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O grafite “Os generais morrem de pijama”, no centro do Rio de Janeiro

por Sociedade Militar Publicado em 07/04/2025
O grafite “Os generais morrem de pijama”, no centro do Rio de Janeiro

Na calçada do centro do Rio de Janeiro, bem próxima à Associação Brasileira de Imprensa, à sede da Ancine e a outros prédios conhecidos, uma banca de jornal fechada se destaca como vitrine de um protesto bem contextualizado. Em meio a títulos rabiscados de filmes, livros e canções, uma frase salta aos olhos com força quase de um grito: “Os generais morrem de pijama.” Mais do que um grafite anônimo, a mensagem parece, deliberadamente, sintetizar o sentimento de frustração que hoje ecoa em polos opostos do espectro político brasileiro — uma crítica que parte tanto da direita quanto da esquerda, embora, naturalmente, por razões distintas.

Inspirada pelo clássico Generals Die in Bed (em tradução livre, “Generais morrem na cama”), de Charles Yale Harrison, a frase funciona como uma denúncia da distância entre os que comandam e os que realmente sangram. No Brasil de 2025, a metáfora ressurge com um tom ainda mais áspero: enquanto o país atravessa crises políticas e institucionais, os generais — segundo críticos — assistem a tudo do conforto de seus gabinetes ou sob a sombra de aposentadorias superiores a 30 mil reais mensais. Alguns deles ainda acumulam benefícios ligados a postos hoje inexistentes, como o de Marechal, mas que, por meio de malabarismos legais, adicionam mais alguns milhares de reais aos já generosos contracheques.

Em um dos trechos do livro, o protagonista — um soldado canadense nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial — comenta que, enquanto eles sofrem na lama, infestados de piolhos e famintos, “os generais se divertem muito, oitenta quilômetros atrás da linha de frente”.

No Brasil, o termo “pijama” é amplamente utilizado para se referir aos oficiais-generais que alcançam o conforto da aposentadoria. Provavelmente por isso, no grafite carioca, a expressão “na cama”, presente na obra de Harrison, foi substituída por “de pijama” — uma adaptação que carrega ainda mais força simbólica no contexto brasileiro.

Malafaia acusa: “Frouxos, covardes e omissos”

O desabafo grafitado ganhou novo combustível no último domingo (6), durante manifestação na Avenida Paulista. Diante de milhares de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, uma das principais vozes da direita religiosa e política, fez duras críticas ao Alto Comando do Exército. Em sua fala, acusou os generais de “covardia” por não reagirem à prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e aliado direto do ex-presidente.

“Quero dizer aos generais de quatro estrelas do Alto Comando do Exército: vocês não honram a farda que vestem. Cambada de frouxos, covardes e omissos. O que vocês fizeram com Braga Netto? Estão em silêncio?”, disparou Malafaia, do alto do palanque na Paulista.

Para esse setor da direita, extrema direita para alguns, os generais falharam em agir no momento em que o país — em sua visão — estava à beira de um colapso institucional. Muitos conservadores esperavam das Forças Armadas uma intervenção, uma tomada de posição mais firme e incisiva. O que se viu, no entanto, foi o silêncio dos militares — e até o apoio à prisão de manifestantes que se concentravam em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Para esses críticos, o silêncio dos generais tornou-se sinônimo de traição.

A crítica da esquerda: quem autorizou os atos não responde

Se, por um lado, a direita acusa os generais de omissão, por outro, a esquerda os responsabiliza por uma impunidade seletiva. Enquanto militares de patentes inferiores — coronéis, tenentes, cabos, sargentos e subtenentes — estão sendo investigados, punidos e até presos por envolvimento nos atos de 8 de janeiro e outras articulações, os generais, com exceção de um — o ex-ministro Braga Netto — seguem, em sua maioria, intocados. Muitos deles já estão aposentados e distantes do escrutínio judicial.

A percepção no campo progressista é de que, mais uma vez, a estrutura hierárquica do militarismo protege os de cima e sacrifica os de baixo. Há vozes exigindo com veemência que o mesmo rigor aplicado aos praças e oficiais de baixa patente seja estendido à cúpula das Forças Armadas. Um suboficial da Marinha, por exemplo, já cumpre pena e aguarda a exclusão.

Para esses críticos, não faz sentido que quem deu as ordens — e permitiu que milhares de pessoas acampassem em frente aos quartéis — permaneça tranquilamente “morrendo na cama”, enquanto seus subalternos enfrentam os rigores da lei. Essa assimetria reforça a mensagem do grafite: os generais continuam seguros, blindados por um sistema que eles mesmos criaram e mantêm, imunes ao sofrimento que seus comandados enfrentam nas trincheiras da Justiça.

Entre o mito do salvador da pátria e a verdade da farda

O desconforto com o papel político dos militares não é novo, mas nunca foi tão evidente quanto agora. Seja pela suposta omissão, seja pelo uso da estrutura das Forças Armadas a favor de políticos ou ideologias, os generais se tornaram alvo de desconfiança nacional e hoje são protagonistas das páginas de periódicos da internet brasileira praticamente todos os dias.

A frase “os generais morrem de pijama” assume, assim, um novo peso: uma crítica à elite militar que, em meio à convulsão institucional, para a qual talvez tenha contribuído, optou pelo o silêncio — ou, pior, escolheu, de forma tardia ou estratégica, preservar a si mesma.

Uma frase, duas interpretações

A crítica é dupla, mas converge no mesmo ponto: o descolamento entre a elite fardada, a base militar e a realidade do país. A direita clama por ação, a esquerda por justiça. No meio, o Alto Comando tenta manter uma posição institucional, mas não consegue escapar do fogo cruzado. Enquanto isso, a base das Forças Armadas — que muitas vezes é usada como bucha de canhão — observa, inquieta.

“Os generais morrem de pijama.” O que poderia parecer uma frase isolada, perdida numa manhã qualquer do centro do Rio, tornou-se o retrato de uma crise de identidade das Forças Armadas no Brasil contemporâneo — forças que hoje são vistas com desconfiança por grande parte da sociedade, que habita ambos os lados do espectro político.

Não se sabe ainda quanto tempo as Forças Armadas, ou melhor, os oficiais generais, levarão para reconquistar a confiança da sociedade brasileira. Só tempo nos dará a resposta.

Texto por IA
Supervisão e alinhamento: Robson Augusto – Revista Sociedade Militar

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