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Drones dos EUA de R$ 1 bilhão são abatidos por Houthis em retaliação: ataques diários no Iémen acendem alerta global de guerra indireta que pode arrastar potências para nova crise

por Alisson Ficher 03/05/2025
Drones dos EUA de R$ 1 bilhão são abatidos por Houthis em retaliação: ataques diários no Iémen acendem alerta global de guerra indireta que pode arrastar potências para nova crise

O Oriente Médio volta a ocupar o centro das atenções globais, desta vez com um capítulo surpreendente e alarmante da guerra não declarada que se desenrola no Iêmen.

O grupo rebelde Houthi, apoiado pelo Irã, intensificou sua ofensiva contra alvos norte-americanos, mudando o curso de um conflito que há meses desafia potências internacionais.

Entre o fim de março e a segunda quinzena de abril de 2025, os rebeldes conseguiram o que poucos imaginavam ser possível: derrubaram, com sucesso, uma das mais avançadas e caras ferramentas do arsenal militar dos Estados Unidos.

Segundo o portal de noticias ”R7”, foram sete drones MQ-9 Reaper abatidos em menos de um mês, equipamentos de vigilância e ataque que juntos somam perdas superiores a US$ 200 milhões, o equivalente a aproximadamente R$ 1 bilhão.

Cada aeronave não tripulada, equipada com sensores de última geração e capacidade de ataque preciso, custa em torno de US$ 30 milhões (cerca de R$ 168 milhões), e sua destruição em série acende um sinal vermelho não só para o Pentágono, mas para todo o equilíbrio militar na região.

Ataques aéreos e resposta dos EUA

Os drones foram abatidos durante missões de vigilância ou ataque, caindo tanto em terra quanto no mar.

Três desses incidentes ocorreram na última semana do período mencionado, indicando uma possível melhoria na capacidade dos Houthis de atingir aeronaves em altas altitudes.

Autoridades de defesa norte-americanas confirmaram que os ataques ocorreram nos dias 31 de março, 3, 9, 13, 18, 19 e 22 de abril, provavelmente devido a fogo hostil, embora investigações ainda estejam em andamento.

Em resposta, os Estados Unidos realizaram ataques aéreos quase diários, atingindo mais de 800 alvos, incluindo centros de comando, depósitos de armas e defesas aéreas.

De acordo com o porta-voz do Comando Central, Dave Eastburn, essas operações resultaram na morte de centenas de combatentes e líderes Houthi.

No entanto, o impacto na população civil tem gerado preocupações.

Segundo o ”The Washington Post” e organização britânica Airwars, entre 27 e 55 civis morreram em ataques em março, com números possivelmente maiores em abril.

Ações militares conjuntas e impacto no comércio internacional

Os Estados Unidos e o Reino Unido intensificaram suas operações militares na região.

Em 9 de março de 2025, as forças navais dos dois países conseguiram interceptar 21 drones e mísseis disparados pelos rebeldes em direção às rotas marítimas internacionais no sul do Mar Vermelho.

O ministro da Defesa do Reino Unido descreveu esse ataque como o maior já realizado pelos Houthis na região até aquele momento.​

Essas ações conjuntas visam proteger o comércio internacional, especialmente em uma área estratégica que representa cerca de 15% do tráfego marítimo mundial.

Os Houthis, por sua vez, justificam seus ataques como uma forma de “legítima defesa”, em solidariedade ao Hamas no conflito contra Israel, ampliando assim o escopo do conflito para além das fronteiras do Iémen .

Conflitos no Estreito de Bab al-Mandeb

Além dos ataques aéreos, os Houthis intensificaram os ataques contra navios dos EUA, Reino Unido e Israel no Estreito de Bab al-Mandeb, uma rota comercial estratégica que movimenta cerca de US$ 1 trilhão (aproximadamente R$ 5,6 trilhões) anualmente.

Desde novembro de 2023, o grupo atacou mais de 100 navios mercantes, afundando dois deles e matando quatro marinheiros.

Esses ataques são vistos como uma resposta à escalada militar no país e à guerra de Israel na Faixa de Gaza.

Os Houthis afirmam que os ataques cessarão caso Israel aceite um cessar-fogo permanente.

Escalada militar e perdas civis

A intensificação dos ataques levou a uma escalada militar significativa.

Em 17 de abril de 2025, os Estados Unidos realizaram 14 ataques aéreos no terminal de petróleo de Ras Isa, na província de Hodeidah, controlada pelos Houthis.

O ataque resultou na morte de pelo menos 80 pessoas e feriu mais de 150, tornando-se o mais letal desde o início da campanha militar norte-americana em março.

O governo dos EUA afirmou que o objetivo era degradar a capacidade econômica dos Houthis, enquanto os Houthis condenaram o ataque como um “crime de guerra”, alegando que o terminal é uma instalação civil e não militar.

Além disso, houve ataques em Sanaa, a capital do Iêmen, que resultaram em mortes e ferimentos em áreas residenciais.

Escalada de tensões e consequências internacionais

A intensificação dos ataques aéreos dos Estados Unidos e a crescente capacidade dos Houthis de abater drones de vigilância dos EUA têm gerado preocupações internacionais sobre as consequências geopolíticas do conflito no Iémen.

Além da escalada militar no Oriente Médio, que envolve diretamente potências como os EUA e aliados regionais, a situação impacta as rotas comerciais globais.

O Estreito de Bab al-Mandeb, por onde circula cerca de 10% do petróleo mundial, tem sido alvo de ataques recorrentes aos navios comerciais, resultando em perdas materiais e afetando o comércio internacional.

A crescente instabilidade na região tem atraído uma resposta mais enérgica dos EUA e seus aliados, com ameaças de ações militares mais agressivas.

Além disso, a proliferação de armas sofisticadas e o apoio do Irã aos Houthis tornam o conflito uma ameaça mais ampla, pois as potências ocidentais temem que essas tecnologias avancem para mãos erradas.

A possibilidade de o Irã utilizar ou compartilhar a tecnologia dos drones abatidos com outros aliados, como a Rússia, agrava ainda mais os riscos.

Essa dinâmica aumenta as tensões não apenas no Oriente Médio, mas também nas relações entre os EUA e seus aliados, como o Reino Unido e Israel, e países com uma posição mais próxima do Irã, como a Rússia e a China.

Reações internacionais e preocupações com armas não detonadas

A comunidade internacional tem acompanhado de perto os desenvolvimentos no Iêmen.

Recentemente, uma bomba guiada de precisão GBU-53/B StormBreaker, fabricada nos EUA, foi encontrada intacta na província de Shabwah, no Iêmen.

Especialistas alertam sobre os riscos de que a arma caia em mãos erradas, como as do Irã, que poderia reverter a engenharia da munição para uso próprio ou de aliados como a Rússia.

A StormBreaker é projetada para atingir alvos móveis ou estacionários em condições climáticas adversas e pode atualizar informações de alvos durante o voo.