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Google cede à pressão e adere ao uso militar da IA, marcando uma nova fase de colaboração com o Departamento de Defesa dos EUA

por Sérvulo Pimentel Publicado em 10/02/2025
Google cede à pressão e adere ao uso militar da IA, marcando uma nova fase de colaboração com o Departamento de Defesa dos EUA

No cenário de crescente tensão geopolítica entre Estados Unidos e China, o Google irá abandonar seu compromisso de não utilizar Inteligência Artificial (IA) para fins militares. A decisão, revelada pelo The Washington Post, evidencia a crescente colaboração entre o setor de tecnologia americano e o Departamento de Defesa dos EUA, conforme destaca Michael Horowitz, professor de ciência política na Universidade da Pensilvânia.

“O anúncio do Google é mais uma evidência de que o relacionamento entre o setor de tecnologia dos EUA e [o Departamento de Defesa] continua a se estreitar, incluindo empresas líderes de IA”, afirmou Horowitz, que além de professor de ciência política é um ex-colaborador do Pentágono. Para ele, “faz sentido que o Google tenha atualizado sua política para refletir a nova realidade”.

Fim de uma era

Os princípios de IA do Google, publicados em 2018 após protestos internos contra um contrato militar, incluíam uma seção que proibia o uso da tecnologia em armas, vigilância e aplicações que pudessem causar danos generalizados. Essa cláusula desapareceu na atualização da última terça-feira.

Visualização de um enxame de drones kamikaze HX-2. (Imagem: Helsing)

Um porta-voz da empresa evitou comentar a mudança e citou um post assinado por Demis Hassabis, chefe de IA do Google, e James Manyika, vice-presidente sênior de tecnologia e sociedade. Segundo eles, “há uma competição global ocorrendo pela liderança da IA dentro de um cenário geopolítico cada vez mais complexo”.

Competição acirrada

O The Washington Post ressalta que essa nova postura coloca o Google em sintonia com concorrentes como OpenAI, Microsoft e Amazon, que já têm contratos com o Pentágono. Em dezembro, a OpenAI fechou parceria com a Anduril, empresa militar, enquanto a Anthropic associou-se à Palantir, fornecendo IA para as agências de defesa dos EUA.

A página atualizada de princípios do Google agora afirma que a empresa usará supervisão humana e buscará “mitigar resultados não intencionais ou prejudiciais”, garantindo conformidade com normas internacionais.

Da resistência à adesão

Em 2018, a empresa decidiu não renovar o contrato com o Pentágono no Projeto Maven, que usava IA para analisar imagens de drones. A decisão veio após milhares de funcionários assinarem uma carta afirmando que “o Google não deveria estar no negócio da guerra”.

O The Washington Post lembra que, na época, o então CEO do Google, Sundar Pichai, enfatizou que a IA deveria ser usada de forma ética. Agora, a empresa parece ter mudado de opinião.

IA e geopolítica

O movimento do Google acontece em meio à disputa global pela liderança em IA. Recentemente, a startup chinesa DeepSeek lançou um assistente de IA avançado, aumentando a preocupação dos EUA sobre uma possível perda de vantagem tecnológica.

Enquanto isso, Pequim anunciou uma investigação antitruste contra o Google logo após novas tarifas impostas pelos EUA à China. No centro desse embate, a gigante americana ajusta sua estratégia e reforça laços com o setor de defesa.

Sérvulo Pimentel

Sérvulo Pimentel