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Seis garrafas de água, conservas em lata, arroz, macarrão, lanternas, rádio analógico e kit de primeiros socorros: UE recomenda que famílias estejam prontas para sobreviver 72 horas sem ajuda externa em caso de guerra, ciberataque ou catástrofe climática

por Alves Publicado em 26/03/2025
Seis garrafas de água, conservas em lata, arroz, macarrão, lanternas, rádio analógico e kit de primeiros socorros: UE recomenda que famílias estejam prontas para sobreviver 72 horas sem ajuda externa em caso de guerra, ciberataque ou catástrofe climática

Diante do aumento das tensões globais e do risco de crises generalizadas, a Comissão Europeia propôs uma medida inédita para reforçar a resiliência civil em todos os países da União Europeia. A recomendação é clara: cada família deve estar preparada para sobreviver por, no mínimo, 72 horas sem qualquer tipo de ajuda externa.

A proposta consta de um guia com 17 páginas, que será apresentado oficialmente em Bruxelas, com o objetivo de preparar os cidadãos europeus para situações de emergência. A Comissão destaca a importância de enfrentar desde agressões armadas e ciberataques até pandemias e eventos climáticos extremos.

Segundo o documento, os primeiros três dias de uma crise são considerados os mais críticos. Por isso, é essencial que cada residência mantenha um kit de sobrevivência com itens básicos que garantam autonomia durante esse período.

O conteúdo do kit recomendado inclui seis garrafas de água potável por pessoa, alimentos não perecíveis como conservas em lata, arroz e macarrão, lanternas com pilhas, um rádio analógico a pilhas e um kit completo de primeiros socorros.

Medida integra nova estratégia de preparação para tempos de crise proposta pela Comissão Europeia

A iniciativa faz parte da “Estratégia de Preparação da União“, que detalha 30 ações-chave para fortalecer a resposta civil em tempos de emergência. A intenção é integrar governos, cidadãos e instituições em uma mentalidade de preparação constante. Além do kit de emergência, o plano propõe exercícios conjuntos entre Estados-membros, cursos de formação para jovens e adultos e campanhas públicas de conscientização sobre riscos e ameaças iminentes.

A vice-presidente executiva da Comissão Europeia, Roxana Mînzatu, afirmou que a principal mensagem da proposta é que a Europa deve se preparar “enquanto o sol ainda brilha”, reforçando a necessidade de antecipação antes que as crises ocorram.

No documento, a Comissão destaca que o atual cenário geopolítico exige uma mudança de mentalidade dos cidadãos, que devem passar a enxergar a preparação para emergências como um dever doméstico permanente.

Comissão defende cooperação entre civis e militares e realização de simulacros regulares

Entre as diretrizes, o relatório enfatiza que, em caso de conflitos armados, as Forças Armadas precisarão do apoio da população civil para garantir o funcionamento dos serviços essenciais. A colaboração entre organizações civis e militares passa a ser vista como estratégica.

Exercícios de simulação e treinamentos conjuntos entre os países do bloco também estão previstos no plano. O objetivo é garantir que diferentes nações consigam atuar de forma coordenada em caso de catástrofes que ultrapassem fronteiras.

O guia destaca que, apesar dos avanços durante a pandemia de covid-19, ainda existe grande fragmentação na cooperação entre os países da União Europeia. A resposta às crises continua sendo, em muitos casos, reativa em vez de preventiva.

O relatório alerta para a necessidade urgente de desenvolver mecanismos mais eficazes de alerta precoce, antecipação de riscos e previsão estratégica. A falta desses instrumentos pode agravar os efeitos das crises futuras.

Criação de um dia europeu de preparação e plataforma com informações de emergência estão no plano

Entre as propostas, está a criação de um “dia europeu da preparação”, dedicado à conscientização da população sobre a importância de estar pronta para enfrentar catástrofes de diferentes naturezas. Outro destaque é o desenvolvimento de uma plataforma digital que fornecerá informações sobre riscos e orientações em tempo real para cidadãos e turistas em caso de emergência, incluindo localização de abrigos e serviços.

Bruxelas também pretende coordenar reservas estratégicas em escala continental, incluindo medicamentos, matérias-primas críticas, energia e alimentos, para enfrentar eventuais crises de abastecimento.

A estratégia prevê ainda a integração do tema da preparação para emergências nos currículos escolares dos países membros, como forma de educar desde cedo a população sobre riscos e respostas adequadas.

Guia alerta para riscos híbridos, desinformação e impacto das mudanças climáticas na Europa

O documento enfatiza que a paz e a estabilidade no continente já não estão garantidas e que os riscos vão muito além de conflitos armados. Ciberataques, sabotagens em infraestruturas estratégicas e campanhas de desinformação são apontados como ameaças crescentes.

Entre os alvos citados estão redes elétricas, sistemas bancários, cabos submarinos, gasodutos e oleodutos. A manipulação da informação é tratada como uma ferramenta perigosa para enfraquecer democracias e causar caos social. O guia também dedica atenção especial aos eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, cheias e incêndios florestais, que afetam com mais intensidade os países do sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália.

A Comissão alerta que o aquecimento global continuará intensificando os impactos negativos, não apenas dentro da Europa, mas também com reflexos nas cadeias de abastecimento internacionais e nas rotas comerciais.

Investimento de 800 bilhões de euros em defesa reforça estratégia europeia de resiliência

O plano de preparação civil apresentado por Bruxelas se soma a uma série de outras iniciativas do bloco europeu. Na semana anterior, foi divulgado o plano “ReArmar a Europa“, que prevê investimentos de até 800 bilhões de euros em defesa e segurança até 2029. Desse total, 650 bilhões devem vir dos orçamentos nacionais e 150 bilhões de empréstimos garantidos pelo orçamento comunitário. O objetivo é reforçar a capacidade militar e a autonomia estratégica da União Europeia.

Também fazem parte do pacote o Plano Europeu de Adaptação às Alterações Climáticas, a Lei dos Medicamentos Críticos e o Pacto para uma Indústria Limpa. Nos próximos dias, será divulgada ainda uma estratégia focada na preparação de infraestruturas e proteção contra ameaças híbridas.

A base da proposta apresentada nesta quarta-feira tem origem em um relatório assinado por Sauli Niinisto, ex-presidente da Finlândia, país vizinho da Rússia e referência europeia em preparação civil para crises.

A informação foi divulgada por cnnportugal, com base em dados obtidos em primeira mão pelo jornal El País e também pelo portal Politico, que tiveram acesso ao conteúdo completo do guia da Comissão Europeia.

Alves

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