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Navio da vergonha: porta-aviões expõe crise militar e naval na Marinha da Rússia

por Alisson Ficher Publicado em 22/01/2025
Navio da vergonha: porta-aviões expõe crise militar e naval na Marinha da Rússia

O Admiral Kuznetsov, único porta-aviões da Rússia e símbolo do antigo poder naval soviético, continua acumulando atrasos que prejudicam sua reintegração à Marinha russa. Desde 2018, o navio está em processo de modernização, mas ainda não conseguiu voltar à ativa. Originalmente, ele deveria estar operacional em 2022. Porém, após novos atrasos, a data foi ajustada para o final de 2024.

Agora, mais uma vez, o cronograma não foi cumprido. Essa situação reforça a ideia de que a Rússia está cada vez mais longe de manter uma força naval forte e equipada.

Instalação de sistemas avançados no poderoso porta-aviões da Rússia

O plano inicial de modernização do Admiral Kuznetsov incluía a instalação de sistemas avançados de defesa aérea, uma nova planta de energia, reparos na catapulta e a adição de armamentos mais modernos. No entanto, o projeto enfrenta repetidos problemas técnicos, incêndios e falhas organizacionais, que impedem o avanço das obras. Publicações internacionais, como The Sun e The Telegraph, já afirmaram que o porta-aviões pode nunca mais voltar ao serviço. Essas avaliações destacam a vulnerabilidade da Marinha da Rússia, que corre o risco de se tornar “uma força naval sem porta-aviões”.

Incidentes constantes marcaram a história do porta-aviões da Rússia Admiral Kuznetsov

Construído em 1985 no estaleiro do Mar Negro, na Ucrânia soviética, o Admiral Kuznetsov enfrentou desafios desde sua criação. Após o colapso da União Soviética, o porta-aviões passou para a Marinha russa. Em 2016, ele foi usado em missões na Síria, onde realizou mais de 400 operações aéreas, atingindo cerca de 1.200 alvos terroristas. Porém, o navio ganhou fama negativa ao atravessar o Canal da Mancha, soltando uma densa fumaça preta. Esse episódio levou a mídia britânica a chamá-lo de “navio da vergonha”.

A modernização iniciada em 2018 trouxe ainda mais dificuldades. Em outubro daquele ano, o dique flutuante PD-50 afundou enquanto o navio estava em manutenção, deixando um buraco de 20 metros quadrados no convés. Pouco depois, em 2019, um incêndio causado por trabalhos de solda matou duas pessoas e feriu outras 14. Em 2022, outro incêndio ocorreu, mas, dessa vez, sem vítimas. Além disso, o estado precário dos motores do navio obriga a presença de um rebocador em suas raras viagens, caso ele perca a capacidade de propulsão.

Esses incidentes mostram a dificuldade da Rússia em manter e atualizar sua frota naval. Sanções internacionais, impostas após o início do conflito na Ucrânia, agravaram o problema ao dificultar o acesso a peças e tecnologias essenciais. A dependência de motores fabricados na Ucrânia, por exemplo, continua sendo um obstáculo significativo.

Índia e China ampliam suas capacidades navais

Enquanto o Admiral Kuznetsov permanece fora de ação, aliados da Rússia, como Índia e China, têm mostrado avanços significativos no desenvolvimento de suas forças navais. A China, por exemplo, transformou o casco do Varyag, adquirido da Ucrânia, no porta-aviões Liaoning. Reformado e lançado em 2011, o Liaoning se tornou um dos pilares da Marinha chinesa. Em 2024, a China realizou pela primeira vez uma operação conjunta com dois porta-aviões, o Liaoning e o Shandong, destacando seu crescente poder naval.

Na Índia, o porta-aviões INS Vikramaditya, adquirido da Rússia e modernizado em 2013, serve como o principal navio da Marinha indiana. O Vikramaditya liderou exercícios navais importantes, como os realizados com o porta-aviões italiano Cavour em 2024. Além disso, a Índia lançou o INS Vikrant, seu primeiro porta-aviões desenvolvido nacionalmente, fortalecendo ainda mais sua presença estratégica no Indo-Pacífico. Esses avanços mostram um contraste claro entre os aliados da Rússia e a própria Marinha russa, que ainda luta para manter o Admiral Kuznetsov em condições operacionais.

Futuro incerto para o Admiral Kuznetsov

Com sete anos de reparos e sem previsão clara para conclusão, o Admiral Kuznetsov se tornou um símbolo dos desafios da Rússia em modernizar sua força naval. A falta de motores substitutos, a dependência de tecnologias estrangeiras e as sanções internacionais dificultam ainda mais a conclusão do projeto. Especialistas questionam se o porta-aviões conseguirá voltar ao serviço, enquanto a Rússia enfrenta uma guerra prolongada na Ucrânia e perde influência global.

A ausência de um porta-aviões operacional enfraquece a capacidade da Marinha russa de projetar força no cenário internacional. Enquanto Índia e China seguem investindo e ampliando suas capacidades navais, a Rússia se encontra em uma posição vulnerável, sem os recursos necessários para competir no mesmo nível. O Admiral Kuznetsov, que já foi um símbolo de poder, hoje representa os desafios e as limitações de uma frota naval que luta para se manter relevante.

Alisson Ficher

Alisson Ficher