“Meus filhos, meus filhos”: tragédia na Faixa de Gaza destrói família nos minutos finais antes do cessar-fogo

Há algo de perverso nos últimos minutos de uma guerra. A promessa de um cessar-fogo deveria significar alívio, mas, para a família al-Qidra, significou um golpe devastador. Após 15 meses de bombardeios, fome e deslocamento, eles acreditaram que podiam respirar novamente. Talvez tenham acreditado que a vida normal, mesmo com todos os destroços emocionais e físicos, estava prestes a recomeçar. Não poderiam estar mais errados.
A volta para casa: um erro fatal
O cessar-fogo entre Israel e Hamas estava marcado para começar às 8h30. O anúncio circulou, mas, como tantas outras vezes, houve um atraso. Ahmed al-Qidra não sabia disso. Com os sete filhos em uma carroça puxada por burros, Ahmed seguia para Khan Younis. Era supostamente seguro. A guerra, teoricamente, havia pausado.
Mas, de acordo com reportagem da Al-Jazeera um míssil israelense atingiu o grupo. Os motivos? Um veículo próximo pode ter sido identificado como alvo. Talvez a presença de civis não tenha sequer sido considerada. O resultado: Adly, de 16 anos, e Sama, de seis anos, mortos. Ahmed também não resistiu. Hanan, esposa e mãe, que ficou organizando os pertences em outro local, ouviu a explosão. Ela sabia. Antes mesmo de ver, ela sabia.
Um detalhe cruel: tudo isso ocorreu minutos antes do cessar-fogo se tornar oficial. O atraso teria ocorrido porque o Hamas ainda não havia fornecido os nomes de três prisioneiros israelenses que seriam libertados como parte do acordo. O governo israelense, liderado por Benjamin Netanyahu, insistiu que isso justificava a continuidade dos ataques.
Para Hanan, esses detalhes políticos são irrelevantes. “Onde estava o cessar-fogo?”, ela perguntou, sentada ao lado da cama de uma filha ferida. Não há resposta. E não há lógica que justifique a morte de crianças naqueles últimos momentos de uma guerra já saturada de sangue.
A polêmica das últimas horas
Esse episódio não é um evento isolado, e talvez seja por isso que tantos se sintam cansados ao falar sobre o conflito entre Israel e Palestina. Não há lados puramente inocentes, mas há dinâmicas inegavelmente brutais. A morte de civis nas “últimas horas” antes de acordos de paz tornou-se quase um padrão em Gaza. Para muitos, isso seria um esforço final para “maximizar danos”.
A Defesa Civil de Gaza relatou que 19 pessoas morreram naquele curto intervalo antes do cessar-fogo se tornar oficial. Quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas? Essa pergunta ecoa em cada debate sobre o conflito, mas respostas concretas nunca vêm.
Agora, Hanan al-Qidra precisa encarar o que resta: filhos traumatizados, um lar destruído e sobretudo um vazio deixado pela perda de Ahmed, Adly e Sama. Seu desabafo é devastador: “Nós sobrevivemos mais de um ano dessa guerra, apenas para eles serem mortos em seus últimos minutos. Como isso pode acontecer?”
Enquanto Hanan tenta juntar os pedaços do que sobrou, é impossível não se perguntar: até quando esse ciclo de destruição vai continuar? E quem terá coragem de fazer algo para rompê-lo?