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A Saab apresentou à Marinha Brasileira uma proposta estratégica para fornecimento de corvetas Visby com montagem local, tecnologia furtiva em fibra de carbono e até 36 mísseis CAMM

por Noel Budeguer 20/04/2025
A Saab apresentou à Marinha Brasileira uma proposta estratégica para fornecimento de corvetas Visby com montagem local, tecnologia furtiva em fibra de carbono e até 36 mísseis CAMM

A Suécia, por meio da renomada empresa de defesa Saab, deu um passo decisivo para estreitar os laços com o Brasil ao oferecer à Marinha do Brasil a aquisição de modernas corvetas furtivas da classe Visby. A proposta, que inclui um abrangente pacote de transferência de tecnologia e a possibilidade de construção local dos navios, representa uma oportunidade de ouro para a ampliação da capacidade operacional da força naval brasileira e para o fortalecimento da indústria nacional de defesa.

Essa iniciativa surge em um momento estratégico, em que o Brasil busca consolidar sua autonomia tecnológica e ampliar sua presença no Atlântico Sul, em especial na chamada Amazônia Azul, região de importância vital para a segurança, economia e meio ambiente do país.

Tecnologia de ponta para modernizar a Marinha

Projetadas com foco em furtividade, modularidade e custo-benefício, as corvetas da classe Visby são amplamente reconhecidas como uma das embarcações mais avançadas do mundo em sua categoria. Com um deslocamento leve de cerca de 650 toneladas, as Visby utilizam materiais compostos, como fibra de carbono, e possuem um design angular que reduz de forma significativa as assinaturas radar, térmica e acústica — características fundamentais para operações discretas e de alta complexidade.

Esse perfil técnico torna as corvetas ideais para uma ampla gama de missões: desde patrulha e guerra antissubmarino, até guerra de superfície e defesa costeira. Além disso, o alto grau de automação embarcado reduz a necessidade de grandes tripulações e, consequentemente, os custos operacionais e de manutenção.

A modernização recente da classe Visby adicionou lançadores verticais do tipo XLS (Extensible Launching System), possibilitando o emprego de mísseis CAMM (Common Anti-air Modular Missile) com capacidade de defesa aérea de 360º. A integração com o sistema Captor da MBDA confere às embarcações uma poderosa capacidade de resposta contra ameaças como mísseis supersônicos, helicópteros e drones — um diferencial importante em um cenário naval cada vez mais complexo.

Corveta Visby: curiosidades como você nunca viu - Poder Naval

Construção nacional e fortalecimento da base industrial da Marinha

Um dos pontos mais atrativos da proposta sueca é a ênfase na construção local das embarcações, em estaleiros brasileiros. Essa medida atenderia não apenas às exigências operacionais da Marinha do Brasil, mas também ao objetivo estratégico de desenvolver uma indústria naval de defesa autônoma e sustentável. A montagem em território nacional promoveria a geração de empregos qualificados, o avanço tecnológico e o fortalecimento de fornecedores locais.

O Brasil já conta com o segundo maior complexo naval da América Latina, atrás apenas dos Estados Unidos. Ampliar sua capacidade industrial a partir da construção das corvetas Visby poderia representar um divisor de águas para o setor, viabilizando novos contratos, parcerias internacionais e a consolidação de um ecossistema nacional de defesa com alto valor agregado.

Além disso, a adaptação da plataforma Visby às necessidades operacionais específicas da Marinha brasileira — incluindo equipamentos, sensores e armamentos sob medida — é mais viável com o envolvimento direto da indústria nacional, o que facilita também a manutenção futura e a continuidade logística das embarcações.

A Marinha e o desafio da soberania no Atlântico Sul

A aquisição das corvetas Visby se insere no contexto da crescente preocupação da Marinha do Brasil com a proteção de sua extensa costa marítima e das riquezas nela presentes. A chamada Amazônia Azul compreende uma área de mais de 4,5 milhões de km², rica em recursos naturais, biodiversidade e infraestrutura estratégica, como cabos submarinos, rotas comerciais e plataformas de exploração de petróleo.

Com a expansão de ameaças híbridas e o aumento da presença de potências estrangeiras na região, é imperativo que a Marinha brasileira disponha de meios modernos, versáteis e economicamente viáveis para garantir a soberania nacional. Nesse sentido, as Visby surgem como uma solução altamente eficaz, especialmente por seu excelente custo-benefício em comparação com outras corvetas ou fragatas de maior tonelagem.

Com a possibilidade de equipar cada corveta com até 36 mísseis CAMM, além de mísseis antinavio RBS-15 Mk2, torpedos de 400 mm, minas navais e um canhão de 57 mm em torre com assinatura furtiva, essas embarcações se configuram como escoltas navais completas e de alta letalidade — adequadas tanto para missões litorâneas quanto para operações em mar aberto.

Uma decisão estratégica para o futuro naval do Brasil

A proposta sueca para fornecimento das corvetas Visby à Marinha do Brasil representa muito mais do que uma simples aquisição de navios: trata-se de uma aliança tecnológica e estratégica, que poderá colocar o país em um novo patamar no cenário marítimo internacional.

Ao investir na modernização de sua frota com navios de alta performance, e ao mesmo tempo fomentar sua base industrial, o Brasil reafirma seu compromisso com a defesa da soberania, o desenvolvimento científico-tecnológico e a inserção global como ator relevante no campo da segurança marítima.

Diante das atuais restrições orçamentárias, é essencial fazer escolhas que maximizem o retorno estratégico e operacional. As corvetas Visby, com sua combinação de eficiência, furtividade e flexibilidade, oferecem uma das melhores relações custo-benefício do mercado internacional — e podem ser, de fato, a chave para a transformação da Marinha do Brasil no século XXI.