Marinha contrata por R$ 34,5 milhões empresa que vai dar apoio especializado à Unidade que converterá urânio em gás pra mover submarino nuclear: “Essencial para a soberania brasileira”

A Marinha assinou em 20 de fevereiro um contrato de R$ 34,52 milhões com a empresa que prestará serviço de apoio técnico especializado à prontificação, comissionamento e partida da Unidade Piloto de Hexafluoreto de Urânico (Usexa). O contrato vai até 20 de agosto de 2027.
Segundo extrato de contrato divulgado pela Força Naval, trata-se da BK Consultoria e Serviços, que cederá mão de obra em dedicação exclusiva para as atividades que forem necessárias.
É o comissionamento da Usexa que possibilitará a produção de combustível para o futuro Submarino Nuclear Convencionalmente Armado Álvaro Alberto, considerado essencial pela Força Naval para garantir a soberania brasileira no mar. Por ser um projeto-piloto, a intenção é implantar o programa em pequena escala, aprender com os erros e acertos e depois disseminar as boas práticas em outras unidades operacionais.

Em 12 de junho de 2024, a Marinha realizou o primeiro corte de chapa para construção das cavernas de uma das seções do casco do Submarino Nuclear Convencionalmente Armado no Complexo Naval de Itaguaí (RJ). Esse corte representou um marco importante para o projeto, porque a referida seção vai abrigar a geração da energia propulsiva. O início da construção está previsto para este ano.
Já a previsão de lançamento do Álvaro Alberto, cereja do bolo do Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha), está prevista para 2029.
Inaugurada em 2012, a Usexa fica localizada no Centro Industrial Nuclear de Aramar, em Iperá, no interior de São Paulo, e tem como objetivo final permitir ao Brasil atuar em todas as etapas do beneficiamento do urânio, desde a extração do minério até a fabricação de combustível nuclear
A Usexa está sob responsabilidade da Amazul, empresa pública da Marinha que atua na área nuclear.
Quais são as etapas do ciclo do combustível nuclear?

De acordo com o INB (Indústrias Nucleares do Brasil), o ciclo do combustível nuclear é o conjunto de processos industriais que transformam o minério urânio no combustível que gera energia nos reatores nucleares.
Compõem o ciclo do combustível nuclear os seguintes processos e etapas:
Mineração e beneficiamento – depois de retirada do capeamento de solo, a rocha contendo urânio é triturada. Em seguida, ela é submetida a um processo químico que separa o urânio de outros materiais a ele associados na natureza. O resultado desta primeira etapa do ciclo do combustível é o concentrado de urânio (yellowcake). Esta etapa é realizada atualmente na Unidade de Concentração de Urânio em Caetité/BA.
Conversão – o concentrado de urânio é dissolvido e purificado e então convertido para o estado gasoso, o hexafluoreto de urânio (UF6). É somente em forma de gás que ele pode ser enriquecido, passando para a próxima etapa do ciclo do combustível nuclear. Esta etapa ainda não é realizada no Brasil.
Enriquecimento – é o aumento da concentração do urânio, o que torna possível a sua utilização como combustível. Essa concentração do isótopo U235 passa de 0,7%, como ele se encontra na natureza até 5% (suficiente para que ele gere energia). O Brasil utiliza a tecnologia da ultracentrifugação para enriquecer o urânio na Fábrica de Combustível Nuclear da INB em Resende (RJ).
Reconversão – o gás enriquecido é reconvertido em pó de dióxido de urânio (UO2). Esta etapa é realizada na Fábrica de Combustível Nuclear da INB em Resende.
Fabricação de pastilhas – é com o urânio enriquecido sob a forma de pó que são fabricadas pastilhas com cerca de um centímetro de diâmetro. Esta etapa é realizada na Fábrica de Combustível Nuclear da INB em Resende.
Fabricação do combustível nuclear – as pequenas pastilhas de urânio enriquecido são colocadas dentro de varetas de uma liga de aço especial – o zircaloy. Em seguida, as varetas são organizadas em feixes, formando uma estrutura firme de até 5 metros de altura – o combustível nuclear. Esta etapa é realizada na Fábrica de Combustível Nuclear da INB em Resende.
Geração de energia – é a fissão dos átomos de urânio que estão contidos no combustível nuclear dentro do núcleo do reator que gera calor, aquecendo a água, e transformando-a no vapor que faz movimentar as turbinas, gerando assim energia. Esta etapa do ciclo do combustível nuclear é realizada nas usinas nucleares em Angra dos Reis (RJ), pela Eletrobras/Eletronuclear.