Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

O Sargento no Exército é mesmo mais valorizado do que na FAB e na Marinha. Mito ou verdade!?

por JB Reis 18/02/2025
O Sargento no Exército é mesmo mais valorizado do que na FAB e na Marinha. Mito ou verdade!?

No dia 15 de fevereiro, alunos dos Cursos de Formação e Graduação de Sargentos do Exército (CFGS) da Escola de Sargentos das Armas (ESA) e do Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx) receberam em cerimônia solene o sabre Sargento Max Wolf Filho. Após o primeiro ano de formação nas Unidades Escolares Tecnológicas do Exército (UETE), nas quais receberam a formação básica do CFGS, 519 Alunos da ESA e 32 Alunos do CIAvEx iniciaram sua qualificação nas áreas combatente e de aviação do Exército.

A ESA, situada em Três Corações-MG, é a responsável pela formação do sargento combatente das Armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, capacitando-os para o exercício de comando de pequenas frações.

O CIAvEx, situado em Taubaté-SP, é o responsável por formar o sargento QMS Aviação, qualificando-os na especialidade de Manutenção de Aeronaves. 

Sargento, líder de pequenas frações

Para o recebimento do sabre, os alunos da Linha Militar Bélica do Exército participaram da solenidade de entrega do Sabre, trajando o 1º Uniforme Escolar (Gala), réplica do uniforme usado na antiga Escola de Sargentos da Fortaleza de São João, a primeira unidade sistematizada de formação do sargento do Exército Brasileiro.

O Sabre simboliza o espírito imortal do sargento Max Wolf Filho, herói da Força Expedicionária Brasileira, e expressa o culto às tradições e a manutenção dos valores do Exército Brasileiro, compromissos indispensáveis ao líder de pequenas frações.

O instrumento é réplica da baioneta do Fuzil Mauser 1908, utilizado pelo sargento Max Wolf Filho nas Revoluções de 1930 e Constitucionalista de 1932, e será conduzido honrosamente pelos alunos do CFGS até o final do presente ano de instrução.

Assista ao vídeo e saiba mais sobre o sargento Max Wolf Filho.

Em formatura presidida pelo chefe de Educação e Cultura do Exército, general de exército Francisco Carlos Machado Silva, alunos da ESA e do CIAvEx tiveram a honra de empunhar, pela primeira vez, o símbolo que representa a honra militar do aluno CFGS.

O chefe do DECEx, general de exército Carlos Machado, e o comandante militar do sudeste, general de exército Pedro Celso Coelho Montenegro, entregaram o Sabre sargento Max Wolf Filho ao aluno João Pedro da Cunha Peixoto, da ESA, e ao aluno Lucas Oliveira dos Santos, do CIAvEx, melhores colocados, por mérito intelectual, no 1º ano do CFGS.

Prestigiaram a solenidade o antigo aluno e ex-comandante da ESA, Gen Ex R/R Jarbas; o vice-chefe do DECEx, Gen Div Valença; o comandante da 4ª RM, Gen Div Cantanhede, além de  outras autoridades civis e militares do sul de Minas.

Na solenidade, os 551 Alunos da ESA e do CIAvEx proferiram o juramento solene, segundo  o qual prometeram cultuar e manter os valores e as tradições do Exército Brasileiro:

“Ao receber este Sabre, símbolo do espírito imortal do Sargento Max Wolf Filho, prometo cultuar e manter os valores e as tradições do Exército Brasileiro.”

Um rito de passagem muito particular

A cerimônia descrita acima foi noticiada pelo site do Exército brasileiro. Não há, nas outras duas Forças, Marinha e Força Aérea, riqueza simbólica que rivalize com essa que foi mostrada na cerimônia de entrega do Sabre Sargento Max Wolf Filho.

O impacto psicossocial e institucional que esse rito militar tipicamente inventado pelo Exército brasileiro é considerável. E deve ter um efeito fundamental na construção de um liame forte entre o sargento e a Força terrestre.

Valorização da carreira de sargento no Exército

Há décadas existe um ditado muito popular entre os militares de baixa patente, e até entre os candidatos a ingressar na vida militar. Esse ditado diz que se você quiser ser sargento das Forças Armadas, a longo prazo a melhor opção é o Exército.

