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Missão de Paz no Congo: militares brasileiros enfrentam guerra, rebeldes e crise humanitária; O Brasil na linha de frente

por Rafael Cavacchini 25/02/2025
Missão de Paz no Congo: militares brasileiros enfrentam guerra, rebeldes e crise humanitária; O Brasil na linha de frente

Entre conflitos e esperança, militares brasileiros enfrentam desafios extremos

Na República Democrática do Congo, a paz é um objetivo distante, mas não impossível. Em meio a um cenário de guerra, instabilidade política e crise humanitária devastadora, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Congo (MONUSCO) continua a desempenhar um papel crucial. E, no coração dessa missão, estão os militares brasileiros, enfrentando desafios extremos para garantir a segurança dos civis e auxiliar na estabilização da região. É o Brasil, na linha de frente no Congo.

Desde sua criação, em 2010, a MONUSCO vem tentando conter a violência e desmobilizar grupos armados que assolam o país. No entanto, a missão não está isenta de controvérsias. Frequentemente criticada por sua ineficácia em conter a escalada dos conflitos, a operação enfrenta o desafio de ser vista, por parte da população, tanto como uma força protetora quanto como uma presença estrangeira incapaz de impedir massacres e o avanço de grupos rebeldes.

Militares brasileiros no olho do furacão

O Coronel Felipe Drumond Moraes está há quase um ano em Goma, na turbulenta província do Kivu do Norte. O local é o epicentro dos conflitos mais violentos do país. Ao lado de sua equipe – formada por militares altamente treinados – Moraes lida diariamente com o caos da guerra. Emboscadas, explosões e uma população civil desesperada são só algumas das dificuldades que o coronel enfrenta.

Brasil na ONU: como nossos militares tentam conter a violência no Congo.
Brasil na ONU: como nossos militares tentam conter a violência no Congo. Foto: Divulgação / Exército Brasileiro

Em Goma, além do Coronel Drumond, destacam-se o Tenente Coronel Lucas, que atua no planejamento operacional. Além dele, estão lá os Capitães Fagundes e Priscilla, encarregados das áreas de inteligência e relações civis. E também o 1º Sargento Vinícius Martins, responsável pela segurança do Comandante da Força. Já em Beni, outro foco da missão, 11 militares brasileiros treinam tropas da ONU e das Forças Armadas congolesas (FARDC) para operações na selva. Trata-se de um conhecimento adquirido no rigoroso Curso de Guerra na Selva do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), um dos mais respeitados do mundo.

Conflito e crise humanitária sem fim

A presença dos militares brasileiros se dá em um contexto caótico. Desde o ano passado, o grupo rebelde M23 vem avançando de maneira agressiva, conquistando diversos territórios. Em janeiro de 2025, a violação do cessar-fogo e a queda de Goma para os rebeldes trouxeram uma nova onda de terror à região. A MONUSCO, apesar de todos os seus esforços, vem sendo alvo de críticas por não conseguir impedir a escalada da violência.

Ao mesmo tempo, a crise humanitária atinge níveis alarmantes. Goma e seus arredores abrigam mais de 500 mil refugiados. Os abrigados enfrentam escassez de água, alimentos, medicamentos e infraestrutura básica. A missão da ONU se vê sobrecarregada, com seus soldados lidando não apenas com combates, mas também com a assistência emergencial a milhares de civis em desespero.

Vida e morte: o dia a dia de um militar do Brasil no Congo

A realidade dos militares brasileiros no Congo é extrema. Em meio ao conflito, bunkers são ocupados durante ataques, coletes à prova de balas são usados o tempo todo e racionamento de comida e água se tornou comum. Os soldados relatam emboscadas constantes e até ataques diretos às bases da ONU, com explosões e rajadas de metralhadora destruindo parte da infraestrutura da missão.

Além disso, a hostilidade contra a MONUSCO vem crescendo. Há muitos protestos de congoleses que veem a missão como incapaz de protegê-los. Em alguns casos, bases da ONU foram atacadas por manifestantes furiosos, alegando que a força internacional não age de forma efetiva contra os rebeldes.

Brasil reforça seu compromisso com a paz

Apesar das dificuldades e das críticas, o Brasil segue firme em sua participação com a MONUSCO no Congo. O país não apenas fornece soldados experientes, mas também lidera estrategicamente a missão. Em um reconhecimento desse protagonismo, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, nomeou o General de Divisão Ulisses de Mesquita Gomes como o novo Comandante da Força da MONUSCO.

A presença brasileira na missão de paz recebe elogios internacionalmente, reforçando a imagem do Brasil como um país sobretudo comprometido com a diplomacia e a segurança global. No entanto, a permanência da MONUSCO é incerta. O mandato foi renovado até dezembro de 2025, mas a crescente oposição à presença da ONU no país pode forçar uma retirada antecipada.

Para os militares do Brasil, a experiência no Congo é um teste extremo de resiliência, estratégia e humanidade. Enfrentar o caos da guerra e, ao mesmo tempo, tentar construir a paz é um dos desafios mais difíceis que já enfrentaram.


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