Deserção digital sem precedentes: Exército tenta reverter crise de engajamento com Política de Governança Digital

Enquanto o Exército Brasileiro perde milhões de seguidores nas redes sociais, a instituição dá um passo decisivo na modernização de sua comunicação: a aprovação da Política de Governança Digital (EB10-P-01.028). A nova portaria de 7 de março de 2025, mas publicada na sexta-feira (21) no Boletim do Exército, chega em um momento crucial, em que a força tenta se reconectar com a sociedade por meio de um canal oficial no WhatsApp.
A queda livre nas redes sociais
Nos últimos dois anos, conforme noticia a Revista Sociedade Militar, o Exército perdeu 2,1 milhões de seguidores no Instagram, uma média de 2.600 unfollows por dia. A “deserção digital”, como foi batizada, reflete uma crise de engajamento e confiança. A instituição, que já foi uma das maiores influenciadoras digitais do país, agora busca uma nova forma de se comunicar diretamente com o cidadão.
O fenômeno contrasta com a postura de outros exércitos mundiais. O americano possui apenas 3,1 milhões de seguidores no Instagram, enquanto o russo mantém modestos 517 mil – ambos bem abaixo do pico brasileiro.

WhatsApp como trincheira digital
A aposta na reconexão com a sociedade passa agora pelo WhatsApp. A plataforma permitirá ao Exército enviar mensagens diretas aos celulares de brasileiros, sem a intermediação da mídia tradicional ou algoritmos de outras redes sociais.
“A racionalização, a modernização, o fortalecimento e a simplificação da relação do EB com a sociedade” é destacada como primeira premissa da nova política. O documento deixa clara a intenção de aproximação direta com os cidadãos.
Transparência obrigatória, mas com limites
A política estabelece o princípio da “transparência” como compromisso “com a divulgação das suas atividades, prestando informações confiáveis, relevantes e tempestivas à sociedade”. Será que isso inclui a nova aposta no WhatsApp?
Contudo, impõe o “cumprimento das restrições de acesso à informação” como premissa.
Esse equilíbrio entre transparência e sigilo parece dialogar com a experiência recente da instituição. Após o pico de seguidores, o Exército chegou a restringir comentários em suas redes sociais, tentando controlar a narrativa.
Conceitos e burocracias
A portaria dedica extensos trechos a definições técnicas, como “assinatura digital”, “certificado digital” e “autenticidade”. São mais de 31 conceitos detalhados no documento, criando um arcabouço burocrático para a transformação digital.
Entre os princípios estabelecidos, aparece o da “necessidade de conhecer”, definido como “condição para o acesso à informação sigilosa e à informação sensível, em total respeito à privacidade”. Um sinal de que nem tudo estará disponível ao público.
Comando centralizado
A governança digital do Exército será comandada pelo Conselho Superior de Tecnologia da Informação (CONTIEx), órgão que assessora diretamente o Comandante do Exército. Um Comitê específico cuidará da implementação das diretrizes.
O Estado-Maior do Exército, por meio da 2ª Subchefia, ficará responsável pela transformação digital, enquanto o Departamento de Ciência e Tecnologia aparece como órgão gestor do processo – uma estrutura robusta para a nova fase digital.
Normas para interação digital
A política determina que os órgãos do Exército devem observar “a presunção de boa-fé” e utilizar “linguagem clara, que evite o uso de siglas, jargões e estrangeirismos” na comunicação digital com o público.
Parece uma resposta às críticas recebidas nas redes sociais e uma tentativa de se comunicar melhor com um público mais amplo, para além da bolha dos entusiastas militares que formavam sua base inicial de seguidores.