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Assinado! Marinha do Brasil firma contrato histórico com o Reino Unido para receber dois poderosos navios de assalto anfíbio e amplia capacidade naval com embarcações usadas em operações da OTAN

por Alves 05/04/2025
Assinado! Marinha do Brasil firma contrato histórico com o Reino Unido para receber dois poderosos navios de assalto anfíbio e amplia capacidade naval com embarcações usadas em operações da OTAN

A Marinha do Brasil assinou com a Marinha Real Britânica uma carta de intenção para a negociação de dois navios de assalto anfíbio da classe Albion, durante a feira LAAD Defence & Security 2025, realizada no Riocentro, no Rio de Janeiro, no dia 2 de abril. O acordo formaliza o interesse brasileiro em incorporar os navios HMS Albion e HMS Bulwark, que estão sendo desativados pelo Reino Unido, à frota nacional. A medida ocorre em meio ao processo de reestruturação das Forças Armadas britânicas, com a retirada de diversas embarcações de serviço ativo.

A assinatura do documento marca o início oficial das tratativas para transferência das embarcações, que incluem avaliações técnicas, financeiras e logísticas. Ainda não há valores confirmados oficialmente, mas veículos britânicos reportaram, em janeiro deste ano, que as negociações envolvem cifras próximas de 20 milhões de libras esterlinas, o que equivale a aproximadamente R$ 145 milhões. O Ministério da Defesa do Brasil confirmou a existência das negociações em fevereiro, por meio de declarações à imprensa nacional.

Os navios da classe Albion foram projetados para servir como plataformas de comando flutuantes em operações anfíbias, com capacidade de transportar tropas, veículos e equipamentos para áreas de difícil acesso. Ambas as embarcações operaram ativamente por anos na Marinha britânica e passaram por diversos períodos de modernização e disponibilidade operacional alternada, conforme políticas de defesa do Reino Unido. Atualmente, encontram-se em estado de prontidão estendida, aguardando seu destino final após decisão do governo britânico de retirá-las de serviço.

A negociação ocorre em um momento estratégico para a Marinha do Brasil, que tem enfrentado desafios na prestação de apoio à população em situações de desastres naturais. O Almirante-de-Esquadra Edgar Luiz Siqueira Barbosa, Diretor-Geral do Material da Marinha, destacou que a aquisição reforçaria a capacidade de resposta da força naval brasileira em missões de ajuda humanitária, como as que ocorreram nas enchentes de São Sebastião (SP), em 2023, e no estado do Rio Grande do Sul, em 2024.

Navios Albion e Bulwark oferecem capacidade estratégica para transporte de tropas e veículos em cenários de combate ou ajuda humanitária

Comissionado em 2003, o HMS Albion foi construído pela BAE Systems Marine, sendo seguido pelo HMS Bulwark, comissionado em 2005. Ambos foram desenvolvidos como substitutos da antiga classe Fearless e representaram a modernização da capacidade anfíbia do Reino Unido. Os navios possuem 176 metros de comprimento, 28,9 metros de boca e calado de 7,1 metros. Seu deslocamento total é de 19.560 toneladas, com capacidade de tripulação de 325 militares e transporte de até 405 tropas, podendo chegar a 710 em condições de sobrecarga.

A bordo, os navios transportam até 67 veículos, incluindo tanques Challenger 2 e veículos blindados de transporte de tropas. A doca interna permite o uso de quatro embarcações de desembarque LCU MK10, aptas a transportar tanques, e quatro lanchas menores LCVP MK5, cada uma com capacidade para 35 soldados ou dois veículos leves. O convés de voo comporta operações simultâneas com helicópteros de grande porte, como o CH-47 Chinook, embora as embarcações não possuam hangar próprio.

Além das capacidades ofensivas, os navios Albion e Bulwark são preparados para missões defensivas e eletrônicas. O sistema de armamentos inclui dois canhões Phalanx CIWS de 20mm, dois canhões GAM-BO1, metralhadoras e sistemas de contramedidas eletrônicas como o Seagnat, Outfit DLJ e DLH. Os radares instalados incluem o Artisan 3D e os tipos 1007/8, utilizados para navegação e controle aéreo. Em atualizações mais recentes, o antigo radar Type 996 foi substituído.

A propulsão é garantida por um sistema elétrico da General Electric, alimentado por quatro motores diesel Wärtsilä, proporcionando velocidade máxima de 18 nós e alcance operacional de até 13.000 km. A manobrabilidade é reforçada por propulsor de proa. Também estão embarcados veículos para operações em terra, como tratores e veículos de recuperação para cenários de praia.

Brasil já opera outro navio britânico desativado: o porta-helicópteros HMS Ocean, hoje conhecido como NAM Atlântico

A Marinha do Brasil já possui experiência na operação de embarcações adquiridas do Reino Unido. O porta-helicópteros HMS Ocean foi comprado em 2018 e rebatizado como NAM Atlântico (A140). Antes de sua transferência, o navio passou por um processo de modernização, incluindo a substituição de equipamentos sensíveis e atualização de sistemas de combate. O mesmo deverá ocorrer com os navios da classe Albion, caso a aquisição seja concluída.

