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FAB já planeja privatizar a ALADA, empresa espacial criada há menos de 5 meses; Brigadeiro Damasceno afirma que modelo será semelhante ao da Embraer: estatal hoje, privada amanhã

por Sérvulo Pimentel 06/05/2025
FAB já planeja privatizar a ALADA, empresa espacial criada há menos de 5 meses; Brigadeiro Damasceno afirma que modelo será semelhante ao da Embraer: estatal hoje, privada amanhã

Em discurso revelador na FIESP, o Comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, deixou claro que a ALADA (Autoridade de Lançamentos Aeroespaciais do Brasil), empresa pública criada em janeiro de 2025, já nasceu com destino à privatização.

“A empresa pública é o começo de um caminho para que se torne um dia privado. Sempre foi assim. A Embraer nasceu dentro da Força Aérea, não era nada, virou uma empresa pública, passou um momentinho de PPP e hoje é uma empresa que todos conhecem”, declarou Damasceno durante evento realizado no auditório da FIESP em março.

Inspiração na Índia e no modelo Embraer

O Brigadeiro citou a Índia como exemplo de sucesso no setor espacial, graças a uma empresa pública que impulsionou o desenvolvimento tecnológico. “Criamos uma empresa pública e esse impulso fez com que hoje a Índia esteja colocando artefatos na Lua”, destacou.

Comandante da Aeronáutica revela que a ALADA, empresa pública recém-criada, já nasce com destino traçado: seguir roteiro da Embraer e se tornar privada. (Reprodução/Youtube)

O Comandante ainda citou diretamente a Embraer como exemplo do caminho que a ALADA deve percorrer:

“A Embraer nasceu dentro da Força Aérea, não era nada, virou uma empresa pública, passou um momentinho de PPP e hoje é uma empresa que todos conhecem aqui. Quem não tem ação da Embraer está perdendo tempo.”

Projeto trilionário nasce enxuto

Mesmo mirando um mercado global de meio trilhão de dólares anuais que deve quadruplicar nos próximos dez anos, a ALADA foi desenhada como uma empresa enxuta.

“A empresa não é uma construtora, a empresa é um escritório, é uma empresa pequena. A nossa ideia é que seja realmente pequena, com 30, 40 pessoas, não mais do que isso”, explicou o Brigadeiro.

Modelo indiano inspira criação

A criação da ALADA foi acelerada após visita do Comandante à Índia em 2024. Damasceno relatou o encontro com seu homólogo indiano:

“Ele falou assim: ‘Damasceno, nós éramos vocês 20 anos atrás. No começo do século, há 25 anos atrás, o nosso investimento é muito parecido com o de vocês. Nós não éramos nada, mas criamos uma empresa pública e esse impulso fez com que nós na Índia hoje estamos colocando artefato na Lua'”.

GRU, o problema a ser superado

Um dos principais motivos para a criação da empresa é superar limitações orçamentárias da FAB, que atualmente não pode reter receitas de seus serviços espaciais.

“Cobra preço de custo, não adianta ter lucro. Esse lucro não me chega. Essas receitas não são revertidas hoje ao Programa Espacial Brasileiro e tudo é GRU”, lamentou Damasceno.

Novos negócios à vista

Com a ALADA, a FAB poderá subrogar (assumir um direito) contratos existentes e criar novos. A empresa já nasce com clientes como Innospace, 6 Launch e Telespazio, que farão lançamentos nos centros de Alcântara e Barreira do Inferno.

Uma única operação da Innospace injetou cerca de R$ 50 milhões em Alcântara durante três meses e meio, recursos que antes não beneficiavam diretamente o programa espacial.

Governança mista e capital privado

Damasceno enfatizou que não deseja uma empresa “genuinamente militar” e já recebe currículos de profissionais da indústria espacial e aeronáutica interessados em participar.

“Vamos buscar agora o capital privado”, afirmou Damasceno, reforçando a visão de que a ALADA funcionará como ponte entre o Estado e o setor privado.

Embraer: privatização após crise, não processo natural

Diferentemente da narrativa apresentada, a privatização da Embraer em 1994 ocorreu após graves crises nos anos 80 e 90, quando a empresa estava “à beira da falência”, conforme reportagem do G1 de 2018.

A empresa, criada durante a ditadura militar em 1969, foi privatizada no governo Itamar Franco após enfrentar sérias dificuldades financeiras, e não como evolução natural de uma empresa bem-sucedida.