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A cidade dos mísseis: o colossal arsenal subterrâneo das Forças Armadas do Irã que impressiona o mundo, mas esconde uma falha crítica capaz de transformá-lo em um túmulo radioativo em minutos

por Alves 30/03/2025
A cidade dos mísseis: o colossal arsenal subterrâneo das Forças Armadas do Irã que impressiona o mundo, mas esconde uma falha crítica capaz de transformá-lo em um túmulo radioativo em minutos

Um vídeo divulgado no fim de março por canais ligados ao governo iraniano revelou detalhes da chamada “cidade dos mísseis”, um extenso complexo subterrâneo repleto de armamentos pesados e equipamentos militares estratégicos. Nas imagens, líderes das Forças Armadas do Irã, como o general Mohammad Hossein Bagheri e o comandante da Força Aeroespacial Amir Ali Hajizadeh, percorrem túneis ladeados por mísseis balísticos e plataformas móveis de lançamento, apresentando o que seria um dos maiores arsenais ocultos da República Islâmica.

Iran displays 'missile city' as fears grow of Israeli attack on nuclear  sites

Entre os armamentos exibidos, estão mísseis de longo alcance como o Keibar Shekan, Ghadir H, Sejjil, Raj Kazem e o míssil de cruzeiro Paveh, muitos dos quais utilizados em ataques recentes contra Israel. A intenção aparente do vídeo é demonstrar a força e prontidão militar do Irã, reforçando a imagem de que o país está preparado para qualquer eventualidade militar. No entanto, o conteúdo acabou revelando uma fragilidade estrutural significativa.

Os mísseis estão armazenados lado a lado em grandes corredores subterrâneos, sem divisórias, portas de contenção ou compartimentos isolados. Essa configuração, embora impressionante à primeira vista, representa um risco elevado: uma única explosão acidental ou ataque direcionado pode gerar uma reação em cadeia, colocando toda a estrutura em colapso.

Túneis contínuos e sem compartimentos isolados podem transformar o arsenal em uma armadilha mortal em caso de ataque aéreo ou sabotagem interna

A ausência de compartimentação interna nas galerias contrasta com outras bases iranianas reveladas em anos anteriores, que contavam com sistemas mais robustos de proteção. Em 2020, por exemplo, o Irã mostrou um bunker onde mísseis eram movimentados por trilhos automatizados. Já em 2023, uma base subterrânea dedicada à aviação militar também foi exibida. Ainda assim, especialistas afirmam que mesmo esses locais mais protegidos não são imunes a ataques coordenados.

Iran Guards show off underground 'missile city,' claim 'enemy' falling  behind | The Times of Israel

O vídeo da “cidade dos mísseis”, apelido atribuído informalmente ao complexo, surge em um momento delicado para Teerã. O governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, tem pressionado o Irã a renegociar os termos do acordo nuclear, enquanto reforça sua presença militar no Oriente Médio. Recentemente, os porta-aviões USS Carl Vinson e USS Harry Truman foram posicionados na região, junto com caças F-35 e bombardeiros B-2 Spirit – estes últimos equipados com bombas capazes de destruir estruturas subterrâneas fortificadas.

Entre as armas mencionadas, destaca-se a MOP (Massive Ordnance Penetrator), uma bomba de 13 toneladas projetada para penetrar dezenas de metros de concreto e rocha antes da detonação. Transportadas por bombardeiros furtivos B-2, essas munições seriam capazes de inutilizar completamente uma instalação subterrânea como a “cidade dos mísseis”, mesmo sem destruí-la totalmente.

Bombas penetradoras e operações especiais mostram que nem mesmo estruturas enterradas estão fora do alcance de ataques diretos e cirúrgicos

As vulnerabilidades do complexo iraniano tornam-se ainda mais evidentes diante dos recentes sucessos de Israel em operações contra estruturas similares. Em setembro de 2024, forças especiais israelenses destruíram uma base subterrânea de produção de mísseis na Síria. A missão envolveu infiltração terrestre por helicóptero, coleta de informações e posterior bombardeio com munição bunker buster. Pouco tempo depois, um centro de comando do Hezbollah foi atingido por bombas penetradoras, resultando na morte do líder Hassan Nasrallah.

Iran has built extensive underground missile infrastructure, embassy  confirms - Tehran Times

Tais ações servem como um aviso direto ao Irã de que profundidade e concreto não garantem segurança absoluta. Além da fragilidade estrutural, o complexo subterrâneo iraniano depende de entradas visíveis, sistemas de ventilação, energia e comunicação – todos vulneráveis à detecção por satélites, drones ou inteligência humana. A destruição ou bloqueio desses pontos pode tornar o complexo inoperante ou, em situações extremas, uma armadilha mortal para seus próprios operadores.

A informação foi divulgada pelo canal “Hoje no Mundo Militar” no YouTube, que analisou o vídeo iraniano amplamente compartilhado em redes como Telegram e WhatsApp. Segundo especialistas ouvidos pelo canal, o conteúdo tem finalidade propagandística, mas expôs falhas que colocam em xeque a segurança da instalação e podem comprometer o arsenal do país em caso de conflito.

Ao final, o episódio reforça um ponto central para a estratégia militar moderna: a eficiência de uma base não está apenas na sua profundidade ou armamento, mas na robustez do seu projeto e capacidade de resistir a ataques direcionados. A “cidade dos mísseis”, como foi apelidada, mostrou ao mundo que nem tudo o que está oculto sob a terra está protegido do poder destrutivo da guerra tecnológica contemporânea.