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Você já ouviu falar de “Turismo de Parto”? Russas grávidas estão migrando para o Brasil. Entenda.

por Rafael Cavacchini Publicado em 15/04/2023
Você já ouviu falar de “Turismo de Parto”? Russas grávidas estão migrando para o Brasil. Entenda.

A procura pelo chamado “turismo de parto” no Brasil cresceu muito nos últimos anos. Mulheres grávidas, russas e ucranianas, estão vindo em grande número para o país para terem seus filhos, principalmente, por conta da Invasão da Ucrânia em 2022 por Vladmir Putin.

Os números chamam a atenção e não param de crescer. Foram criados inclusive fóruns específicos nas redes sociais para troca de dicas entre quem quer vir e quem já teve a experiência de vir pra cá. A procura é tanta que já existem até agências especializadas para realizar o serviço. O preço varia de acordo com o especificações escolhidas pelas grávidas, mas a média é de cerca de 5 mil dólares, ou aproximadamente R$ 23.000.

“Turismo de Parto”: procura é tanta que foram criadas até agências específicas para o serviço.

O objetivo é claro: ter filhos com cidadania brasileira. E, de quebra, obter também cidadania brasileira para os pais. “O passaporte brasileiro abre muito mais portas do que o russo”, explica a socióloga Svetlana Ruseishvili, professora da Universidade de são Carlos, a UFSCar. “O turismo de parto tornou-se uma estratégia para aumentar o capital migratório, ou seja, para aumentar as oportunidades de viagens internacionais.”, pontua a socióloga, que publicou um artigo científico sobre o assunto.

O passaporte brasileiro permite o acesso sem visto a mais de 150 países, o que o coloca em 20º lugar no Henley Passport Index, ranking que mede o poder de um passaporte na hora de obter vistos ou entrada livre nos demais países do mundo. A Rússia está em 49º no ranking.

Cidadania automática ao nascer

Poucos países no mundo concedem o direito à cidadania automaticamente no nascimento – o chamado “jus soli”. O sistema é muito comum nas Américas, sendo a Argentina, o México e, principalmente, o Brasil, os três países mais procurados por famílias russas para esse fim. A facilidade de regularização para pais de crianças nascidas no Brasil é outro atrativo. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe também o “jus soli”, mas as barreiras são tantas e o custos com viagens e serviços médicos tão elevados que torna a ideia impraticável.

Aqui, no entanto, tudo é bem mais simples e bem mais barato. Diferente dos Estados Unidos, o Brasil conta com um sistema público de saúde universal, o SUS, que atende essas mulheres de forma gratuita.

 

Em azul escuro, países que oferecem cidadania incondicional para pessoas nascidas dentro de seu território. No tom intermediário, cidadania com restrições. Em azul claro, a lei não garante cidadania a ninguém que nascer no território.

Pela lei brasileira, os pais do bebê recebem imediatamente uma autorização de residência no país e, dois anos depois, podem solicitar a naturalização, desde que estejam morando no Brasil e façam uma prova de português.

São Paulo, Rio, Paraty e Curitiba são algumas cidades mais procuradas pelas mães russas. A campeã, no entanto, é Florianópolis, por ser considerada mais segura.

O aumento do número de mulheres russas tendo filhos na capital catarinense chegou a gerar um alerta no Ministério Público, que suspeitava que os nascimentos poderiam estar ligados a uma rede internacional de tráfico de crianças. Em 2019, a justiça estadual determinou que a Polícia Federal investigasse os casos. Um dos bebês teria sido encaminhado para um abrigo até que se averiguasse o caso.

Na ocasão, a PF informou por meio de nota que realizou investigação preliminar e não encontrou irregularidades imigratórias ou indícios de crime de tráfico de pessoas.

Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.