A história proibida da descoberta do Brasil: será que foi Pedro Cabral mesmo?
A versão tradicional que a gente aprende na escola diz que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil sem querer, no meio do caminho para a Índia, depois de ser empurrado por uma tempestade lá por Cabo Verde. Hoje em dia, no entanto, essa explicação simplista já não convence quase ninguém. A maioria dos historiadores concorda que os portugueses já tinham uma boa noção de que havia terra por aqui. Cabral, portanto, só veio confirmar e tomar posse. A Revista Sociedade Militar consultou historiadores, especialistas e entusiastas para saber mais sobre esse assunto.
O tal vento que causou o “desvio” de rota
Se observarmos no mapa a rota da frota de Pedro Álvares Cabral, é fácil notar que o tal “desvio” é grande demais para ser só resultado de mau tempo. De acordo com historiadores, é verdade, sim, que os navegadores da época usavam a técnica da “volta do mar” para pegar ventos melhores e contornar o Cabo da Boa Esperança com mais facilidade. Mas, também é vedade que ninguém iria tão longe assim simplesmente por acidente.
A própria expedição de Cabral contava com a presença de Bartolomeu Dias. Este foi ninguém menos que o primeiro europeu a dobrar o Cabo das Tormentas, o atual Cabo da Boa Esperança. Bartolomeu Dias era o sujeito que melhor conhecia a rota. Portanto, se Cabral tivesse mesmo se perdido, o navegador mais experiente da frota deveria ser demitido na hora.
A verdade mais plausível é que os portugueses já suspeitavam que havia terras nesta região do Atlântico e mandaram Cabral confirmar. E essas suspeitas tinham vários indícios de serem corretas.
Portugueses já sabiam? Provavelmente
De acordo com historiadores, desde que Cristóvão Colombo “descobriu” a América em 1492, os espanhóis encontravam cada vez mais novas terras a oeste. Vicente Yáñez Pinzón, um dos navegadores de Colombo, já tinha passado pelo litoral do Brasil pelo menos três meses antes de Pedro Álvares Cabral. Mas como a linha de Tordesilhas deixava essa região sob domínio português, os espanhóis não se interessaram muito.
Além disso, os portugueses já estavam de olho em terras a oeste bem antes de Colombo. Segundo pesquisadores, pelo menos dois navegadores lusitanos, João Vaz Corte-Real e Diogo de Teive, teriam chegado ao Canadá décadas antes dos espanhóis. Há relatos de uma expedição de Fernão Teles, em 1473, que encontrou uma “grande ilha” no Atlântico, com uma foz de rio que lembra a costa brasileira. E tem também um certo Duarte Pacheco Pereira, que escreveu um livro em 1505 e afirmou ter estado no Brasil em 1498, dois anos antes de Cabral.
E ainda tem o relato de Vasco da Gama, que em 1498, a caminho da Índia, avistou aves vindo do oeste em uma latitude parecida com a do Brasil. Isso indicava terra firme por ali. Vasco da Gama não desviou para conferir, mas essa informação pode ter sido suficiente para que o rei de Portugal mandasse Pedro Álvares Cabral investigar.
Ou seja: o Brasil já estava no radar
Além dos navegadores, havia lendas antigas sobre terras no meio do Atlântico. Ilhas misteriosas como a lendária “Hy-Brazil” aparecem em mapas europeus bem antes de qualquer “descoberta oficial”. Alguns historiadores acreditam que, quando os portugueses finalmente colocaram os pés aqui, o nome Brasil pegou porque acharam que tinham encontrado a tal ilha, e não por conta do Pau-Brasil, conforme a história oficial diz.
Em suma, o papo de que Pedro Álvares Cabral chegou aqui por acaso é difícil de engolir. Portugal já tinha pistas de que havia terra a oeste, seja por rumores, relatos de navegadores ou até mesmo por expedições não oficiais. Cabral pode até ter feito uma cara de surpresa quando avistou o Brasil, mas no fundo já devia saber o que estava procurando.