EUA e Brasil no xadrez militar: quem está no controle; oficial de ligação Brasil-EUA são aliados ou peças no tabuleiro geopolítico?

Oficial de Ligação Brasil-EUA: uma parceria que segue o roteiro de sempre
Os Exércitos do Brasil e dos EUA mantêm relações próximas há décadas, e isso não é novidade. Desde a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, quando enviamos 25 mil soldados para lutar na Europa, os laços militares entre os dois países se fortaleceram. Atualmente, essa parceria se traduz em uma série de exercícios combinados, intercâmbio militar, conferências e até operações conjuntas de paz e assistência humanitária. Mas, no fundo, é sempre a mesma dinâmica: o Brasil tentando se aproximar de uma superpotência e os EUA mantendo sua posição de liderança estratégica na região.
E é aqui que entra o papel do Oficial de Ligação. Criada em 2007, essa função visa garantir que o Exército Brasileiro mantenha uma presença ativa no USARSOUTH (o Exército Sul dos EUA). Trata-se do órgão que sobretudo supervisiona as operações militares americanas na América Central, Caribe e América do Sul. Atualmente, o cargo é ocupado pelo Coronel de Infantaria Sérgio Ricardo Reis Matos, que, desde julho de 2023, vem trabalhando na coordenação de exercícios conjuntos e intercâmbios doutrinários.
A realidade da cooperação militar – quem ganha mais com isso?
Na teoria, essa parceria beneficia ambos os lados, mas, na prática, sempre há um desequilíbrio. Os EUA têm um interesse estratégico muito claro na América Latina: manter sua influência e evitar que outras potências – como China e Rússia – avancem sobre a região. Para o Brasil, essa relação pode parecer vantajosa em termos de acesso a treinamento e tecnologia, mas sempre com limitações bem definidas.
A cada ano, cerca de 100 ações são acordadas entre os exércitos do Brasil e dos EUA, abrangendo treinamento, operações cibernéticas, engenharia e até relações públicas. Exercícios militares conjuntos, como SOUTHERN VANGUARD, PANAMAX e TRADEWINDS, servem para melhorar a interoperabilidade das tropas e alinhar estratégias de defesa. O Coronel Matos define essa parceria como essencial para a “confiança e entendimento mútuos”. No entanto, a questão que sempre fica no ar é: até que ponto o Brasil tem autonomia nessa relação?
Diplomacia militar ou dependência estratégica?
O discurso oficial fala em cooperação, integração e parceria, mas a geopolítica tem suas próprias regras. O Exército dos EUA investe pesado em manter sua rede de aliados, e o Brasil, mesmo tentando se projetar como um ator global independente, frequentemente se vê orbitando essa influência.
Relações como essa podem ser benéficas, mas também levantam questionamentos sobre soberania militar e autonomia estratégica. Em um cenário de crescente rivalidade entre Washington e Pequim, até que ponto o Brasil tem espaço para definir seus próprios interesses sem cair na velha armadilha de sempre seguir o roteiro ditado pelos grandes jogadores?
A função do Oficial de Ligação, como a do Coronel Matos, é fundamental para manter os canais de diálogo abertos. Mas, no fim das contas, a pergunta que precisa ser feita não é “O Brasil está cooperando?”. A questão correta é: “O Brasil está realmente no comando do seu próprio destino militar?”.