Alto Comando do Exército prestes a nomear duas mulheres generais pela primeira vez em 200 anos; decisão nas mãos de 17 homens

Por decisão do comandante do Exército, General Tomás Paiva, e de 16 generais, o mês de novembro de 2025 pode marcar a entrada de duas mulheres no generalato, um marco inédito em mais de 200 anos de história das Forças Armadas brasileiras. As coronéis Carla Maria Clausi e Carla Lobo Loureiro estão aptas a se tornarem as primeiras generais de Brigada do Brasil. A promoção, que depende de uma rigorosa avaliação do Alto Comando, pode ser aprovada já no próximo mês, com decisão final do presidente Lula.
O caminho até o generalato
A possibilidade de ascensão das coronéis Clausi e Loureiro ao generalato é resultado de um processo histórico que começou em 1992, quando o Exército passou a aceitar mulheres em suas fileiras. Em 2024, o General Tomás Paiva já havia sinalizado que, a partir de 2026, as mulheres estariam em condições de ascender ao quadro de generais. “Elas estão concorrendo forte”, afirmou Paiva em entrevista ao Estadão, publicada pela Revista Sociedade Militar em 7 de junho de 2024.
Agora, o cenário parece ter se antecipado. Segundo o O Globo, as duas coronéis, ambas da turma de oficiais médicos de 1997, estão na lista de promoções que serão analisadas em outubro. A decisão final caberá a 17 homens: o comandante do Exército e 16 generais de Exército.
Quem são as coronéis prestes a fazer história
Carla Maria Clausi, formada em Medicina pela Universidade Federal do Paraná, é especialista em cardiologia clínica e terapia intensiva. Ela ingressou no Exército em 1996 e, em 2015, tornou-se a primeira mulher a comandar uma unidade militar, o Hospital de Guarnição de João Pessoa. Clausi também foi homenageada pela ONU por sua atuação no Haiti, onde salvou crianças sob escombros após o terremoto de 2008.
Já Carla Lobo Loureiro, formada pela UFRJ e especializada em otorrinolaringologia, comandou o Hospital de Guarnição de Florianópolis e o Hospital Militar de Área de Porto Alegre (HMAPA). Sua trajetória, no entanto, foi marcada por polêmicas em 2023, quando visitou diariamente o marido, coronel Hélio Lima, preso sob suspeita de envolvimento em atos golpistas.

O processo de promoção e os critérios rigorosos
A promoção de coronel para general depende de vagas abertas, ou seja, é necessário que um general entre para a reserva. Os critérios incluem antiguidade, merecimento, idoneidade moral, capacidade física e especialização militar. Além disso, os candidatos precisam ter experiência em funções de comando e Estado-Maior.
Segundo o O Globo, o processo é conduzido pelo Alto Comando e sugerido ao presidente Lula, que raramente nega a indicação. A expectativa é que a decisão seja tomada até o início de 2026, mas o cenário atual aponta para novembro de 2025.
Contexto histórico e avanços recentes
A inclusão das mulheres nas Forças Armadas começou tardiamente no Brasil. Em 1980, a Marinha criou o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva (CAFRM), e o Exército só passou a aceitar mulheres em 1992. Atualmente, mais de 34 mil mulheres integram as Forças Armadas, sendo cerca de 13 mil no Exército, segundo dados da Revista Sociedade Militar (5 de janeiro de 2025).
Este ano também marcou a primeira vez em que mulheres puderam se alistar voluntariamente no serviço militar. Até junho de 2025, 26.130 mulheres se inscreveram, mas apenas 1.010 serão selecionadas para servir a partir de 2026.
Um novo capítulo para o Exército
A possível promoção de Clausi e Loureiro ocorre em um momento de transformação para o Exército. Além de discutir a inclusão feminina, a Força Terrestre planeja abandonar o slogan “Braço Forte, Mão Amiga”, usado desde 1992, segundo informações da Revista Sociedade Militar.
Enquanto isso, o Exército enfrenta desafios financeiros. De acordo com a Veja, citada pela Revista Sociedade Militar, a Força está com “cofres vazios” e só tem recursos para contas básicas. Ainda assim, o General Tomás Paiva anunciou a aquisição de 100 mísseis Javelin e 98 caça-tanques Centauro II-BR.