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Alcântara será ponto de partida do foguete Hanbit-Nano em julho após décadas de subutilização do centro espacial

por Sérvulo Pimentel 29/04/2025
Alcântara será ponto de partida do foguete Hanbit-Nano em julho após décadas de subutilização do centro espacial

A Innospace, primeira empresa privada sul-coreana do setor New Space, está pronta para fazer história novamente no Brasil. Após se tornar a primeira companhia internacional a lançar um foguete de Alcântara em 2022, a empresa concluiu em março os testes do sistema integrado para o Hanbit-Nano, foguete capaz de transportar cargas úteis de 90 kg a uma órbita síncrona solar de 500 km de altura. O lançamento está programado para julho deste ano, a partir do Centro Espacial de Alcântara.

Vantagem estratégica

Localizado a apenas 2° (dois graus) ao sul do Equador, o Centro Espacial de Alcântara possui uma das posições geoestrategicamente mais vantajosas do mundo para lançamentos espaciais. A proximidade com a linha do Equador permite que os foguetes aproveitem a velocidade de rotação da Terra, reduzindo o consumo de combustível.

“Para tornar um empreendimento nacional viável, porque o governo deste país, o estado brasileiro, não entende a importância de possuir um programa espacial realmente espacial”, afirma Roberto Caiafa, jornalista especializado em assuntos militares.

Hanbit-Nano, com capacidade para 90 kg, será lançado em julho; parcerias buscam tirar Brasil do atraso espacial.
(Foto: Força Aérea Brasileira)

Nova legislação

O governo brasileiro tomou medidas no final de 2024 para impulsionar o setor, aprovando legislação que estabeleceu a Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil S.A. (Alada), autorizada a negociar lançamentos com empresas privadas.

Caiafa destaca que a criação da Alada não foi uma decisão repentina: “A Alada já era algo discutido na comunidade aeroespacial e na Força Aérea Brasileira lá em 2018, quando eu dei um furo de reportagem no Peru mostrando a discussão sobre a criação dessa empresa”.

Modelo de negócio inovador

A Innospace demonstrou que, mesmo com desafios logísticos, o modelo de negócio é viável. “Para Alcântara se tornar viável, é preciso que uma empresa inovadora lá da Coreia do Sul produza o seu foguete lá na Coreia do Sul, coloque ele em um navio junto com toda a parafernalha de lançamento, traga isso pro Brasil e lance de Alcântara”, explica Caiafa.

Surpreendentemente, mesmo com essa complexidade, o jornalista afirma: “E ainda assim, depois de toda esta épica situação, é comercialmente viável, dá lucro”.

Futuro promissor

Em 2024, a Innospace formalizou diversos acordos com o governo e instituições brasileiras, demonstrando comprometimento de longo prazo com operações no país. A parceria contribui para reposicionar o Brasil no mercado global de serviços de lançamento espacial.

“Se o governo não atrapalhar, ô meu Deus, isso já seria a glória, vai se tornar um dos principais pontos de lançamentos espaciais no século XX. Escrevam o que eu estou dizendo”, profetiza Caiafa.

Potencial inexplorado

Com a simplificação do processo regulatório, Alcântara tem potencial para competir globalmente não apenas como instalação de lançamento, mas como centro de inovação para tecnologias espaciais em toda a América Latina.

O sucesso da Innospace em assinar mais pedidos internacionais para lançamentos a partir do Brasil, somado à estrutura regulatória fortalecida e ao maior apoio governamental, coloca o setor espacial brasileiro no caminho para receber participantes adicionais internacionais.