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À beira de mais uma guerra: ataque militar indiano contra o Paquistão é dado como iminente e reacende o temor de um confronto militar e nuclear

por Alisson Ficher 03/05/2025
À beira de mais uma guerra: ataque militar indiano contra o Paquistão é dado como iminente e reacende o temor de um confronto militar e nuclear

Durante décadas, a região da Caxemira tem sido um dos pontos mais instáveis do planeta.

Situada entre duas potências nucleares com um histórico de guerras e desconfiança mútua, essa área montanhosa do sul da Ásia permanece no centro de disputas territoriais e ideológicas.

Agora, um novo episódio violento reacende temores antigos e traz à tona a fragilidade de acordos diplomáticos que, por anos, seguraram o avanço de uma nova guerra.

O atentado ocorrido em Pahalgam, no norte da Índia, não apenas ceifou vidas inocentes como também empurrou Índia e Paquistão de volta à beira de um conflito armado.

Tensão extrema entre Índia e Paquistão após atentado em Pahalgam

Em 22 de abril de 2025, um atentado terrorista no Vale de Baisaran, próximo a Pahalgam, no estado de Jammu e Caxemira, administrado pela Índia, resultou na morte de 26 turistas, incluindo 25 indianos e um nepalês.

O ataque, ocorrido por volta das 14h50, foi atribuído inicialmente ao grupo insurgente Frente de Resistência (TRF), vinculado ao Lashkar-e-Taiba, organização terrorista com base no Paquistão.

Segundo informações do portal de noticias da ”CNN Brasil”, a violência gerou uma crise diplomática entre os dois países nucleares, com acusações mútuas de apoio ao terrorismo transfronteiriço e ações retaliatórias que elevaram o risco de um conflito armado.

O ataque: detalhes e vítimas

Cinco militantes armados com carabinas M4 e AK-47 invadiram a área turística, que é acessível apenas a pé ou a cavalo, e abriram fogo contra os turistas.

Relatos indicam que os agressores questionaram as vítimas sobre seus nomes e religiões antes de atirar nelas.

Alguns turistas foram forçados a recitar versos islâmicos ou a remover suas calças para verificar a circuncisão antes de serem baleados.

Entre os mortos estavam turistas de diversos estados indianos, além de um oficial da Marinha Indiana e um funcionário do Departamento de Inteligência.

Reações da Índia e do Paquistão

Em resposta, a Índia suspendeu sua participação no Tratado das Águas do Indo e rebaixou suas relações diplomáticas com o Paquistão.

Além disso, o governo indiano expulsou diplomatas paquistaneses e fechou o espaço aéreo para aeronaves do Paquistão.

O Paquistão retaliou fechando seu espaço aéreo para aeronaves indianas, expulsando diplomatas e suspendendo o comércio bilateral.

Na Linha de Controle, a fronteira de fato entre as áreas controladas por Índia e Paquistão na Caxemira, os tiroteios se intensificaram, com tropas dos dois lados trocando disparos há quatro dias consecutivos.

Ameaças nucleares e escalada militar

O ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Muhammad Asif, afirmou que uma incursão militar indiana seria iminente e que o país está pronto para responder a qualquer ameaça, inclusive com o uso de armas nucleares “em caso de ameaça direta à existência nacional”.

A Índia, por sua vez, realizou exercícios militares e testes de mísseis de longo alcance nos últimos dias, numa tentativa de demonstrar sua capacidade de dissuasão.

Lideranças locais na região de Jammu e Caxemira pediram cautela para evitar que a população civil seja vítima de ações militares.

Histórico de tensões entre Índia e Paquistão

A rivalidade entre Índia e Paquistão remonta a 1947, com a partilha do subcontinente indiano após o fim do domínio britânico.

A divisão resultou na criação de dois Estados: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana, além de provocar massacres e deslocamentos em massa.

A Caxemira, região de maioria muçulmana localizada no norte do subcontinente, rapidamente se tornou o principal foco de disputa após a Partição de 1947.

Embora a maioria da população fosse muçulmana, o governante local, o marajá Hari Singh, era hindu e, diante de uma invasão de tribos armadas apoiadas pelo Paquistão, decidiu aderir oficialmente à Índia em troca de ajuda militar.

A decisão provocou a primeira guerra indo-paquistanesa (1947-1948), que terminou com a intervenção da ONU e a criação da chamada Linha de Controle, dividindo a Caxemira entre as duas nações.

Desde então, Índia e Paquistão travaram quatro guerras: em 1947, 1965, 1971 e 1999.

Três desses conflitos tiveram a disputa pela Caxemira como elemento central.

Apesar de cessar-fogos e acordos como o Tratado de Simla, assinado em 1972, a região nunca deixou de ser um foco de tensão.

Insurgências separatistas e ataques terroristas continuaram alimentando a desconfiança mútua.

O quadro piorou em 2019, quando o governo Modi revogou a autonomia especial da Caxemira, decisão que acirrou o ressentimento do Paquistão e provocou novas ondas de violência.

Reações internacionais e apelos por moderação

A escalada preocupa a comunidade internacional.

A ONU apelou por moderação de ambos os lados.

Estados Unidos, China e países do Golfo Árabe foram acionados para tentar mediar a crise.

Washington declarou manter contatos com os dois governos, mas evitou assumir um papel de mediação direta.