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Leopard 2A8 ou um F-16 usado? A Áustria está disposta a pagar US$30 milhões por cada tanque! Será que essa compra faz sentido ou seria melhor investir em poder aéreo?

por Noel Budeguer 19/02/2025
Leopard 2A8 ou um F-16 usado? A Áustria está disposta a pagar US$30 milhões por cada tanque! Será que essa compra faz sentido ou seria melhor investir em poder aéreo?

A Áustria está buscando fortalecer suas forças blindadas, mas o alto custo dos tanques modernos tem gerado debates intensos. Atualmente, o exército austríaco opera apenas um batalhão de tanques, o Panzerbataillon 14, equipado com 58 unidades do Leopard 2A4.

Embora esses veículos ainda sejam eficazes no campo de batalha, suas atualizações foram limitadas, focando principalmente em eletrônica e sistemas da torre. Para reforçar sua defesa, a Áustria avalia a aquisição de 58 novos Leopard 2A8, um investimento estimado em 1,7 bilhão de euros (cerca de 1,78 bilhão de dólares).

Cada unidade do Leopard 2A8 tem um preço estimado de 29 milhões de euros (aproximadamente 30,3 milhões de dólares), um valor considerado elevado. Embora haja quem argumente que esse custo se deve a taxas de exportação, a Alemanha está adquirindo suas próprias unidades a preços similares.

O que Justifica um custo tão alto?

Um dos fatores frequentemente apontados para o preço elevado é a integração do sistema de proteção ativa Trophy. No entanto, uma análise dos números sugere que o impacto financeiro do Trophy pode ser superestimado. O exército dos EUA adquiriu esse sistema para seus tanques Abrams M1A2SEPv2 e M1A2SEPv3 por um custo total de 193 milhões de dólares, o que equivale a aproximadamente 482.500 dólares por unidade.

Mesmo sem o Trophy, o Leopard 2A8 continua sendo um tanque caro, com um preço de cerca de 28 milhões de euros (30 milhões de dólares) por unidade. O custo pode variar conforme o volume do pedido e as especificações exigidas. Em geral, aquisições militares na Europa favorecem compras em grande escala para reduzir os valores unitários, mas o preço ainda é considerável para um único batalhão.

Para efeito de comparação, a Polônia investiu recentemente 4,75 bilhões de dólares em 250 tanques Abrams M1A2SEPv3, além de 26 veículos de recuperação M88A2, 17 pontes de assalto M1110, munição, peças de reposição, logística e treinamento. O custo unitário dos tanques nesse pacote foi de aproximadamente 16,2 milhões de dólares, significativamente inferior ao do Leopard 2A8.

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Desafios logísticos e capacidade industrial

Além do preço elevado, a entrega dos Leopard 2A8 apresenta desafios logísticos significativos. O fornecimento de um batalhão completo, que geralmente conta com 44 a 58 unidades, pode levar entre seis e oito anos.

Esse longo prazo de entrega reflete uma questão maior: a capacidade industrial da Europa para a produção de blindados está em declínio. A indústria de defesa europeia depende cada vez mais de contratos menores e mais caros, resultando em prazos de produção prolongados e disponibilidade limitada.

Diante desse cenário, surge a dúvida: seria mais vantajoso para a Áustria investir esses recursos em alternativas mais versáteis? Embora o Leopard 2A8 tenha um papel importante, as forças aéreas oferecem maior flexibilidade operacional. Aeronaves de combate possuem alcance superior e maior capacidade ofensiva.

Pelo custo de um batalhão de Leopard 2A8, a Áustria poderia adquirir e operar três ou quatro esquadrões completos de caças modernos. Modelos como o Saab Gripen ou o F-16 Fighting Falcon, disponíveis no mercado por cerca de 30 milhões de dólares cada, poderiam proporcionar uma vantagem estratégica distinta, permitindo maior mobilidade e capacidade de ataque aéreo.

Portanto, a decisão de adquirir novos tanques não se limita ao fator financeiro, mas envolve considerações estratégicas mais amplas. A Europa enfrenta um momento decisivo em sua política de defesa, com uma base industrial em retração e um modelo de aquisição cada vez mais fragmentado e custoso. Para a Áustria, equilibrar investimentos entre forças terrestres e aéreas pode ser essencial para garantir uma defesa eficiente e economicamente sustentável.

