A base mais isolada da Marinha: discos voadores, ondas gigantes e minerais raros estão entre os grandes mistérios do POIT

Localizada a mais de mil quilômetros da costa do Espírito Santo, a Ilha da Trindade é um pedaço isolado do Brasil no meio do Atlântico Sul. Controlada pela Marinha desde 1957, a ilha abriga o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT) e representa um ponto estratégico essencial para a soberania nacional. Mas, Trindade não se resume à função militar: é também um local repleto de mistérios, biodiversidade rara e histórias que desafiam a lógica, como o caso emblemático do disco voador de 1958 e o temido fenômeno, conhecido entre os militares da marinha do Brasil como “chupa”.
As Cabras: Uma ameaça ecológica histórica e um costume antigo
Durante o século XVIII, navegadores deixaram cabras na ilha para que servissem de alimento para futuras expedições. O que parecia uma solução prática, transformou-se em desastre ecológico: sem predadores naturais, os animais se multiplicaram rapidamente e devastaram boa parte da vegetação nativa, comprometendo a capacidade de regeneração do solo.
Na década de 1990, a Marinha iniciou um programa de erradicação das cabras, aliado a projetos de reflorestamento com plantas nativas. Esse esforço foi fundamental para que espécies como as samambaias gigantes — relíquias botânicas da flora brasileira — voltassem a proliferar.
Recentemente em outra ilha brasileira, Abrolhos, as cabras também foram retiradas por conta dos prejuízos à vegetação nativa. Os animais vão ser alvo de estudos por conta de sua resistência à falta de água.
Samambaias Gigantes: Tesouro da vegetação local
As samambaias gigantes da Trindade são mais do que uma atração visual: são uma espécie rara, adaptada a um clima oceânico isolado, sobrevivente à devastação causada pelas cabras. Essas plantas formam uma floresta densa e úmida que cobre partes elevadas da ilha, servindo de refúgio para aves marinhas e insetos únicos.
A História antiga da Ilha
Descoberta em 1501 pelo navegador João da Nova, a ilha foi inicialmente batizada como “Ilha da Santíssima Trindade”. Ao longo dos séculos, serviu de refúgio para piratas e traficantes de escravos e chegou a ser confundida com a Ilha de Ascensão. Durante as Guerras Mundiais, foi guarnecida para impedir o uso por submarinos inimigos. Mas foi a partir da década de 1950, com a instalação do POIT, que Trindade passou a ser permanentemente ocupada por militares.
Além do valor estratégico, a ilha revelou riquezas geológicas, como a hauynita — um mineral raríssimo também encontrado no Vesúvio, na Itália, e no Afeganistão. O solo vulcânico e montanhoso da ilha de Trindade, que se eleva 5.500 metros do fundo do mar, compõe um dos ecossistemas mais isolados do planeta terra.
O caso do disco voador de 1958
Entre os episódios mais intrigantes da história ufológica do Brasil está o avistamento de um objeto voador não identificado (OVNI) sobre a Ilha de Trindade, em janeiro de 1958. O fotógrafo Almiro Baraúna, a bordo do navio-escola “Almirante Saldanha”, registrou imagens de um disco prateado cruzando os céus da ilha. O objeto teria feito uma curva em alta velocidade e desaparecido entre as nuvens.
A repercussão foi imediata: a Marinha confirmou o avistamento e cerca de 20 militares testemunharam o fenômeno. As fotos foram apresentadas à Câmara dos Deputados e analisadas por especialistas no Brasil e no exterior. Apesar das acusações posteriores de fraude — como as feitas pelo jornal O Globo em 2010 —, documentos desclassificados da Marinha reforçam a autenticidade do caso. O episódio se tornou uma das aparições de OVNI mais estudadas do século XX.
O “Chupa”: O Redemoinho que engole homens
O mergulho na Ilha de Trindade é considerado perigoso. A Marinha estabeleceu regras severas para a prática, incluindo a exigência de um certificado de mergulhador autônomo.
