra a Revolução de 64, porque essas ações… Não é a vez de a senhora falar. Essas ações que nós estamos vendo hoje do MST se aliam muito, muito, ao que se quis combater em 64. E os militares, seus colegas, até onde eu sei, unanimemente… É a primeira vez que um militar, sobretudo um oficial general de três estrelas, não defende a importante ação de 1964. Vou lhe perguntar novamente: o senhor é a favor ou contra a ação de 64? Última oportunidade. Os seus militares, seus colegas, estão assistindo.

O SR. MARCO EDSON GONÇALVES DIAS – Deputado, isso não é objeto da investigação desta Comissão. (Palmas.) A minha Força, o Exército Brasileiro, ele pauta a sua conduta em cima da hierarquia, em cima da disciplina e da cadeia de comando, amalgamada pelos valores éticos e morais, pensando num País maior e num País que tenha equidade e espaço para todos. Obrigado, Deputado. (Palmas.)

O SR. RICARDO SALLES (PL – SP) – Então, como o senhor se recusa a se posicionar a favor da história da sua instituição, eu vou prosseguir. Eu fiz um levantamento com os oficiais seus colegas, contemporâneos ou não da Academia Militar. E foi muito interessante, porque a primeira coisa que alguns me contaram foi que, no ano de formatura, 1975, três militares foram pegos colando na Academia Militar; dois foram expulsos e um foi preso por 20 dias. O senhor sabe quem foi o militar que foi preso por colar no último ano da Academia Militar?

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