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As Forças Armadas, com o desenho de hoje, são capazes de proteger o país?

por Campos 22/02/2025
As Forças Armadas, com o desenho de hoje, são capazes de proteger o país?

Em entrevista concedida à Revista Sociedade Militar na última quinta-feira, 20 de fevereiro, a professora de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ, Adriana Marques, criticou o atual modelo de Defesa do Brasil.

Segundo a especialista, que é Doutora em Ciência Política pela USP e Mestra em Ciência Política pela Unicamp, no Brasil “as Forças Armadas estão muito voltadas para atividades domésticas e, em particular, que não são de natureza militar”. Haveria, portanto, carência de uma discussão de formulação de política de Defesa.

“Você não tem uma discussão sobre quais são os desafios que o Brasil enfrenta no âmbito internacional e de como você pode redesenhar as Forças Armadas a partir desse desafio internacional”.

Para a também professora colaboradora do programa de pós-graduação em Relações Internacionais da PUC-Rio, deve haver efetivamente uma discussão estratégica para se definir quais os meios necessários para dar resposta a um cenário geopolítico que passa por mudanças importantes, como a relação de Trump com a Europa. 

“Na discussão dos meios a gente teria que pensar: As Forças Armadas, com o desenho que a gente tem hoje, são capazes de proteger o país? Enquanto você não discute as etapas anteriores e tem uma política de Defesa que oriente isso, não adianta você fazer uma mudança de contingente militar, por exemplo”.

Marques criticou a ausência de especialistas em Relações Internacionais, Geopolítica e Diplomacia para a definição dos rumos do país na área da Defesa e o fato de os militares, segundo ela, fazerem as coisas “por conta”.

“Para fazer esse desenho, você tem que ter outra relação entre o poder político e as Forças Armadas. E aí, etapa por etapa, vai se discutindo e se desenhando. Porque, na verdade, as Forças Armadas são o instrumento do Estado. O Estado tem que pensar, o poder político tem que pensar, como essa política vai ser desenhada. No mundo ideal, ou melhor, na maioria dos países nos quais as Forças Armadas se espelham, é assim que acontece a definição da política de Defesa”.

Questionada sobre como avalia o governo do presidente Lula e o desempenho do ministro, José Múcio Monteiro, na área de Defesa, Adriana Marques afirmou que o Comandante Supremo do Exército, Marinha e FAB decidiu seguir o script de “fazer algum tipo de acomodação” com os militares, assim como todos os demais presidentes da República desde a redemocratização.

“Quando você tem um governo que tem uma política acomodacionista, não vai haver todo esse trabalho de base que eu falei. Então, evidentemente, isso é prejudicial para a política de Defesa”.

A segunda parte da entrevista será publicada em breve.