A Elite militar joga polo: por que o Exército financia para oficiais o esporte mais caro do Brasil

Fotografias de militares do Exército disputando um campeonato de polo circularam em redes sociais de militares há algumas semanas, acompanhadas de comentários bastante críticos como: “competição com pouca ou nenhuma relevância e com gastos exorbitantes” e “Animais foram trazidos do Rio de Janeiro, do Centro Oeste, de Brasília e do interior do RS“.
O esporte é de fato extremamente elitizado, conhecido por exigir altíssimos investimentos para a prática correta. Segundo o site especializado 30jardas, no Brasil estima-se que existam somente 500 praticantes de Polo, quase todos são multimilionários. Nas grandes competições, sobrenomes de megaempresários como Diniz, Mansur, Klabin e Matarazzo são pronunciados com bastante frequência.
O polo desenvolve habilidades para o combate moderno – segundo o Exército
Procurado pela Revista Sociedade Militar para comentar o caso, o Exército Brasileiro – depois de 29 dias apurando dados – forneceu informações sobre o evento ocorrido na Estância Felicidade, em Viamão RS, e afirmou que a participação dos militares no referido campeonato de polo possui uma espécie de caráter pedagógico, contribuindo diretamente para o desenvolvimento de habilidades essenciais ao combate moderno, tais como coordenação, estratégia e tomada rápida de decisões.
Chamou bastante a atenção o fato de as publicações oficiais sobre o evento de polo terem sido discretamente omitidas das páginas principais do Exército Brasileiro na internet. A única menção em páginas oficiais é encontrada na página oficial do Comando Militar do Oeste, que mostra uma formatura com transmissão de ordens do comandante onde se aproveitou para parabenizar militares que participaram do campeonato.
” Campo Grande (MS). Foi realizada no dia 18 de março, uma formatura geral no CMO, que teve como objetivo parabenizar a equipe de polo, tricampeã do Campeonato de Polo do Exército e apresentar as diretrizes do Comandante Militar do Oeste, General de Exército, Paulo Humberto Cesar de Oliveira.”, diz o curto texto.
Essa discrição pode indicar cautela por parte da alta cúpula da instituição, possivelmente para evitar críticas ou questionamentos sobre os gastos públicos envolvidos.
O polo é o esporte mais caro do Brasil
Diversos sites especializados – como o 30jardas.com – colocam o polo como o esporte mais caro hoje praticado no Brasil: “… em esportes de elite, é preciso possuir uma estrutura que não é barata. Para ter os próprios equipamentos, uniformes e animais, estima-se que o investimento necessário para quem quer jogar Polo, é de mais de R$ 500 mil”.
O polo equestre é um esporte bastante movimentado, que basicamente consiste no embate entre equipes montadas a cavalo, cada uma com o objetivo de marcar gols através de balizas dos adversários. A partida pode durar duas horas e é dividida em tempos ou períodos (chukkers) de 7 minutos. Entre cada chukker há um intervalo, quando os jogadores trocam de cavalo, já que o jogo é muito cansativo para os animais. A necessidade do uso de vários animais por cada jogador torna a prática ainda mais dispendiosa.
Em nível mundial, reportagem da MSN em inglês classifica o Polo em 2º entre os esportes mais caros do planeta, colocando-o atrás somente da Formula 1. O MSN estima gastos que variam de 40 mil dólares a 200 mil dólares para equipagem completa de um atleta.
Coragem, arrojo e audácia são aprendidos no esporte, segundo o Exército
Em postagem no Instagram da Organização Militar 2CRg, que tem 7.9 mil mil seguidores, número exíguo em comparação com os 6 milhões de seguidores na página principal da força terrestre, há informações sobre o evento: “11 a 15 de março ocorreu o Campeonato do Exército de Polo 2025 na Guarnição de Porto Alegre. O evento contou com a participação de equipes de diversos Comandos Militares de Área, além da presença de Autoridades Civis e Militares”.

O Exército Brasileiro explicou que o evento contou com a participação de 118 militares e que os gastos com transporte de animais, material e pessoal foram na ordem de 25 mil reais. Apesar de informar a quantidade de combustível gasto, 14.2 mil litros de diesel e 222 de gasolina, o Exército informa que não tem como estimar o custo.
Ao se justificar, explicando que o esporte desenvolve “coragem, arrojo, audácia e camaradagem” e que contribui para “a formação de líderes capazes de atuar com eficiência em cenários de guerra modernos”, o Exército não disponibiliza dados informando a quantidade de militares que pratica o polo no quotidiano dos quartéis e nem se se trata de uma espécie de disciplina obrigatória na formação do oficial de cavalaria.
Justificativa Oficial do Exército sobre o campeonato de polo ocorrido em março
Resposta recebida do Comando do Exército Brasileiro em 15 de abril de 2025: “A manutenção dos desportos no Exército é essencial para garantir a higidez física e mental dos combatentes, sendo os esportes equestres especialmente relevantes por sua origem ligada ao treinamento militar. Modalidades como Adestramento, Salto, Concurso Completo de Equitação e Polo não apenas preservam tradições, mas também desenvolvem qualidades fundamentais aos militares, como coragem, disciplina, estratégia e espírito de corpo.
O cavalo, ao colocar o militar em situações de risco e tomada de decisão rápida, contribui para a formação de líderes capazes de atuar com eficiência em cenários de guerra modernos, marcados pela velocidade da informação e por desafios imprevisíveis. Atualmente, embora os cavalos não sejam mais utilizados como armas de combate, continuam com papel importante nas Forças Armadas, seja no apoio logístico, na Garantia da Lei e da Ordem ou no desenvolvimento de competências essenciais ao campo de batalha. O polo, em especial, destaca-se por ser um esporte coletivo que favorece a liderança, o equilíbrio emocional e a tomada de decisões sob pressão. Reconhecendo esses benefícios, a Comissão de Desportos do Exército inclui anualmente competições equestres em seu calendário, ao lado de outras modalidades como a orientação e o pentatlo militar, promovendo o treinamento eficaz e de baixo custo para cavaleiros e suas equipes.
Durante o evento, não foi possível mensurar o gasto total com precisão, pois diversos itens foram adquiridos de forma centralizada, sem detalhamento individualizado. No que diz respeito ao transporte de animais, pessoal e materiais foram gastos R$ 25.189,47 (vinte e cinco, cento e oitenta e nove reais e quarenta e sete centavos) entre medicamentos e alimentação e mais 14.184 litros de óleo diesel e 222 litros de gasolina durante todas as fases do evento.
Os valores dos combustíveis não podem ser mensurados, pois são adquiridos de forma centralizada pelo Comando Logístico (COLOG). Não houve gastos com diárias ou passagens, e o local do evento foi cedido gratuitamente, não gerando despesas com aluguel. Alimentação foi provida por transferências das etapas provenientes das OM de origem de cada participante. No total, 118 militares atuaram no apoio ao evento, abrangendo logística, veterinária, manutenção e participação como atletas. Não houve contratação de pessoal externo. Foram empregadas diversas viaturas no apoio: 2 ambulâncias, 3 viaturas administrativas, 2 ônibus, 1 micro-ônibus, 1 caminhão-baú, 2 viaturas de transporte de equinos e 1 viatura de 5 toneladas. Como atletas, participaram 14 oficiais e 3 praças. “