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A aterragem dramática do Shenzhou-19, e a ambiciosa meta espacial da China — Impressão 3D com rocha lunar e reatores nucleares no satélite natural

por JB Reis 30/04/2025
A aterragem dramática do Shenzhou-19, e a ambiciosa meta espacial da China — Impressão 3D com rocha lunar e reatores nucleares no satélite natural

A China tem investido fortemente em seu programa espacial, com orçamento anual estimado em cerca de US$ 8 bilhões, ficando atrás apenas dos EUA, e realizou em 2024 quase 30 lançamentos espaciais, liderando em volume. O país asiático busca superar a exclusão da Estação Espacial Internacional, consolidando sua presença orbital própria e ampliando sua capacidade tecnológica e científica no espaço.

Segundo a mídia chinesa South China Morning Post, hoje, 30 de abril, a tripulação chinesa da Shenzhou-19, (em chinês “Barco Divino 19”) composta por três pessoas, pousou com sucesso em um novo local na região autônoma da Mongólia Interior, depois que o mau tempo atrasou seu retorno da estação espacial de Tiangong. O voo foi lançado em 29 de outubro de 2024.

Shenzhou-19: detalhes do retorno da missão espacial

O comandante da tripulação, Cai Xuzhe, juntamente com Song Lingdong e Wang Haoze – a terceira mulher astronauta do país, e a única engenheira de voo espacial feminina – deveriam originalmente retornar um dia antes.

O Agência Espacial China Manned (CMSA) disse na quarta-feira que o regresso da tripulação Shenzhou-19 – incluindo o mais jovem astronauta chinês até agora – foi adiado por ventos fortes no local de aterragem original.

A agência acrescentou que o pouso seria transferido para a seção leste do local de pouso de Dongfeng, onde as condições meteorológicas atendiam aos requisitos. Foi a primeira vez que uma tripulação pousou nessa área.

“Diante de novas situações e novos desafios, toda a equipe do projeto trabalhou em estreita colaboração, ligada ao solo e ao céu, e rapidamente formulou medidas de resposta para garantir o sucesso da missão”, disse o CMSA em um post de mídia social antes da descida.

Num comunicado de acompanhamento postado nas mídias sociais na quarta-feira, a agência disse que a tripulação começou sua descida às 12h17, horário local, com a cápsula de retorno tocando pouco menos de uma hora depois, às 1h08. A equipe médica no local confirmou que os astronautas estavam em boas condições, de acordo com a CMSA.

Planos da China para a Lua: base e exploração do polo sul

A China pretende e já planeja enviar seus astronautas à Lua até 2030. Um dos objetivos declarados desse plano é estabelecer uma base lunar, especialmente no polo sul do satélite natural, entre 2026 e 2028, como parte de missões precursoras para essa base.

A estação espacial chinesa Tiangong (“palácio celestial”) – de onde veio o “barco divino 19” – já está em operação desde 2021. Ela serve como plataforma para missões tripuladas, experimentos científicos e manutenção orbital. A China pretende expandir essa estação com novos módulos nos próximos anos.

A construção de uma base lunar está prevista para ser concluída até 2045, com uso de tecnologias avançadas como impressão 3D que deve utilizar o solo lunar e reatores nucleares para energia.

Exploração de Marte e futuras missões espaciais da China

A China também já realizou missões bem-sucedidas a Marte, como a Tianwen-1, e planeja futuras missões tripuladas ao planeta vermelho, possivelmente até 2033.

Além disso, o programa Tianwen inclui planos para explorar asteroides próximos da Terra, cometas e até enviar sondas para planetas gigantes gelados como Urano ou Netuno no futuro.

A coleta de amostras de Marte é uma meta importante, com a China possivelmente liderando essa iniciativa, dada a complexidade e atrasos enfrentados por outras agências espaciais.

A preocupante componente militar no programa espacial chinês

O programa espacial chinês é controlado pelo Exército Popular de Libertação, o que agrega uma componente militar estratégica. A estação Tiangong tem equipamentos que levantam preocupações internacionais quanto ao uso potencial para desativar satélites ou veículos espaciais de adversários numa eventual crise internacional.

A China quer estabelecer uma zona econômica Terra-Lua, visando à comercialização e exploração de recursos espaciais, o que mostra interesses não só científicos, mas que abarcam aspectos econômicos e estratégicos.

Apesar da competição evidente com os Estados Unidos, a China manifesta pendor para a cooperação internacional no espaço, embora barreiras políticas, especialmente nos EUA, dificultem essa colaboração.