Leopard 2A8: O mais novo tanque de batalha principal da Alemanha

O Leopard 2A8 representa a mais recente evolução da renomada série Leopard 2, um projeto desenvolvido pela Krauss-Maffei Wegmann (KMW) e Rheinmetall.

Essa versão modernizada tem atraído a atenção de analistas militares e entusiastas de defesa por suas melhorias significativas em blindagem, poder de fogo e capacidades operacionais, adaptando-se às exigências dos conflitos contemporâneos.

O modelo foi inicialmente apresentado como um demonstrador na Feira Internacional de Tecnologias de Defesa e Segurança (IDET), realizada em Brno, na República Tcheca, em maio de 2023. Desde então, passou de um conceito para um veículo pronto para produção, com sua estreia mundial na Eurosatory 2024.

Diferente de atualizações anteriores da série, o Leopard 2A8 representa um salto tecnológico expressivo, redefinindo o padrão dos tanques de batalha modernos.

 

Tecnologia e capacidades avançadas

O Leopard 2A8 incorpora uma nova geração de blindagem multicamadas, composta por aço, tungstênio, materiais compostos e cerâmica, oferecendo proteção aprimorada contra ameaças como armas guiadas antitanque e granadas propelidas por foguete. Essa blindagem é complementada pelo sistema de proteção ativa EuroTrophy (APS), que utiliza radares de 360 graus para detectar e neutralizar projéteis inimigos.

O poder de fogo também foi aprimorado. O tanque é equipado com um canhão de 120 mm/L55 A1, uma versão melhorada do L55, proporcionando maior precisão, alcance e poder de penetração. Esse armamento principal é suportado por um avançado sistema de controle de tiro, que inclui sensores térmicos de terceira geração para o comandante e o artilheiro, garantindo eficácia em qualquer condição de visibilidade.

Além disso, o Leopard 2A8 conta com um sistema de armamento remoto, permitindo que a tripulação opere uma metralhadora sem a necessidade de exposição ao combate direto.

Mobilidade e conectividade no campo de batalha

O tanque é impulsionado por um motor de 1.600 cavalos de potência, conferindo-lhe agilidade para operar em diferentes tipos de terrenos, desde áreas urbanas até ambientes acidentados. Sua velocidade máxima é de aproximadamente 70 km/h em estradas, com um alcance operacional estimado em 450 km, garantindo mobilidade para operações prolongadas.

O sistema de suspensão foi redesenhado para suportar o peso adicional da blindagem e dos novos sistemas eletrônicos, mantendo a capacidade de manobra essencial para combates dinâmicos.

Outro diferencial do Leopard 2A8 é sua avançada suíte de sensores e conectividade. Um sistema de observação omnidirecional e sensores de alerta a feixes de laser garantem maior consciência situacional para a tripulação. Além disso, sua arquitetura digital permite o compartilhamento rápido de informações dentro do tanque e em redes militares mais amplas, potencializando a coordenação tática no campo de batalha.

GBN Defense - A informação começa aqui: Suécia investe US$ 1,97 Bilhão na  Aquisição de Leopard 2A8 para Reforçar seu Exército

Interesse internacional e futuro do Leopard 2A8

O Leopard 2A8 já despertou o interesse de diversos países europeus. Alemanha, Noruega e Países Baixos confirmaram pedidos para integrar esses tanques em suas forças armadas como parte de uma modernização estratégica.

Os Países Baixos, por exemplo, encomendaram 46 unidades, marcando um retorno significativo ao uso de blindados pesados após anos de redução nesse setor.

O Leopard 2A8 representa um avanço significativo na tecnologia de blindados, unindo proteção avançada, poder de fogo e mobilidade. Seu papel como peça central das forças blindadas modernas parece assegurado para os próximos anos.

No entanto, com o cenário militar global em constante transformação, a questão permanece: será que tanques como o Leopard 2A8 ainda são o investimento mais estratégico em um ambiente de guerra cada vez mais dinâmico?