A afirmação de que o sargento no Exército Brasileiro é mais valorizado do que na Força Aérea Brasileira (FAB) e na Marinha do Brasil pode ser vista como leviana ou superficial. Por isso, ela deve ser analisada sob diferentes perspectivas, incluindo remuneração, progressão na carreira e responsabilidades atribuídas.

Isonomia salarial entre os sargentos

No quesito remuneração, a afirmação não se sustenta, já que, por força de lei, os sargentos das Forças Armadas brasileiras possuem uma estrutura salarial padronizada, independentemente da Força a que pertencem.

Além do soldo básico, esses militares podem receber adicionais e gratificações que variam conforme a especialização e outras qualificações. Isso é normal em qualquer profissão.

O tempo de serviço, que era um nivelador financeiro da maior importância, deixou de existir depois da MP 2.215/2001.

Previsibilidade e progressão na carreira de sargento

Já quanto à progressão na carreira, há diferenças gritantes. A primeira distorção que deve ser levada em conta, é que a carreira dos oficiais é regida por lei ordinária – Lei nº 5.821, de 10/11/1972 – que dispõe sobre as promoções dos oficiais da ativa das Forças Armadas. 

No polo oposto da hierarquia, a carreira dos praças é regulada por cada um dos comandantes de Força. Isso naturalmente dá margem a arbitrariedades por parte da Administração castrense.

Na Força Aérea e na Marinha brasileiras, a progressão também é regulamentada, porém pode apresentar diferenças em relação ao Exército, especialmente nos critérios e oportunidades para ascensão a postos superiores.

Por exemplo, na FAB, há casos específicos, como o dos taifeiros, que possuem particularidades em suas carreiras. Uma pequena matéria do site Montedo mostra um vislumbre das reais engrenagens por trás das promoções e criações de quadros de sargentos na FAB e no EB.

Ascensão estruturada e oportunidades a longo prazo 

Já no Exército, a carreira de sargento apresenta uma trajetória bem definida, permitindo ascensão até o posto de capitão. Essa progressão é estruturada, e oferece estabilidade e previsibilidade a longo prazo ao militar.

Os cursos da Escola de Sargentos das Armas já há alguns anos é considerado de nível superior (tecnólogo), reconhecimento que não foi acolhido pelas outras duas Forças.

Na FAB e na Marinha, a progressão também é regulamentada, porém diverge do Exército, especialmente nos critérios e oportunidades para ascensão a postos superiores. Na FAB, por exemplo, o sargento só ascende ao oficialato, caso venha a prestar concurso externo ou interno.

Vocação declaradamente bélica do Exército

O Exército tem o maior efetivo militar das Forças Armadas, o que geralmente significa mais oportunidades de ingresso e fluxo mais regular na carreira. Em compensação, a estrutura do EB tende a ser mais tradicionalista e consequentemente mais rígida, em comparação com as outras Forças.

Por estar praticamente em todo o território nacional, há notável possibilidade de o militar servir em diversas regiões do Brasil, trazendo chances maiores de transferências mais frequentes.

O outro lado disso é que, sendo a mobilidade geográfica a regra, a criação de raízes familiares é dificultada.

Finalmente a vocação declaradamente bélica do Exército, com foco forte em operações terrestres não pode ser ignorada, e tem peso significativo na relação comando > sargento > tropa.

As atividades operacionais do Exército geralmente demandam um bom preparo físico. Se um candidato à vida militar tem interesse em atividades de combate, defesa territorial e operações de paz, o EB é a primeira escolha.

O papel fundamental do sargento na visão do Exército Brasileiro

A cerimônia de entrega do sabre Sargento Max Wolf Filho é um símbolo, e como todo símbolo carrega significados não perceptíveis a um olhar desatento e superficial.  Existe um dístico num prédio da ESA que diz: “sargento, elo fundamental entre o comando e a tropa”.

Um aspecto crucial do trabalho do sargento é construir confiança e um forte espírito de equipe entre os soldados. Isso envolve entender as necessidades e preocupações dos soldados, promovendo um ambiente positivo e de apoio.

A propósito de tudo que foi exposto aqui, o filme “Coração de ferro” (Fury), dirigido por David Ayer e estrelado por Brad Pitt, oferece um condensado eletrizante e inspirador aos novos sargentos e aos sargentos de sempre.