“Somente poderão realizar atividades de mergulho autônomo na ilha da Trindade, arquipélago de Martin Vaz e área marítima adjacente, os pesquisadores que tenham concluído com aproveitamento os cursos “Avançado de Mergulho Autônomo”, emitido por certificadora de mergulho autônomo nacional ou internacional, o “Curso de primeiros socorros” e o “Curso de Resgate”, cujos certificados/cartões deverão ser apresentados conforme apresentado no item 3.2.” (NORMAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES DE MERGULHO NA ILHA DA TRINDADE – SECIRM)
No que diz respeito ao mundo submarino, Trindade reserva mistérios ainda mais sombrios. Um dos mais temidos entre os marinheiros é o fenômeno conhecido como “chupa” — um redemoinho de pressão submersa que, segundo relatos, suga objetos e até pessoas para as profundezas do oceano. Alguns consideram que não passa de uma lenda, mas a história é passada de mais antigos para mais modernos há décadas na Marinha do Brasil.
As histórias contadas por militares veteranos falam de mergulhadores desaparecidos mesmo estando presos a cabos de aço. “Quem cai no chupa às vezes aparece do outro lado da ilha”, dizem alguns. Cientistas mais céticos atribuem os acidentes à presença de tubarões e às chamadas “ondas camelo” — formações repentinas e poderosas, que surgem sem aviso e são capazes de arrastar embarcações e pessoas.
Em 2010, o segundo-sargento João Domingos desapareceu após ser atingido por uma dessas ondas. Estudos da Universidade Federal do Rio Grande apontam a Praia do Príncipe e a Pedra da Garoupa como locais de alta incidência de ondas camelo, associadas a diversos óbitos de militares e pesquisadores.
O Túnel Submarino da Morte
O mito do “chupa” está intimamente ligado a um túnel submerso que cruzaria a ilha por baixo, conforme o testemunho de marinheiros experientes. Segundo os relatos, esse túnel geraria uma correnteza intensa e invisível que atravessa a montanha submersa, engolindo o que estiver por perto e lançando detritos e corpos em praias do lado oposto, como a enigmática Praia do Lixo.
Esses episódios são documentados em livros como Ilha da Trindade: Quatro Meses Onde o Brasil Começa, de Getúlio Reis, e Trindade, A Ilha Maldita, de Tarcísio Neves. Neles, os autores compilam depoimentos de militares e pesquisadores que viveram por meses na ilha, relatando desaparecimentos inexplicáveis, comportamentos anômalos da fauna e até distúrbios magnéticos.
A Marinha e o silêncio oficial sobre os temas polêmicos
Apesar da presença contínua da Marinha na ilha, o acesso à Trindade é restrito. A criação do programa PROTRINDADE, em 2007, sinaliza um esforço para coordenar pesquisas científicas no local, especialmente em oceanografia e biologia. No entanto, o discurso oficial evita abordar temas como OVNIs e desaparecimentos.
A guarnição militar atual limita-se a monitorar as condições ambientais e apoiar pesquisas autorizadas. O local é considerado um dos últimos bastiões de biodiversidade marinha relativamente intactos, e a Marinha tem se empenhado em manter a ilha “intocada” — tanto para preservação ambiental quanto, talvez, para proteger os segredos que pairam sobre ela.
A verdade sobre o ecossistema Isolado e valioso
Trindade abriga uma fauna diversificada, com destaque para aves como o atobá e o trinta-réis-do-mato, além de tartarugas marinhas que fazem da ilha um importante ponto de desova. As águas ao redor são ricas em peixes como badejos e garoupas, além do enigmático “pufa” — um peixe que é facilmente atraído por carne e pode pesar mais de 10 kg, enchendo rapidamente engradados de refrigerantes com um pedaço de carne, baixados ao mar pelos marinheiros que aguardam nos navios o fim das operações desenvolvidas nas ilhas.
A vegetação da ilha, composta por gramíneas, ervas e as já mencionadas samambaias gigantes, cria um microclima singular, favorecido por ventos alísios e temperaturas médias de 24 °C.
Quem desejar mais informações sobre a ilha pode consultar a Marinha do Brasil, que se mantém presente no local há décadas.