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Crise militar pode chegar com baixa de status dos comandos: salários reduzidos e falta de valorização da carreira afastam jovens das Forças Armadas

por Sociedade Militar Publicado em 16/02/2025
Crise militar pode chegar com baixa de status dos comandos: salários reduzidos e falta de valorização da carreira afastam jovens das Forças Armadas

As Forças Armadas brasileiras, com status em baixa diante da classe política e da própria sociedade, enfrentam um desafio crescente para atrair e reter talentos qualificados que ingressariam por meio de concursos militares. Com salários considerados baixos, aumento do tempo de serviço e desvalorização institucional, cada vez menos jovens enxergam a carreira militar como uma opção viável.

Salários pouco atrativos e aumento do tempo de serviço para os militares

Atualmente, um soldado do Exército ou da Marinha recebe pouco mais de um salário mínimo. Já um sargento, que ingressa na carreira após aprovação em concurso e conclusão do curso na Escola de Sargentos das Armas (ESA) de cerca de dois anos de estudos, inicia sua trajetória com um salário na faixa de R$ 4 mil. Mesmo após 20 anos de serviço, a remuneração dificilmente ultrapassa os R$ 8 mil.

Além disso, a recente reforma no tempo de serviço aumentou o período necessário para a reserva de 30 para 35 anos, e há discussões sobre novos aumentos. Essas mudanças impactam diretamente o interesse dos jovens em ingressar na carreira, especialmente em um momento em que o mercado privado oferece alternativas mais atraentes, com melhores salários e benefícios.

Tecnologia de ponta exige novos talentos chegando por concursos militares, evasão de cérebros preocupa

O avanço da tecnologia militar, com a incorporação de drones, inteligência artificial e guerra cibernética, demanda profissionais altamente capacitados. Entretanto, o Exército Brasileiro tem enfrentado dificuldades para atrair esses talentos, já que os salários e as condições de carreira não são competitivos em relação ao setor privado.

Enquanto a necessidade de especialistas cresce, a remuneração e a estrutura da carreira não acompanham essa evolução. Isso cria um paradoxo: a Força precisa de cérebros preparados para lidar com tecnologia de ponta, mas não consegue oferecer incentivos adequados para atraí-los e retê-los.

Desinteresse pelos concursos militares

Cada vez mais as redes sociais do Exército tem divulgado fotografias e artigos mostrando o Comandante do Exército Brasileiro, General Tomás Miné, participando de eventos em instituições de ensino das Forças Armadas, o que deixa obvia a preocupação crescente da força com o ingresso de novos soldados. A força terrestre chegou a investir nos últimos anos na criação de novos símbolos, que geram valorização e apreço pela carreira, como o espadim, entregue para os novos alunos da Escola de Sargentos das Armas.

A falta de valorização dos militares e incertezas sobre a carreira tem gerado um aumento expressivo nos pedidos de transferência para a reserva. O comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, revelou que esses pedidos cresceram oito vezes após o início do debate sobre mudanças na aposentadoria dos militares.

Além disso, o número de inscritos nos concursos militares tem caído drasticamente. Um levantamento recente feito pela Sociedade Militar mostrou que a quantidade de candidatos à Escola de Aprendizes-Marinheiros (EAM) caiu 58,47% em 2024 em comparação com 2017.

A Força Aérea Brasileira (FAB) também enfrenta um êxodo preocupante. Apenas no mês de fevereiro de 2025, já solicitaram baixa três médicos, um engenheiro e oito aviadores, incluindo um major. A debandada de pilotos, que recebem treinamento de alto custo, tem sido um dos maiores desafios para a manutenção da capacidade operacional da FAB.

Hoje na internet percebe-se um movimento inverso em relação ao que ocorria há alguns anos, existem coachs e influenciadores especializados em atrair jovens talentos das Forças Armadas para a iniciativa privada, estimulando-os a empreenderem ou migrar para outras carreiras.

Reajuste dos militares será insuficiente para recompor perdas

Para amenizar a crise, o governo reservou R$ 3 bilhões para conceder um reajuste de 9% aos militares das Forças Armadas até 2026. O aumento – que ainda não foi concretizado – será dividido em duas parcelas: 4,5% em abril de 2025 e mais 4,5% em 2026.

Entretanto, os próprios militares consideram o reajuste muito aquém do mínimo necessário para recuperar as perdas salariais desde o último aumento. As modificações na carreira feitas em 2019 trouxeram alguns reajustes, mas estes só alcançaram as altas cúpulas armadas, apontam sites especializados.  Dessa forma, o poder de compra dos militares da base continua a se deteriorar, contribuindo para o desânimo da tropa e a busca por oportunidades em outros setores.

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A baixa de status dos comandos militares

Além da questão salarial, as Forças Armadas enfrentam um cenário de despolitização forçada e redução de influência, o que pode levar a cortes de investimentos e menor relevância institucional. Ao longo dos últimos anos os comandos militares têm mantido dezenas de militares lotados dentro das casas legislativas justamente para estreitar as relações com deputados e senadores visando, atrair verbas e a boa vontade em questões do interesse das instituições. Mas, essa prática tem sido cada vez mais criticada e apontada como uma espécie de lobby militar.

Projetos em tramitação no Congresso e Senado também ameaçam direitos dos militares, como a restrição ao direito de se candidatar a cargos políticos e possíveis mudanças no tempo de serviço e previdência.

A combinação de baixos salários, falta de valorização e mudanças na estrutura da carreira coloca as Forças Armadas em uma encruzilhada. Sem reformas estruturais que tornem a profissão mais atraente, o Brasil pode enfrentar uma crise de efetivo especializado nos próximos anos, comprometendo a capacidade de defesa e operação das suas Forças.

Robson – Revista Sociedade Militar

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