Defesa dos EUA dá adeus à Lockheed Martin nos caças de sexta geração, mas mantém o F-35 como peça-chave apesar das falhas bilionárias

Em uma virada surpreendente no setor aeroespacial, a Lockheed Martin, tradicional potência da indústria de defesa dos Estados Unidos, está oficialmente fora da corrida pelos caças de sexta geração. Enquanto isso, a Boeing avança a passos largos, tendo sido escolhida para desenvolver o novo caça F-47, que integrará o ambicioso programa de superioridade aérea Next Generation Air Dominance (NGAD). Informações divulgadas anteriormente pelo portal The National Interest.
O contrato firmado com a Boeing representa um marco tecnológico e um reposicionamento estratégico dentro do complexo industrial-militar norte-americano. O F-47 será o carro-chefe de um sistema integrado que também contempla aeronaves não tripuladas, o chamado sistema de sistemas do NGAD, reforçando a doutrina de guerra aérea do futuro. Além disso, a aeronave fará parte do programa Collaborative Combat Aircraft (CCA), responsável por coordenar a ação entre caças tripulados e drones em operações conjuntas.
Lockheed Martin fora da disputa: falhas técnicas pesaram na decisão da Marinha
Nos bastidores da indústria de defesa, o sinal de alerta já havia sido aceso. Segundo o site Defense Industry Europe, a Lockheed Martin foi eliminada do processo de seleção do F/A-XX da Marinha por não conseguir atender aos rigorosos requisitos técnicos, especialmente no que diz respeito ao desempenho do radar embarcado e à capacidade de pouso em porta-aviões.
Diante do silêncio da empresa após a desclassificação, a Lockheed Martin optou por se pronunciar apenas quando a vitória da Boeing no programa F-47 foi oficializada. Em comunicado, a companhia reafirmou seu comprometimento com o desenvolvimento de tecnologias de ponta para a defesa nacional:
“Seguimos dedicados ao avanço de soluções de segurança do século XXI para as forças armadas dos EUA. Apesar da decepção com o resultado, acreditamos que apresentamos uma proposta competitiva e aguardamos futuras conversas com a Força Aérea.”
A resposta, embora diplomática, evidencia a frustração de uma das principais fornecedoras do Departamento de Defesa dos EUA. Afinal, a Lockheed Martin é a única empresa no mundo a ter produzido dois caças de quinta geração: o F-22 Raptor e o F-35 Lightning II, ambos símbolos de supremacia aérea nos últimos anos.
Mesmo assim, sua ausência nos novos contratos sinaliza uma inflexão. E, como veremos a seguir, há uma série de fatores que ajudam a entender por que a gigante da defesa está agora fora dos programas mais avançados do Pentágono.
Críticas, custos e desempenho do F-35 explicam a decisão do Pentágono
A saída da Lockheed Martin tanto do programa NGAD quanto do F/A-XX pegou muitos analistas de surpresa. No entanto, ao observar o histórico recente da empresa, especialmente em relação ao programa F-35, as razões começam a se tornar mais evidentes.
Apesar do prestígio acumulado com o F-22 Raptor e o próprio F-35 Lightning II, duas aeronaves consideradas revolucionárias em suas gerações, o legado do F-35 também carrega um peso considerável: atrasos crônicos, custos exorbitantes e resultados abaixo das expectativas operacionais.
Um dos pontos mais críticos envolve a atualização tecnológica conhecida como TR-3 (Technology Refresh 3), essencial para a modernização do F-35. Devido a problemas no desenvolvimento da nova versão de software e hardware, as entregas da aeronave ficaram paralisadas por um ano inteiro, comprometendo prazos logísticos e a confiança do Pentágono na capacidade da Lockheed Martin de entregar um produto combat-ready em tempo hábil.
Além disso, o índice de prontidão operacional do F-35A, modelo utilizado pela Força Aérea, foi de apenas 52%, segundo o relatório do Government Accountability Office (GAO). Isso está muito aquém da meta estabelecida entre 75% e 80%. Para piorar, nenhuma das três variantes do F-35 conseguiu atingir as metas de disponibilidade por seis anos consecutivos, mesmo com o governo dos EUA investindo mais de US$ 12 bilhões em esforços de manutenção e suporte.
Esses números reforçam o argumento de que o programa F-35, embora ambicioso, tornou-se um exemplo clássico de como a complexidade tecnológica pode sair do controle, algo que o Departamento de Defesa parece determinado a evitar nos futuros projetos de sexta geração.
Um novo ciclo na indústria de defesa: Lockheed fora, Boeing avança
Enquanto a Lockheed Martin enfrenta um raro revés em sua trajetória de liderança nos céus, a Boeing se posiciona como protagonista da nova geração de caças americanos. A escolha do F-47 como vetor principal do programa NGAD representa não só um reconhecimento técnico, mas também um movimento político e estratégico dentro do setor.
O chefe do Estado-Maior da Força Aérea dos EUA, general David W. Allvin, reforçou esse novo direcionamento ao destacar que o F-47 deverá custar significativamente menos que o F-22, o que agradou profundamente os planejadores orçamentários do Pentágono, historicamente preocupados com os custos galopantes dos programas anteriores.
Do outro lado, a Northrop Grumman segue firme no segmento de bombardeiros estratégicos com o B-21 Raider, enquanto a Boeing se fortalece como a principal candidata para o F/A-XX, graças à sua experiência com o Super Hornet e à confiança crescente nas suas soluções integradas.
A exclusão da Lockheed Martin dos programas de caças de sexta geração está relacionada a critérios técnicos e operacionais definidos pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que priorizam desempenho, inovação e eficiência no desenvolvimento de novas plataformas de combate aéreo.