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Caças como o Gripen são máquinas incríveis – mas sua produção é um pesadelo logístico; por que aviões militares podem levar até décadas pra ficarem prontos?

por Rafael Cavacchini Publicado em 10/02/2025 — Atualizado em 09/02/2025
Caças como o Gripen são máquinas incríveis – mas sua produção é um pesadelo logístico; por que aviões militares podem levar até décadas pra ficarem prontos?

Por que aviões militares como o Gripen demoram tanto para serem fabricados? A resposta curta é: porque nada neles é simples.

Se você acha que a fabricação de um avião militar é só pegar um punhado de metal, enfiar um motor e sair voando, sinto muito, mas a realidade é outra. Cada caça moderno, como o Gripen, é um pesadelo de engenharia, cheio de tecnologias absurdamente complexas, testes rigorosos e, principalmente, burocracia governamental. E tudo isso leva anos, às vezes décadas, para ficar pronto.

O JAS-39 Gripen, o caça multifunção sueco adotado pela Força Aérea Brasileira (FAB) como F-39 Gripen, é um bom exemplo disso.

Um avião que faz de tudo (E isso demora)

O Gripen não é apenas um caça. Ele é um caça, um bombardeiro e um avião de reconhecimento ao mesmo tempo. No entanto, essa versatilidade vem com um custo. Para conseguir realizar três missões distintas, a aeronave precisa de uma estrutura aerodinâmica avançada, aviônicos de última geração e uma logística de manutenção simplificada.

Caças como o Gripen são máquinas incríveis, mas com uma cadeia de produção extremamente complexa.
Caças como o Gripen são máquinas incríveis, mas com uma cadeia de produção extremamente complexa. Foto: SAAB / Divulgação

Um dos detalhes que tornam o Gripen tão ágil são os canards, aquelas pequenas asas na frente da entrada de ar. Elas ajudam a dar estabilidade extra e permitem que o avião realize manobras agressivas sem perder o controle. Além disso, o Gripen tem supercruise, ou seja, consegue voar acima da velocidade do som (1.224 km/h) sem precisar acionar o pós-combustor, economizando combustível e prolongando sua autonomia.

Parece um sonho, certo? Mas tudo isso precisa ser projetado, testado e integrado – e aí começa a demora.

Logística e burocracia: o inimigo invisível

O Gripen não é fabricado em um único lugar. Enquanto a SAAB, na Suécia, lidera o projeto, a produção das peças é distribuída entre vários países. O Brasil, por exemplo, está envolvido na fabricação de componentes e na montagem de algumas aeronaves. Isso significa que qualquer problema em um fornecedor pode atrasar o cronograma inteiro.

E não podemos esquecer da burocracia militar. Antes de um avião ser aceito para uso, é preciso passar por uma bateria de testes ridiculamente exigente. Um parafuso fora do lugar pode significar anos de revisões.

Tecnologia que muda o jogo (E que demora para ficar pronta)

O Gripen tem um truque na manga que faz muita diferença em combate: capacetes com mira integrada. Em caças mais antigos, o piloto precisava alinhar o HUD (Head-Up Display) para mirar no inimigo. Com o F-39, basta olhar para o alvo, e o míssil já trava automaticamente.

Isso significa que o inimigo pode estar em qualquer posição – e o Gripen ainda pode disparar e acertar. Esse tipo de sistema revolucionou os combates aéreos modernos, mas também exigiu anos de desenvolvimento e integração com o caça.

Gripen E da FAB voa ao lado de um F-5E Tiger.
Gripen E da FAB voa ao lado de um F-5E Tiger. Foto: FAB / Divulgação

Assim, é evidente que, projetar, testar e fabricar um avião como o Gripen não é como montar um carro. Cada parafuso precisa ser pensado, cada sensor precisa ser calibrado e cada linha de código do software precisa ser testada exaustivamente.

E se você acha que o Gripen demorou, pense no F-35 dos EUA, um projeto que começou nos anos 1990 e ainda tem problemas até hoje.

Então, da próxima vez que alguém perguntar sobre a demora na fabricação de aeronaves de combate, a resposta curta é: porque são complexas, caras e precisam funcionar perfeitamente quando a guerra começar.


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.