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O país que se acostumou ao horror: a onda de homicídios no Brasil que mata mais do que muitos países em guerra

por Rafael Cavacchini Publicado em 17/02/2025 — Atualizado em 14/02/2025
O país que se acostumou ao horror: a onda de homicídios no Brasil que mata mais do que muitos países em guerra

O lado sombrio do Brasil que poucos gostam de falar: por que o país não resolve sua epidemia de homicídios?

Sabe o que realmente assusta no maior país da América Latina? A banalização da tragédia. O Brasil ostenta números de homicídios dignos de zona de guerra. No entanto, parece ter se acostumado com isso. Há mais de uma década, cerca de 60 mil pessoas são assassinadas por ano, um número maior do que o de muitas guerras modernas.

Mas quem realmente se importa? O assunto entra e sai do noticiário, vira estatística e desaparece sem solução.

Mais perigoso que muitos países em guerra

Para se ter uma ideia do absurdo, o Brasil, sozinho, tem mais homicídios do que vários países juntos. E o pior de tudo é que não são exatamente países pacíficos. Se for somar algumas das nações mais violentas do mundo, ainda assim o número de assassinatos por aqui segue imbatível.

Brasil tem mais homicídios do que todos os países em azul juntos.
Em 2015, Brasil tinha mais homicídios do que todos os países em azul juntos. Foto: Blueshift

E isso não é só um problema de segurança pública. Essa realidade trava o desenvolvimento econômico do país. Quem quer investir bilhões em um lugar onde a violência se tornou parte do cotidiano? Quem quer fazer turismo em cidades onde o risco de ser assaltado é constante?

Impunidade como regra

Outro aspecto sombrio que poucos gostam de encarar é a impunidade. A maioria dos crimes não dá em nada. O sistema judiciário é lento, burocrático e, muitas vezes, incapaz de lidar com a criminalidade crescente. O resultado é que, afinal, o crime compensa. Alguns aspectos sobre a questão realmente assustam.

  • De acordo com analistas, um homicida no Brasil tem menos de 10% de chance de condenação. Crimes como latrocínio, roubo e estupro muitas vezes nem chegam a ser investigados a fundo.
  • Facções criminosas dominam regiões inteiras e impõem suas próprias leis.
  • O debate sobre segurança é sequestrado por discursos ideológicos, onde cada lado prefere culpar o outro do que enfrentar a dura realidade.

Violência não é o único problema, mas agrava todos os outros

Muita gente fala sobre os problemas do Brasil – corrupção, desigualdade, infraestrutura precária –, mas poucos percebem que a violência atravessa todas essas questões.

No ranking mundial da percepção de corrupção, o Brasil figura entre os últimos lugares. No mapa, quanto mais vermelho um país, mais contaminado por corrupção ele é.
No ranking mundial da percepção de corrupção, o Brasil figura entre os últimos lugares. No mapa, quanto mais vermelho um país, mais contaminado por corrupção ele é. Foto: Reprodução / Transparência Internacional

Especialistas com frequência levantam questões que tem a violência como principal causa.

  1. Como gerar empregos em áreas dominadas principalmente pelo crime?
  2. Como melhorar a educação se professores têm medo de dar aula sobretudo em algumas regiões?
  3. Como fazer a economia crescer se empresários precisam gastar fortunas com segurança privada?

E, no meio de tudo isso, o brasileiro segue tentando viver como se nada disso fosse um problema urgente. O Brasil aprendeu a conviver com o horror dos homicídios.

Talvez esse seja o lado mais sombrio de todos.


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.