Segundo o Almirante Siqueira Barbosa, esse histórico reforça a confiança brasileira na aquisição e operação de plataformas navais construídas no Reino Unido. A familiaridade com os sistemas britânicos e a adaptação doutrinária da Marinha do Brasil facilitam o processo de incorporação das embarcações à frota nacional, ampliando o poder naval de forma eficiente e estratégica.

Além da utilidade em operações militares, os navios possuem papel relevante em missões de apoio civil, como resgates, transporte de suprimentos e auxílio em calamidades. Durante os últimos anos, o Brasil tem enfrentado um número crescente de emergências ambientais, o que evidencia a importância de plataformas versáteis e com grande capacidade logística.

Durante o evento da LAAD 2025, foi também assinado um Memorando de Entendimento e uma Carta de Informação, por meio dos quais o Brasil solicita formalmente dados detalhados sobre o estado atual das embarcações, seus sistemas e possíveis necessidades de reparo ou substituição.

Navios Albion e Bulwark enfrentaram críticas no Reino Unido após anúncio de descomissionamento pelo novo governo trabalhista

Desde a posse do novo governo trabalhista no Reino Unido, foi anunciado o descomissionamento de diversas embarcações de apoio da Marinha Real e da Frota Auxiliar Real. A decisão incluiu os dois navios da classe Albion, gerando críticas internas de setores militares e parlamentares britânicos, que alegam que a venda das unidades a países estrangeiros enfraquece a capacidade expedicionária do país.

O HMS Bulwark, segundo fontes britânicas, seria a embarcação em melhores condições para retornar ao serviço. Recentemente, passou por uma grande reforma que consumiu aproximadamente £72,1 milhões entre 2020 e 2024. As melhorias incluíram capacidade de operação noturna completa, suporte para dois helicópteros Chinook operando simultaneamente e modernização dos sistemas de controle de embarcações de desembarque.

Apesar do investimento, o navio foi mantido em reserva e não retornou à ativa, o que motivou sua inclusão no plano de descomissionamento. O HMS Albion também passou por ampla modernização entre 2014 e 2017, com substituição de radares, sistemas de armas e comando. Mesmo com essas atualizações, a embarcação foi colocada em estado de prontidão estendida, aguardando definição quanto ao seu destino.

As autoridades brasileiras informaram que, caso a negociação avance, ambas as embarcações passarão por uma revisão técnica completa. Isso incluirá substituição de componentes sensíveis e atualização dos sistemas, garantindo a plena operacionalidade sob a bandeira brasileira e adequação aos padrões exigidos para integração em operações conjuntas, como as da OTAN.

Navios Albion atuaram em missões reais como resposta a crises humanitárias, evacuação e exercícios navais internacionais

Os navios HMS Albion e HMS Bulwark possuem histórico operacional extenso em diferentes teatros internacionais. O Albion participou de exercícios como o Joint Winter 04 na Noruega, atuou no Golfo de Sidra e no Oceano Índico em 2011 durante operações da OTAN na Líbia e missões antipirataria na costa da Somália. Em 2010, a embarcação auxiliou no transporte de militares e civis durante a interrupção do tráfego aéreo provocada pela erupção do vulcão Eyjafjallajökull.

Já o HMS Bulwark estreou em 2006 como nau-capitânia da Força-Tarefa 158 no Golfo Pérsico. Em julho do mesmo ano, evacuou 1.300 britânicos do Líbano durante a Operação Highbrow. A embarcação também participou de exercícios como Joint Warrior, Griffin Strike e Cold Response. Em 2015, foi utilizada em missão humanitária no Mediterrâneo durante a Operação Weald, resgatando mais de 2.900 migrantes.

Tais experiências reforçam o valor estratégico das embarcações para missões de projeção de poder e assistência humanitária, áreas em que a Marinha do Brasil pretende intensificar sua atuação. A versatilidade das plataformas permite respostas rápidas em múltiplos cenários, desde operações militares a emergências civis de grande escala.

A operação de navios com essas capacidades poderá representar um avanço significativo para a doutrina anfíbia brasileira e a projeção regional de forças navais. Ao mesmo tempo, amplia a cooperação bilateral entre Brasil e Reino Unido, que celebra em 2025 o bicentenário de relações diplomáticas.

As tratativas ocorrem no momento em que o Brasil busca expandir sua capacidade de resposta a crises e ampliar sua presença estratégica em operações de ajuda internacional. A eventual aquisição dos navios HMS Albion e HMS Bulwark poderá marcar uma nova fase para a força anfíbia brasileira, unindo poder de projeção, flexibilidade logística e apoio à população civil.

A informação foi divulgada por Army recognition, com base em documentos oficiais, declarações de autoridades da Marinha do Brasil e registros feitos durante a LAAD Defence & Security 2025. As próximas etapas envolverão visitas técnicas, vistorias presenciais e definições quanto ao cronograma de adaptação das embarcações.