A Ilha sombria e abandonada: EUA reativam base nuclear para transformá-la em uma fortaleza global de transporte de armas

O Atol de Johnston, uma pequena ilha remota localizada no Pacífico, tem uma história marcada por eventos militares polêmicos e destrutivos.
Originalmente utilizado como um ponto estratégico para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, a ilha foi palco de testes nucleares, biológicos e químicos que ficaram gravados na memória histórica, não apenas pela magnitude dos testes, mas também pelo seu impacto ambiental duradouro.
Recentemente, o Atol de Johnston foi reativado pela Força Espacial dos Estados Unidos para ser o centro de testes de um novo e ambicioso projeto: o Rocket Cargo, que visa desenvolver a capacidade de transporte de suprimentos militares para qualquer ponto do planeta em questão de horas, utilizando foguetes de grande capacidade.
Embora esse novo projeto tenha despertado o interesse, o passado sombrio da ilha é que, de fato, coloca o local sob os holofotes novamente.
História militar do Atol de Johnston
O Atol de Johnston não é apenas um ponto remoto no oceano Pacífico, mas um local com um passado militar bastante controverso.
Durante as décadas de 1950 a 1970, a ilha foi usada pelos Estados Unidos para uma série de testes nucleares.
O local foi escolhido devido à sua localização isolada, longe de áreas habitadas, e à sua proximidade com os Estados Unidos continentais, tornando-a estratégica para o desenvolvimento de armas nucleares.
Um dos testes mais emblemáticos realizados na ilha foi o Starfish Prime, em 1962, que envolveu a maior explosão nuclear já realizada no espaço.
Esse teste, parte da corrida armamentista da Guerra Fria, visava testar os efeitos de explosões nucleares na alta atmosfera e seus impactos sobre os sistemas de comunicação e satélites.
Os resultados mostraram que uma explosão nuclear no espaço poderia gerar efeitos devastadores na rede de satélites e nas comunicações globais, algo que até hoje é lembrado como um marco nos testes nucleares realizados pela Força Aérea dos EUA.
Além dos testes nucleares, a ilha também foi usada como base de armazenamento de armas químicas e biológicas.
As instalações militares americanas na ilha serviram como depósito de armas químicas, onde substâncias altamente perigosas eram armazenadas até serem destruídas.
A ilha foi finalmente abandonada em 2003 após um longo processo de limpeza ambiental que incluiu a remoção de resíduos tóxicos e a destruição de material bélico químico e biológico.
Reativação do Atol e o projeto Rocket Cargo
Em 2025, o Atol de Johnston será novamente ativado, mas desta vez para testes relacionados a um novo projeto militar de transporte rápido de suprimentos.
A Força Espacial dos EUA iniciou um projeto chamado Rocket Cargo Vanguard, que visa transportar cargas militares para qualquer parte do planeta em um tempo recorde, utilizando foguetes de alta capacidade.
O projeto será uma parte crucial da infraestrutura do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, permitindo que suprimentos, armamentos e outros recursos essenciais sejam enviados rapidamente para regiões em conflito ou onde for necessário, eliminando as limitações das rotas aéreas e marítimas tradicionais.
A Notificação de Intenção (NOI), publicada pelo Departamento da Força Aérea dos EUA em março de 2025, confirma que serão construídas duas plataformas de pouso no Atol de Johnston, especificamente para esse programa.
Além disso, estão planejados até 10 testes de aterrissagem por ano, com um total de quatro anos de testes, dependendo do sucesso da avaliação ambiental que está em andamento.
Esses testes visam garantir que o Rocket Cargo seja uma alternativa viável para o transporte rápido de suprimentos militares.
Por Que Johnston?
O Atol de Johnston foi escolhido como o local ideal para os testes por uma série de razões.
Embora outros locais tenham sido avaliados, como o Atol de Kwajalein, a Ilha Midway e a Ilha Wake, o Atol de Johnston se mostrou o mais adequado.
Sua localização remota e o fato de ser controlado pelos EUA são aspectos importantes, pois permitem que o local seja totalmente acessado sem o risco de interferência internacional.
Além disso, sua infraestrutura e a capacidade de armazenar e transportar grandes volumes de carga também são fatores essenciais para a realização do projeto.
Outro ponto relevante para a escolha de Johnston é que sua localização geográfica a torna menos vulnerável a fenômenos climáticos extremos.
Isso se tornou uma preocupação após o Atol de Kwajalein ter sofrido danos severos causados por tempestades no ano anterior.
Ao contrário de Kwajalein, o Atol de Johnston tem condições mais estáveis e seguras para a realização de testes a longo prazo.
O passado de contaminação e o processo de limpeza
Apesar de sua reativação como local de testes militares, o Atol de Johnston não foi sempre um lugar adequado para atividades pacíficas.
O local ficou marcado por décadas de contaminação nuclear devido aos testes realizados durante a Guerra Fria.
Entre os anos de 1958 e 1975, o atol foi palco de testes de armas nucleares atmosféricas, com o Starfish Prime sendo o mais emblemático deles.
Após esses testes, o local foi abandonado, e, ao longo dos anos seguintes, o Exército dos EUA iniciou um árduo processo de limpeza.
Esse processo envolveu a remoção de todos os resíduos tóxicos, a destruição de armas químicas e a descontaminação do local.
A limpeza foi concluída em 2003, e desde então o Atol de Johnston ficou fora do radar, até sua recente reativação para os novos testes militares.