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Comprado às pressas, aposentado no esquecimento: a curta vida do Mirage 2000 no Brasil

por Rafael Cavacchini 11/04/2025
Comprado às pressas, aposentado no esquecimento: a curta vida do Mirage 2000 no Brasil

Mirage 2000: o caça que chegou cansado e saiu cedo demais

Você já deve ter ouvido falar que o Brasil é um país onde tudo custa caro e chega tarde. Pois é, com a aviação de caça não foi diferente. Quando o Brasil e a Força Aérea Brasileira decidiram comprar os caças Mirage 2000 usados da França, lá nos anos 2000, não foi por luxo, nem por escolha estratégica ousada — foi por necessidade mesmo e, acima de tudo, de acordo com especialistas, pressa.

“Rainha do Hangar”: a história se repete

Tudo começou nos anos 70, quando os militares decidiram que precisavam de um caça de verdade para defender o espaço aéreo brasileiro. Isso era verdade principalmente quando se fala do espaço aéreo de Brasília, que, por razões óbvias, precisava de uma cobertura especial. Em 1972, o Brasil comprou o Mirage III da França, depois que os EUA deram um belo “não” na proposta de vender o F-4 Phantom. A desculpa americana, de acordo com especialistas, seria evitar uma corrida armamentista na América do Sul.

O Mirage III era rápido, subia bem, voava alto… mas tinha pouca autonomia. Além disso, possuia capacidade de carga limitada e, como se não bastasse, sofria com o calor, a umidade e a chuva brasileiras. Resultado: passava mais tempo parado do que voando. Não demorou para ganhar o apelido de “Rainha do Hangar”.

Entre o novo que não vem e o velho que não aguenta

Enquanto isso, o bom e velho F-5, também comprado na mesma época, mostrou-se mais confiável. Mesmo com seus limites, a aeronave foi ficando, passando até por modernização. Já o Mirage III foi ficando cada vez mais capenga. No início dos anos 2000, a situação era crítica: Brasília, literalmente, estava sem defesa aérea confiável.

Foi aí que veio o programa FX-1. A ideia era sobretudo encontrar um caça moderno. Mas como construir um do zero era caro e demorado, a FAB optou por uma “solução tampão”: comprar caças usados, que pudessem tapar o buraco até vir uma solução definitiva.

Mirage 2000 vem para o Brasil: usado, francês e com prazo de validade

Em 2005, o Brasil comprou 12 caças Mirage 2000-C/B da Força Aérea Francesa. Já vinham com algumas milhas acumuladas, é verdade, mas eram bons o suficiente. A justificativa oficial era que a FAB já tinha experiência com equipamentos franceses. Além disso, o Mirage 2000 permitiria treinar os pilotos do Brasil no chamado combate BVR — além do alcance visual.

O problema é que eram de segunda mão e continuavam exigentes em manutenção. Além disso, já estavam no fim da vida útil. Resultado: menos de uma década depois, em 2013, os Mirage 2000 se aposentaram. Foram direto para o pátio do Museu da Aeronáutica.

Mais do mesmo

A compra, claro, foi alvo de críticas. Muita gente na época disse que o Brasil só aceitou a compra de caças Mirage por pressão diplomática da França. Além disso, os franceses estavam tentando empurrar o Rafale no programa FX-2. Outros, ainda, apontaram a falta de planejamento crônica da defesa nacional: quando a urgência chega, compra-se o que dá, não o que seria ideal.

Teve até quem sugerisse que os Mirage 2000 chegaram mais como uma jogada política do que como solução técnica real. E, bem, olhando o tempo que ficaram em operação — só oito anos — é difícil não pensar que o Brasil comprou um caça que já nasceu aposentado.

Do céu ao museu em tempo recorde: o fim precoce dos Mirage 2000 no Brasil.
Do céu ao museu em tempo recorde: o fim precoce dos Mirage 2000 no Brasil. Foto: Revista Sociedade Militar

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